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(título gentilmente inventado pelo Filipe Faria)

Quantas e quantas vezes os fãs de BD ouvem a frase "isso é coisa de miúdos"? Pode acontecer quando estamos sossegados a ler na esplanada ou quando queremos sugerir algo e convencer que BD é Arte como outra qualquer. Às vezes, até dentro dos fãs de BD, existe a eterna divisão entre os que gostam de super-heróis ou da Disney e os outros que consideram que, uma vez mais, "isso é coisa de miúdos". 

Começo pelo princípio, onde todas as coisas devem começar. O desenho animado do Homem-Aranha da década de 60 estava a passar na TV portuguesa lá pelos finais dos anos 70. Eu não conseguia largar a TV quando estava no ar. Algum tempo depois, a Agência Portuguesa de Revistas lançava as Aventuras do Homem-Aranha e, por qualquer razão, só a apanhei no número cinco, que reproduzia o Amazing Spider-Man 156 americano.  Bastou folhear e ler, para ficar agarrado - na realidade foi o meu pai que ma leu, não me perguntem porquê, talvez eu gostasse da maneira como ele lia (parabéns Pai, pelo teu dia, agora que já não estás comigo e com a minha irmã). Assim começou. Tudo graças à Marvel, ao Homem-Aranha e, principalmente, aos autores Len Wein e Ross Andru.


Tenho participado de uma brincadeira no Facebook: enumerar uma BD por dia até 2020. Começou há alguns meses, e agora dou-me ao trabalho de aqui a reproduzir. Mostro, hoje, as escolhas desta semana, com link na imagem para o texto que escrevi sobre o livro, ou um nhónhózinho, caso ainda não tenha falado dele.

E, na recta final, BDs e leituras para todos os gostos e uma coisinha especial.

Uma BD aqui, outra BD ali, 23 - Homem-Aranha



Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! É um prazer que rezo para nunca acabar. De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Amazing Spider-Man (2018) número 1 de Nick Spencer, Ryan Ottley e Humberto Ramos (Marvel)


Dez anos é muito tempo. E é um sinal da idade quando parecem ter passado apenas metade deles. O escritor Dan Slott guiou os destinos da trupe do Trepador de Paredes durante uma década, marcando a personagem e, mais importante, uma geração de leitores, que se habituou à sua versão e apenas à sua versão. Alguns de nós que andam nestas andanças das leituras de BD há mais tempo têm outras visões - não somos nem melhores nem piores, somos apenas mais velhos. 

Uma BD aqui, outra BD ali, 16

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Amazing Spider-Man número 799 de Dan Slott e Stuart Immonen (Marvel)

O caminho inexorável para mais um histórico número do Homem-Aranha continua. Dan Slott, que escreve a personagem há 10 anos, está na recta final deste seu canto do cisne, Go Down Swinging. Neste (e a partir de aqui há spoilers), Peter Parker enfrenta o seu maior adversário, Norman Osborn, o Duende Verde. Esta é uma inimizade antiga, que já deu fruto a enormes tragédias, a maior das quais a morte de uma das namoradas do herói. O conflito tem sido explorado até às últimas consequências, ou assim o pensávamos.  Slott concebeu uma nova perspectiva ao aumentar o já significativo nível de ameaça que Osborn representa. O escritor fundiu-o a um outro vilão, o alienígena Carnage, um parasita de forma viscosa e tendências (ultra) psicopatas. Assim nasceu Red Goblin, cem vezes mais louco que o Duende Verde e 1000 vezes mais mortífero. Uma máquina de matar sem remorsos e perto do imbatível.

O nível de perigo foi apropriadamente aumentado para níveis ridículos. O vilão é invencível e maníaco, sabe a identidade secreta do nosso herói e a combinação destes dois factos só pode significar uma gigantesca dor de cabeça para o Homem-Aranha, que terá de fazer das tripas coração para salvar os seus e a própria pele. 

Como já o disse nesta rubrica, Slott está a recuperar de um certo e determinado arrufo que havia provocado com alguns fãs. O Homem-Aranha de Go Down Swinging é O Homem-Aranha. Colocado numa situação desesperada, Peter Parker evoca todas os seus recursos, não só como super-herói mas também como cientista e indivíduo. Ao mesmo tempo, o vilão, mais poderoso fisicamente, é uma espada de Damocles prestes a cair no mundo pessoal do herói, evocando tragédias passadas e preparando os leitores para uma possível nova. Sinceramente, não se deveria pedir muito mais de uma história do Aranhiço.

Action Comics número 1000 de vários (DC Comics)

Oitenta. É este o número de anos que acumularam-se desde que o Super-Homem viu, pela primeira vez, a luz do dia em 1938. É ele o arquétipo-base de todo um estilo literário. É ele o molde do qual nasceram todos os outros. Até o Batman

Ontem, a revista que o viu nascer atingiu o histórico número 1000, a primeira de toda a BD americana a chegar a esse histórico marco. Um momento tão importante teria de ser aproveitado de forma exemplar e única. Foram vários os artistas convidados para criar pequenas homenagens ao maior de todos os super-heróis. Todos trouxeram o melhor das suas habilidades para produzir pequenos elogios ao Homem de Aço. Como não poderia deixar de ser, o produto final depende da inspiração e do talento.

Tom King destaca-se. O escritor de títulos lendários como Batman, Mr. Miracle ou Vision consegue, uma vez mais, retirar da cartola um sentido e emocional elogio, desta vez ao Super-Homem. Coloca-o no futuro longínquo, nos últimos dias da Terra, para que deseje um último adeus a quem deu-lhe tudo o que ele é. King percebe, nestas simples cinco páginas tudo o que faz esta personagem: um homem, apenas um homem, com os poderes de um deus. 

Outros conseguem obras também relevantes, como a já costumeira parelha Tomasi/Gleason, que transportam o nosso herói para múltiplas evoluções de si mesmo. Ou Scott Snyder e Rafael Albuquerque, que escolhem focar-se na inimizade com Lex Luthor, o seu maior adversário. Também Paul Dini e o maravilhoso José Luis Garcia-Lopez fazem uma homenagem através de um outro dos vilões históricos do Super, ao ponto de parecer estarmos a ler uma história escrita por Alan Moore. Meltzer e Cassaday são parcimoniosos, e abordam os incríveis poderes desta personagem maior que a vida. 

Muitos outros juntaram-se à festa, mas, antes de terminar, terei de destacar a inauguração da sequência de histórias de Brian Michael Bendis, que aqui é acompanhado por Jim Lee no desenho. Bendis é quem escreverá o Homem de Aço no futuro próximo e a DC tem feito bastante questão de o publicitar aos quatro ventos. É ainda cedo para qualquer julgamento, nem que seja porque muito pouco é esclarecido. A descompressão e diálogos típicos do escritor estão lá e, claro, uma revelação bombástica (que de bombástico tem muito pouco porque já tinha sido revelada na net). Os fãs do Super-Homem querem que continue a ser o que ele foi neste últimos 80 anos. Seja bem-vindo Sr. Bendis e que nos dê o que de melhor o Homem de Aço é capaz. 

Uma BD aqui, outra BD ali, 14

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Action Comics número 999 de Dan Jurgens e Will Conrad (DC Comics)

Às portas do histórico número 1000 da mais antiga revista de super-heróis do mundo, aquela onde, em 1938, nasceu a mais importante personagem desse estilo, Dan Jurgens, também ele um histórico escritor e desenhista do Homem de Aço, oferece-nos uma coda para a sua segunda sequência de histórias com o Super-Homem. Ainda haverá um especial, mas este número tem um sabor diferente, um sabor a fim.

Jurgens é conhecido mais pelo seu trabalho que pelo nome. No número 75 da versão da revista do Super da altura (1992), foi o responsável pela mediática morte do maior de todos os super-heróis - fez capa do jornal O Público, entre outros. Bastou isso para entrar no panteão dos grandes que trabalharam no Homem de Aço. Regressou recentemente (em 2016) e parecia voltar a algumas velhas histórias e conceitos da sequência de histórias da década de 90. E se havia algumas dúvidas, este número 999 dissipou-as a todas.

O autor escreve uma carta de adeus disfarçada de enredo gordo: um vilão que ajudou a criar encontra um tipo de redenção; Lois Lane confronta-se filosoficamente com o pai; e o Super-Homem prova porque ser bondoso nunca deveria sair de moda. Não é um prodígio de escrita (Jurgens nunca almejou a essas alturas), mas funciona como uma forma elegante de despedir-se de uma personagem cuja História ajudou a escrever. Esta sequência teve muitos altos e baixos e, de uma forma geral, nunca excedeu o mediano. Contudo, o número 999 é surpreendentemente bom e um tributo elegante à verdadeira mensagem do Homem de Aço.

Amazing Spider-Man número 798 de Dan Slott e Stuart Immonen (Marvel)


A frase "just when I thought I was out... they pull me back in" é apropriada. A mais recente fase de Slott no Aranha não era do meu agrado (depois de 10 anos consecutivos a escrevê-lo). Peter era um homem de negócios de sucesso, o seu uniforme um prodígio tecnológico. Em suma, uma versão do Homem de Ferro. Não era o Trepador com que cresci, o de Lee/Ditko, de Lee/Romita, de Wein/Andru. Um Peter com problemas de dinheiro, cujo uniforme por vezes tresandava ou tinha de ser remendado. Os vilões eram mais que antagonistas, eram ameaças à sua vida pessoal, aos seus amigos, às suas namoradas (uma delas morre nas mãos do seu pior adversário, o Duende Verde). A vida de super-herói do Homem-Aranha era o oposto de glamorosa. No piadas que usava para lidar com os temíveis inimigos escondia-se um sofrimento e uma tragédia prestes a acontecer. A vida de Peter parecia estar sempre a um segundo de descambar numa irremediável hecatombe. E quando esta acontecia (e aconteceu várias vezes) a força dos seus princípios e do seu carácter impulsionavam-no a lutar mais um segundo com aquela réstia de força que afinal ainda tinha. Peter era o homem comum que sobrevive a tudo. Essa é e sempre será a verdadeira força do Homem-Aranha, provavelmente a melhor criação da Marvel.

Slott estava a guardar esta última saga para o final. É verdade que já tinha dado provas de que sabia lidar com a personagem mas, no que a mim diz respeito, parou de o fazer antes do Dr. Octopus tomar conta do corpo do Aranhiço (não que tenha sido uma fase que desgoste totalmente). O escritor escolhe focar o confronto entre Peter e o seu maior inimigo, Norman Osborn, o Duende Verde, que, nesta história, foi transformado numa ameaça ainda maior. Provavelmente a maior parte de vós já sabe do que se trata, mas não irei aqui estragar a surpresa a quem não navega sofregamente pelos sites de fãs de comics. A ideia por detrás desta ameaça é particularmente criativa e cria a expectativa de um confronto aterrador (a revelação da dita ameaça deixa o herói sem palavras, ou melhor, com umas poucas mas coloridas). Ao mesmo tempo, paira sobre a sua família e amigos um manto de tragédia. Digamos que deveremos esperar o pior do histórico número 800. Como já perceberam é assim que, para este vosso fã, se escreve uma história do Homem-Aranha.

Uma BD aqui, outra BD ali, 12

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Amazing Spider-Man número 797 de Dan Slott e Stuart Immonen (Marvel)

(com spoilers de números anteriores)

É por causa do Homem-Aranha que estou aqui. É por causa dele que escrevo sobre BD. É por causa dele que amo BD. 

Começou há quase 40 anos e não parou desde então. O meu apego à personagem é grande e é sempre com um peso no coração (que não deveria existir porque estamos a falar de alguém que não é real) que vejo quando os autores o desviam da essência do que eu acho que é uma história do Trepador de Paredes. Eu acompanhei a histórica sequência do escritor Dan Slott desde o seu começo, há 10 anos atrás. Parei quando decidiu transformar Peter Parker num CEO de sucesso, dono de uma empresa multinacional. Se calhar não deveria ter abandonado, mas tentei regressar pelo menos uma vez e as narrativas não me entusiasmaram (no fundo era só isso e existem tantas outras onde gastar dinheiro). Entretanto, aproxima-se o fim do trabalho de Slott no Aranha - irá acontecer no número 800 da revista Amazing Spider-Man (que leio desde o 157, versão portuguesa). Soube que Peter Parker já não era um CEO, que voltou a ter problemas de dinheiro e que o seu pior inimigo, Norman Osborn, fundiu-se com o maior psicopata da galeria de vilões do herói: Carnage. O meu interesse foi espicaçado para esta última grande celebração de Slott chamada Go Down Swinging, composta por quatro partes e que aparenta ser um clássico instantâneo.

Slott toca na perfeição todas as notas que escrevem uma boa história do Homem-Aranha. Uma ameaça, pessoal, tenebrosa e poderosa, espera nas sombras para cair sobre o seu mundo e sobre as pessoas que ama. Essa ameaça é Norman Orborn e Carnage, juntos numa entidade chamada Red Goblin. Sabemos que alguém poderá morrer no final destes quatro capítulos e a tensão desse medo é palpável. Sabemos que a resiliência de Peter Parker o ajudará, mas a tragédia é sempre uma constante espada de Damocles sobre a sua cabeça. Que mais é que o mundo colocará no seu caminho, depois de já tanta desgraça? Será que poderemos esperar por um pequeno, minúsculo, final feliz? Neste momento, é impossível saber. Apesar de as histórias de super-heróis serem conhecidas pela morte não ser definitiva, ainda assim somos arrastados pela tensão.

É com antecipação que leio esta última história de Slott (ou penúltima, já que haverá ainda uma no número 801). É com antecipação que quero que seja uma merecedora coda.

Savage Dragon número 232 de Erik Larsen (Image)

Provavelmente, um dia, Savage Dragon (SD) será a mais longa sequência de histórias de BD escritas e desenhadas de forma ininterrupta pelo mesmo autor. Esse título (penso) cabe a Dave Sim com o seu Cerebus, que durou 300 números.  SD não pretende atingir os níveis de intelectualismo (ou pedantismo, por vezes confundem-se) que esta última obra independente assumiu querer. Larsen deseja apenas uma BD entretida, hiperbólica, com muitas mamas, sexo, acção super-heroísta escabrosa e twists a torto e a direito. O estilo é o mesmo desde a primeira página do primeiro número da mini-série original e, fora um decréscimo de detalhe no desenho, assim tem sido há mais de 25 anos.

Um dos pormenores interessantes é que 25 anos no nosso mundo são também 25 anos na BD. As personagens envelheceram, casaram, tiveram filhos. Os filhos casaram e tiveram eles também filhos. No meio disso tudo existem os vilões e, ao contrário do que é costumeiro nos super-heróis, a morte tem o péssimo hábito de ser definitiva. Existe o "perigo real" de o leitor afeiçoar-se a uma personagem que Larsen, num assomo de fúria, mata no segundo a seguir - literalmente, já que a velocidade, crueza e surpresa dos acontecimentos é uma das marcas do seu SD. Convém vir preparado com um desfibrilador.

Neste número 232 continuamos a oscilar entre cenas da vida conjugal do filho do Dragon original, ele próprio com mulher e três filhos a viver em Toronto, uma dimensão paralela onde acompanhamos a mãe deste filho, agora uma vilã, e mais uns enredos paralelos. Tudo feito com a assinatura narrativa que descrevi acima. Tudo feito de forma divertida, descontraída e de leitura rápida (talvez rápida demais, isto será melhor em TPB). Em suma, uns cinco minutos bem passados ao custo de 3,99 dólares (pouco menos de 5€ numa loja portuguesa). A história acaba com dois twists interessantes que só fazem desejar pelo próximo mês. A ver onde isto vai dar!

Uma BD aqui, outra BD ali, 8

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Doomsday Clock número 3 de Geoff Johns e Gary Frank (DC Comics)

A BD que todos esperam, quer sejam dos que a odeiam ou a adoram, tem um terceiro capítulo. Geoff Johns e Gary Frank continuam a explorar a incursão do mundo dos Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons no universo de super-heróis da DC Comics. Esta história é, ao mesmo tempo, a continuação oficial desta lendária BD da década de 80 e um comentário à sua influência nos trinta anos que se lhe seguiram na 9.ª Arte dos EUA. Os escritores e editores absorveram a mensagem de desespero e pessimismo dos Watchmen e verteram-na de forma sôfrega nas histórias de super-heróis, sem perceber que este livro era um produto da época e, acima de tudo, da personalidade dos autores. Geoff Johns quer comentar esta influência mas também o actual zeitgeist nos EUA, com a eleição de Trump e a confluência de factores que o levaram à presidência. Paralelamente, não deixa de estar profundamente imerso no universo dos homens de collants da DC, procura avançar esta mitologia e corrigir erros de percurso. É uma tarefa difícil que, até este terceiro capítulo, está a conseguir suplantar. 

Desenganem-se se acham que acho que DClock está ao mesmo nível de Watchmen. Apesar de ser a sua continuação, o propósito e autores são outros. As comparações são completamente inevitáveis e não totalmente injustas. Mas, ao mesmo tempo, é contraproducente fazerem-nas. Neste novo capítulo, o enredo avança e, acima de tudo, as personagens são analisadas à lupa, quer na interacção com o enredo, quer umas com as outras. É possível ter a sensação que estamos a ler uma obra com intenções de entretenimento mas também de comentário sério ao mundo. Johns e Frank decidiram adoptar um calendário bimensal a partir do número quatro e não parece mal. Eles estão a jogar num outro campeonato e é na leitura de todas as páginas da obra que a sua prestação será julgada.


Amazing Spider-Man número 794 de Dan Slott e Stuart Immonen (Marvel)

Dan Slott escreve o Homem-Aranha há 10 anos e está, finalmente, a chegar ao fim. Começa aqui a próxima saga catastrófica na vida do trepador de paredes. As consequências serão sentidas nos próximos meses e nos anos que se seguirão - ou então o próximo escritor irá esquecê-las mal pegue nas rédeas. Quer se goste ou não trabalho de Slott a sua influência no passado e futuro da personagem é relevante. Faço parte da equipa que gostou do seu trabalho até determinado ponto e abandonou-o quando achava que tinha excedido as boas-vindas. A mais recente fase do Peter Parker dono de uma multinacional tecnológica desmotivou-me - para mim ele tem que ter sempre problemas de dinheiro. Não o lia há algum tempo e fiquei surpreendido que, entretanto, Peter perdeu a fortuna e voltou aos dias de mendicidade. Acabou-se o uniforme versão Homem-de-Ferro e irá agora ser envolvido num enredo que trará de volta inimigos de longa data. 

A ideia-twist da última página parece interessante e apenas os próximos meses dirão se será muito mais que isso. Por enquanto, estou agarrado para ler os próximos capítulos. O Homem-Aranha foi a personagem que introduziu-me à BD. O apego emocional ao passado da personagem é muito grande - o trabalho de Lee/Ditko, Lee/Romita, Kane, Andru, Conway, Wein, etc, são referências da 9.ª Arte. Apesar de saber que é impossível regressar a esses primeiros tempos, em cada nova saga da vida de Peter Parker, espero sempre, estupidamente, por momentos nostálgicos. Vamos ver se Slott consegue acabar em alta uma sequência de histórias que já ia longa de mais. 

Uma BD aqui, outra BD ali, 2

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Doomsday Clock número 2 de Geoff Johns e Gary Frank (DC Comics)

Esta é daquelas BDs onde os apreciadores dividem-se. Escrita por Geoff Johns e desenhada por Gary Frank, é uma assumida sequela da "maior BD de sempre", os Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons. Este tipo de genealogia leva a que seja necessária uma enorme coragem - ou um gigantesco ego -  para prosseguir com a intenção. DClock vem também na senda do conceito-chapéu do universo de super-heróis da DC, DC Rebirth, iniciado em 2016 pelo próprio Johns e que tem como intenção reabilitar a esperança e a luminosidade dos homens de collants da editora. Assim sendo, esta mini-série de 12 números junta o universo distópico e realista dos Watchmen com a fantasia dos super-heróis DC, procurando uma análise de ambos à luz de cada um deles. Se os Watchmen eram uma reflexão, entre outras, sobre o que significa o conceito de super-herói, usando, para isso, arquétipos baseados no Super-Homem, no Batman, na Mulher-Maravilha, este DClock junta a matéria prima original com os análogos para uma análise meta-textual de ambos. Vou ser claro, Geoff Johns e Gary Frank não são Moore e Gibbons e esta mini-série não parece querer trilhar a mesma complexidade temática. Não é também - e de todo - só entretenimento, seguindo uma via mais reflectida e filosófica que espelha as preocupações dos autores. Por outro lado, Johns parece querer tecer uma complexa tapeçaria para o Universo DC, o que se pode depreender pelas quatro páginas de texto de noticias que fecham este segundo capítulo. É uma ambição interessante e cativante que, se der os frutos certos, poderá transformar este DClock numa obra seminal. A qualidade global desta história será difícil de avaliar antes da última página, o que acontecerá apenas daqui a dez meses, mas estamos num excelente começo. Até lá, mal posso esperar por cada novo número do que espero ser uma obra que, não sendo os Watchmen, fique, pelo menos, na sua sombra - o que não é um mau lugar onde se estar.

Hawkman Found número 1 de Jeff Lemire e Brian Hitch (DC Comics)

Não sei qual a razão porque gosto tanto do Hawkman. Será por causa de uma BD que li há muitos anos, The Shadow War of Hawkman, ou da sequência de histórias de Geoff Johns? Exista algo na mitologia da personagem que me atrai. O arqueólogo-guerreiro, o super-herói com asas ao estilo Conan, a história de dois amantes destinados a morrerem e ressuscitarem eternamente. Eu acho que acho que isto é material de primeira para um grande filme. E para uma fabulosa BD. Fiquei com pena que Johns tivesse abandonado a sua história a meio e adorava que James Robinson (do maravilhoso Starman) o escreve-se (com Rags Morales a regressar ao desenho do herói). É daquelas personagens que a DC possui no seu catálogo e que é repetidamente mal aproveitada - leia-se, mal escrita. Pode ser que seja desta. Hawkman é peça central da saga Dark Nights - Metal, de Scott Snyder e Greg Cappulo, e este especial procura dar algumas respostas (spoiler) à última página do número quatro dessa série. Infelizmente, apesar de bem executado pelos autores, respostas não são muitas. Não é de estranhar. Snyder já repetiu que toda a história está contida nas páginas da sua série (o que me parece muito bem). Apesar de ser um número apenas razoável mas bem feito, fica a esperança de que Hawkman venha a ver melhores dias, nas mãos de autores capazes de o levar às alturas (pois, estava mesmo a pedi-las) que ele merece.

Spider-Men II números 1 a 5 de Brian Michael Bendis e Sara Pichelli (Marvel)


Esperei que tivessem saído os cinco números desta mini-série para a ler de uma assentada, o que fiz em menos de trinta minutos - acho que alguns autores e editoras exageram na síntese (não que a qualidade se meça ao metro de palavras). É a sequela de uma primeira que une as duas personagens que actualmente usam o nome de Homem-Aranha no universo da Marvel: a versão que todos conhecemos e amamos, Peter Parker; e a criada  por Bendis, Miles Morales. Miles vem de uma terra paralela que, entretanto, fundiu-se com a "nossa" (sim, super-heróis é isto). Essa outra Terra fazia parte de uma linha editorial da Marvel que começou no início do século XXI chamada Ultimate e que procurava cativar novos leitores ao reiniciar a história do Homem-Aranha, dos Vingadores, dos X-Men, do zero, com novas versões e novas histórias. O trepa-paredes foi exclusivamente escrito por Bendis (sim, desde há 17 anos). A início era uma versão de Peter Parker mas, entretanto, morreu e foi substituído por Morales. As duas terras fundiram-se no evento Secret Wars e agora coexistem no mesmo universo (agora voltem a ler isto sem se rirem). Esta mini-série parece servir vários propósitos e todos ligados ao legado de Bendis na Marvel. Independentemente de se gostar ou não, este autor marcou o século XXI da editora, com histórias, conceitos e personagens que oscilaram entre o entusiasmante e o sofrível. Dois deles foram, sem dúvida, o Homem-Aranha Ultimate e o universo onde estava inserido. Antes de sair para a DC, o escritor parece querer deixar alguma arrumação na casa e uns presentes-surpresa aqui e acolá. As últimas páginas de Spider-Men II são exactamente isso. Abre portas que se julgavam fechadas e deixa o trabalho para os que quiserem aproveitar. 

De resto, é uma união de dois personagens ímpar, num confronto pessoal mas, em última análise, redundante. Muito mais interessante é o tratamento que Bendis faz aos antagonistas, dedicando-lhes um capítulo inteiro para explicar motivações, personalidades, etc. Esses, sim, são os verdadeiros heróis desta mini-série. Quem lê e gosta da mitologia da Marvel é obrigado a ler esta história. Os outros poderão encontrar interesse nos vilões mas pouco mais.

Spider-Man Homecoming (Homem-Aranha: Regresso a Casa) de Jon Watts

Vou tentar ser objectivo mas não sei por onde começar. Sou fã de BD desde tenra idade e comecei exactamente pelo Homem-Aranha. A paixão que ainda alimento iniciou-se com a revista Amazing Spider-Man número 156 feita pelo talento de Len Wein e Ross Andru. Ultimamente estou separado desta personagem. As actuais histórias em BD não me atraem e prefiro, quando posso, regressar aos clássicos. Gosto do trabalho dos criadores Stan Lee/Steve Ditko e tenho a certeza que tudo o que interessa saber sobre o alter-ego de Peter Parker está descrito nessa sequência de histórias. Outros autores seguiram-nos com mais ou menos sucesso e tantos deles li com gosto. Hoje não o faço.

Esta versão de Jon Watts é a terceira tentativa em trazer para o grande ecrã o Trepador de Paredes. Desta vez, o actor é Tom Holland e a Sony e a Marvel fizeram uma parceria para incluir o Homem-Aranha no Universo Cinematográfico da segunda, universo esse que é um sucesso de espectadores e receita. A personagem já havia sido introduzida no Captain America: Civil War e agora é a vez de ser protagonista de mais um filme com o seu nome. 

Cinematograficamente, o filme segue o molde que a Marvel tem cultivado desde o primeiro Homem de Ferro. Ser Jon Watts ou um outro realizador é completamente irrelevante. O dedo de artista é controlado pela mão da máquina Marvel/Disney. Existe uma mensagem e uma imagem que quer transmitir-se e ela é limpidamente transmitida. Volto a dizê-lo: tirando honrosas excepções (Guardiões da Galáxia) os filmes da Marvel parecem uma longa sequência sem interrupção. As mesmas cores. A mesma luminosidade. O mesmo estilo de argumento. O mesmo humor. Também neste a fórmula é seguida à risca. O que faz com que seja mais do mesmo. 

Tom Holland é um bom Homem-Aranha, divertido, solarengo, ao estilo de um determinado molde da personagem. A versão que aparece faz lembrar uma mais recente da BD, a do escritor Brian Michael Bendis, mas sem perder referências basilares. Existe o lado do excluído, o do sacrifício, o do super-herói do homem comum, com problemas e dificuldades. Contudo, não totalmente. Este Peter Parker não é o Peter Parker de Lee e Ditko. Existe um lado de integração no limite de acontecer. Talvez sublinhado pela ligação ao Homem de Ferro. Talvez por não serem visíveis enormes dificuldades na vida deste Homem-Aranha. A bem ver, ele tem um fato fornecido por Tony Stark munido de uma parafernália de tecnologia que faz um iPhone parecer uma ferramenta do neolítico. O Homem-Aranha não deveria ter a vida facilitada por tecnologia futurista. O Homem-Aranha não deveria ser uma versão adolescente do Homem de Ferro.

E cheguei ao meu ponto. O filme é divertido, cheio de acção, mas este não é o meu Homem-Aranha. Existe algo da sua alma, como já o disse, mas, a meu ver, falta muito do que faz esta personagem uma das mais interessantes da mitologia dos super-heróis. Tom Holland é um Homem-Aranha mais interessante que Toby Maguire mas este filme não é melhor que os dois primeiros de Sam Raimi. E digo-o incluindo um dos mais interessantes vilões do Universo Cinematográfico da Marvel (apenas superado por Loki). O Abutre de Michael Keaton é um passo na direcção correcta para a produtora resolver o seu problema de adversários dos super-heróis. Este não é um boneco sem espessura dramática, apesar desta versão do vilão não ter rigorosamente nada a ver com a original da BD. O arco narrativo que o envolve é dos mais relevantes neste filme e um dos mais adultos da Marvel. Mas o cerne é o Homem-Aranha e este não é o meu.

A parceria Marvel/Sony quis levar o Homem-Aranha noutra direcção. Não quis repetir a fórmula das duas tentativas anteriores. Vai resultar em termos de bilheteira. Contudo, no que a mim diz respeito, não funciona.

PS - Será que numa quarta iteração do Homem-Aranha a Tia May será uma adolescente?
PS 2 - Tentei ser objectivo e falhei redondamente.

Colecção Salvat Graphic Novels da Marvel, volume 43 - Ultimate Homem-Aranha

ULTIMATE HOMEM-ARANHA: A MORTE DO HOMEM-ARANHA
Argumento de BRIAN MICHAEL BENDIS, arte de David LaFuente & Mark Bagley

Seis dos mais perigosos inimigos do Homem-Aranha - Norman Osborn, o Dr. Otto Octavius, Electro, Kraven o Caçador, o Homem-Areia e o Abutre – escaparam à custódia da S.H.I.E.L.D. Unidos pelo seu ódio ao Aranha, este grupo sinistro está determinado a fazer Peter Parker pagar por todas as derrotas que ele lhes infligiu. E com as pessoas que ele mais adora na mira dos vilões, o Homem-Aranha poderá ter de fazer o derradeiro sacrifício para deter os criminosos de uma vez por todas.” 

Ultimate Homem-Aranha foi uma das mais ousadas experiências da Marvel, concebida por Bill Jemas e Joe Quesada, à qual o argumentista Brian Michael Bendis e o artista Mark Bagley deram forma ao longo de muito tempo: planeada para ser uma série limitada que atualizasse as origens do Aranha para a idade moderna, acabou por tornar-se em muito mais que isso. Ao longo dos seus 10 primeiros anos, Ultimate Homem-Aranha reinterpretou grande parte do elenco da série original – tanto vilões como aliados – e introduziu uma série de novos conceitos. No entanto, depois de mais de 150 números, tinha chegado a hora do Ultimate Peter Parker pendurar os seus lança-teias. E a história com que os autores decidiram tornar isso em realidade, foi uma história da morte do Aranha...

Diz o escritor, Bendis: “...Um dia, olhámos para a linha Ultimate e pensámos: ‘OK, de que histórias estamos mais orgulhosos?' ...E eram todas histórias que não eram adaptações Ultimate de histórias clássicas da Marvel... Eram momentos que não tinham sido criados no Amazing Spider-Man [o título original do escalador de paredes]... No seguimento daquela conversa, questionámo-
nos: ‘Que outras histórias nunca puderam ser contadas em Amazing Spider-Man?’ E a maioria delas envolviam a morte do Peter e deixar outra pessoa tornar-se o Homem-Aranha.... Outro elemento era que o Peter não tinha sido capaz de salvar o tio Ben, mas ao morrer a tentar salvar a tia May, então esse círculo ficaria completo... Tínhamos uma personagem que, apesar da morte trágica, não tinha uma vida trágica.

Mas embora o destino de Peter estivesse determinado, isso não significava necessariamente o cancelamento do título Ultimate Homem-Aranha. Longe do olhar dos fãs, um novo herói estava à espera nos bastidores, pronto para assumir as responsabilidades do Aranha (alguém que o leitor irá descobrir num próximo livro, no volume 52 desta coleção). Mas por agora, é hora de nos despedirmos de Peter Parker, que vai aprender uma lição final e desoladora sobre poder e responsabilidade.

Inclui dossier sobre o escritor e o desenvolvimento da história, e uma extensa galeria de capas.

Volume 43: A MORTE DO HOMEM-ARANHA
Argumento de BRIAN MICHAEL BENDIS, arte de DAVID LAFUENTE & MARK BAGLEY
Este volume reúne os números 153 a 160 da revista Ultimate Spider-Man (vol. 1).
208 páginas.



 

Colecção Salvat Graphic Novels da Marvel, volume 42 - Venom

VENOM
Argumento de RICK REMENDER e arte de TONY MOORE

“O antigo fuzileiro ‘Flash’ Thompson sacrificou tudo pelo seu país. Agora, Flash foi escolhido pelas Forças Armadas norte-americanas para um projeto secreto, a Operação Venom - um simbionte alienígena capturado, que já foi um dos mais mortíferos inimigos do Homem-Aranha. Terá ele a força mental para usar o parasita para o Bem, ou estará destinado a ser mais uma vítima dos sombrios desígnios do fato?” 

O Venom é a antítese de tudo o que o Homem-Aranha representa, e possivelmente o oponente mais emblemático do cabeça de teia. Mas este monstro perverso é mais do que um mero psicopata viscoso com mais dentes do que uma moto-serra. O facto de Venom ser uma criatura simbiótica, que precisa de um hospedeiro para sobreviver, deu a legiões de escritores imensas oportunidades para expandir a personagem e fazê-la evoluir para novas formas. E para a última encarnação de Venom, o escritor Rick Remender arranjou uma abordagem claramente diferente sobre o que o simbionte pode ser, apesar de essa abordagem manter a luta entre homem ou monstro/herói ou vilão no centro da história. Ex-alcoólico, e agora paraplégico veterano de guerra, Flash Thompson é uma escolha brilhante como hospedeiro para o monstro, com a sua luta interna contra o vício, a depressão e as responsabilidades familiares a refletirem-se na sua outra luta, em “missão” contra a monstruosa influência do simbionte. 

Rick Remender é um dos argumentistas da nova vaga de escritores de comics que tanto renovaram o universo da Marvel, e não só. Depois de uma carreira a escrever para animação, e para projetos independentes, Remender viria a lançar alguns títulos pessoais na Image que obtiveram bastante sucesso crítico. A partir do final da primeira década dos anos 2000, o seu trabalho na Marvel começaria a tornar-se muito visível, com séries importantes como Punisher War Journal (com Matt Fraction), Uncanny X-Force ou Capitão América: Perdido na Dimensão Z. Remender obteve também grande sucesso com algumas das suas séries independentes na Image, como Deadly Class, Black Science ou a mais recente Seven to Eternity.

Quanto à arte deste volume, Tony Moore faz um trabalho espantoso ao transpor o argumento de Remender para a página. O seu estilo humorístico sombrio é perfeito para o mundo retorcido e horrível em que Venom habita, e não é por acaso que ele é um dos mestres da BD de terror atual, como primeiro desenhador de The Walking Dead e autor de muitas outras séries independentes, de entre as quais salientaríamos Fear Agent (também com argumento de Remender).


Volume 42:  VENOM
Argumento de RICK REMENDER e arte de TONY MOORE
Este volume reúne os números 1 a 5 da revista Venom.
120 páginas.




BD é salada russa.

Crossovers de personagens da Marvel e da DC Comics que poderiam ter acontecido mas, infelizmente, ainda não aconteceram. 

Desenhos de John Byrne.

Mulher-Maravilha original e Capitão América.


Batman e Asa Nocturna vs Capitão América, Demolidor e Punho de Ferro.


Super-Homem e Batman vs Homem-Aranha e Wolverine


Liga da Justiça (espécie de versão da década de 70) vs Galactus.


BD é conselho para a vida.

"With great power, there must also come great responsibility." - narração de Amazing Fantasy , volume um, número 15, escrita por Stan Lee (primeira aparição de Peter Parker / Homem-Aranha)

Desenhos de Homem-Aranha por Erik Larsen (com uma ajuda de Todd McFarlane no último).





O Sócrates seria um grande escritor de BD.

Sócrates deveria ter escrito Banda Desenhada.”  ― Mark Waid

Peter Parker e Mary Jane Watson

Primeiro quadrado: the Amazing Spider-Man, volume 1, número 42, desenho de John Romita Sr. e palavras de Stan Lee
Segundo e terceiro quadrados: Interpretações de Steve Rude


Depois destas, o mundo não seria mais o mesmo.

"Face it, tiger... you just hit the jackpot!" - Mary Jane Watson no Amazing Spider-Man, volume 1, número 42, escrita por Stan Lee.

Capas de the Amazing Spider-Man, volume 1, números 156 e 157, de Maio e Junho de 1976,  desenhos de John Romita Sr.


Crónica A Minha Primeira Comic Con em Portugal


A "marca" Comic Con existe nos EUA há várias décadas. Como é do conhecimento geral, a palavra Comic é a designação oficial para Banda Desenhada em terras estado-unidenses. As Cons, por seu lado, não são mais que conferências, reuniões entre fãs e artistas, produtores, editoras, etc. Ou seja, um ponto de encontro entre os que ou amam, ou gostam ou têm apenas curiosidade pela Arte, e aqueles que a produzem. Porque estamos a falar de algo criado por norte-americanos, estamos também a falar de algo com um sabor muito especial, regional se assim quisermos. Há extravagância, envolvimento, comércio, uma partilha comunal em volta de uma Arte que, para muitos, é também um modo e filosofia de vida.

Pela primeira vez apareceu em Portugal uma Comic Con e tive o prazer de comungar no Sábado, dia 6 de Dezembro de 2014, com 32 mil outros loucos nesta celebração que não se cinge apenas à BD, mas extrapola-se para outras Artes da cultura dita popular (Pop para quase toda a gente): cinema de género; Séries de TV; jogos de computador; etc.

Confesso que fiz parte dos cépticos quanto à capacidade de Portugal ser palco de um evento deste género. Faz parte da genética do país desconfiar da nossa capacidade de organização e da nossa vontade de adesão. É um fado e uma tragédia (passo o pleonasmo) que nos persegue e que faz de nós aquilo que somos. Dito isto, dizer que fiquei agradavelmente surpreso com a dimensão e qualidade do evento é ser, no mínimo, eufemístico. Estava a pensar numa festa de vão de escada e sai-me uma rave no Mosteiro do Jerónimos. 

Como disse anteriormente, fui apenas no Sábado. Não me arrependo e fiquei com o sabor apurado para os anos que se seguirão. Entrei à tarde no recinto e dirigi-me imediatamente para o painel que tinha vontade de ver: Brian K. Vaughn e Marcos Martin a falar da sua nova BD digital, Private Eye. Enquanto caminhava para o dito evento apercebi-me de enormes filas para entrar em outros painéis e depressa comecei a aperceber-me que as minhas expectativas baixas poderiam ter sido  fruto do código genético. A muito esperada "conversa" com Vaughn e Martin foi tudo o que eu poderia esperar mas com sabor a casa. A plateia, não estando a abarrotar, estava devidamente composta. Falou-se  da dita colaboração entre os dois, do futuro da BD, do conflito entre o papel e o digital, de trabalhar para a Marvel e a DC versus ser independente, etc. 

Acabado o painel, era "urgente" encaminhar-me para a área de autógrafos para recolher uma pequena assinatura de Vaughn, Martin e Carlos Pacheco (este último conhecido por trabalhos nos Vingadores, X-Men, Quarteto Fantástico, etc.). Do primeiro autografei o primeiro volume de Y: The Last Man e também o primeira compilação da minha BD favorita da actualidade, Saga. Do segundo, o seu primeiro trabalho no Homem-Aranha e do terceiro os seis primeiros números de Avengers Forever. Missão cumprida sem soluços, de forma ordeira e sem stresses. 

Segue-se o périplo pelo recinto e a surpresa pela dimensão consolidou-se em granito (pedra apropriada à zona do país, para quem não está dentro destas coisas da geomorfologia). Gente e mais gente e mais gente em deleite completo numa enorme catedral dedicada à religião da cultura popular. Uma das maiores e mais deliciosas celebrações residiu na forma dos dedicados cosplayers, que enfeitavam com tons de carnaval e amor o espaço, gritando aos sete ventos o que, porventura, já guardavam à anos.  

Todos se passeavam e amontoavam, os olhares roubavam maravilhas. A zona comercial era vibrante. Os visitantes amontoavam-se a comprar tudo desde livros, a DVD's, a porta-chaves, algo que envergasse a imagem ou o símbolo dos seus personagens favoritos, daquela cultura que, secretamente, sorviam no sossego do quarto ou da sala. Tive ainda a sorte de encontrar um outro ídolo da BD, Miguelanxo Prado, que me fez um desenho e uma dedicatória em Árdalen (ficou apenas a faltar Pia Guerra que, apenas por preguiça,  não consegui). Dificilmente poderia ter-me corrido melhor.

Obviamente que um evento desta dimensão e que é organizado pela primeira vez em Portugal terá de ter os seus soluços, os seus problemas mas, sinceramente, na minha experiência eles não aconteceram. Antes vi apenas um sucesso de adesão, algo que, dificilmente, se vê em Portugal a não ser em feiras gastronômicas ou de noivos. Apenas posso ficar maravilhado com a quantidade de outros como eu, assoberbados por uma paixão (claro que nem todos  os visitantes e, se calhar, nem a maioria). Curiosamente, fez-me lembrar de outro evento, o MoteLx, festival de cinema de terror em Lisboa. De facto, a cultura geek, popular - tudo termos que não aprecio, mas adiante -, estas Artes... estão a tomar conta do mundo. 

Há algo de primordial nisto. Um regresso aos personagens maiores que a vida, fantásticos, que nos transportam para mundos que não existem mas cujas lições e psicologia são mais reais que muitas outras histórias.  Homero estaria orgulhoso.

PS - Estive várias vezes na Comic Con de Nova Iorque e posso afirmar que não me senti, nem por um segundo, envergonhado pelo que vi. Parabéns, Portugal.

PS II - O Porto é a cidade perfeita para este evento. E olhem que sou ferrenho lisboeta. A proximidade a Espanha mais do que justifica que a Comic Con continue a fazer-se aqui.


Coleção Levoir/Público Marvel 2014 – 15.º Volume: Contos de Fadas Homem-Aranha e Vingadores

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)

Grau de acessibilidade: Fácil

Sai amanhã, Quinta-feira, dia 16 de Outubro, junto com Público e custa 8,9€

A Marvel gosta de experimentar com outros géneros para além do dos super-heróis mas de uma forma muito particular. Para a larga maioria das aventuras fora da "zona de conforto" utiliza os seu catálogo de personagens e coloca-os em mundos diferentes. Reescreve a mitologia de cada um mas sem esquecer a batida que rege o ritmo dos seus heróis. Mesmo as experiências mais "radicais", geralmente não tem coragem de esquecer de utilizar ou o Homem-Aranha, ou o Quarteto Fantástico ou os Vingadores, por exemplo. Mesmo personagens que cria e que muitas vezes não têm cabimento na larga tapeçaria dos super-heróis, acabam por ser incorporados por ela. A necessidade de criar um todo coeso algumas vezes suplanta o bom senso e a criatividade. Digamos que é um modelo de negócio.

Neste contexto, temos este novo volume da Levoir que, digo desde já, nunca tive a oportunidade de ler. Desconheço de todo a qualidade que imagino ser boa, ademais tendo o contributo de artistas portugueses como João Lemos e Nuno Plati, um dos grandes atractivos deste novo livro da colecção, mesmo a tempo do Festival de Banda Desenhada da Amadora. Parece-me uma excelente aposta desta editora, ao contextualizar o mais recente lançamento da colecção Marvel 2014 neste festival, podendo abrir o apetite  a públicos de diferentes proveniências, públicos que raramente colocariam os olhos nos títulos ditos "normais" da editora americana de super-heróis. 

A escolha de dois nomes conhecidos como  Homem-Aranha  e Vingadores só poderá contribuir mais ainda para a fácil percepção. São ícones que, cada vez mais, têm um forte apelo para o público em geral, pelos filmes que têm sido um sucesso. A editora têm sido mestre na capacidade de vender o seu catálogo em diferentes media, revelando uma extraordinária capacidade de adaptação aos tempos modernos. A Banda Desenhada continua a ser o canto mais importante de produção de histórias originais mas a editora consegue exportá-la com sucesso e criar o gosto em diferentes públicos. Num mercado cada vez menor da BD é um importante método de sobrevivência. Os fãs de longa data ao mesmo que tempo que agradecem vivem com algum receio. Contudo, quando vejo que começam a aparecer outra vez crianças e adolescentes a ler BD, só posso ficar feliz. Espero que por muito tempo.

Epic Collection: The Amazing Spider-Man, Great Power por Stan Lee e Steve Ditko


Dificilmente uma BD de maior importância histórica sairá em Outubro - bem... talvez também a que comemora os 50 anos da Mafalda. A Banda Desenhada já deu ao mundo personagens intemporais que tornaram-se conhecidos pelo mundo inteiro. Poucos são aqueles que nunca ouviram falar do Astérix, Tintin, Super-Homem ou Batman. No início da década de 60 surgiriam, pela imaginação de uma mão cheia de criadores da editora Marvel, mais uma multitude de outras personagens. Destas destacou-se o famoso Homem-Aranha e o seu alter-ego Peter Parker. O impacto deste personagem é sentido nos dias de hoje, por ter materializado aquela que, anos mais tarde, viria a ser conhecida como a Revolução Marvel. Essencialmente, graças aos talentos de Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko (a santíssima trindade), foi introduzido dinamismo, modernidade e humanidade nos super-heróis, cujo arquétipo ainda se confundia com aquele criado nos finais da década de 30 com o Super-Homem. Estes eram essencialmente forças de fazer o bem, quase divinos e donos de características supra-humanas, quer físicas, quer de carácter. O que estes três artistas fizeram foi desenvolver o super-herói com falhas humanas e não um ideal Apolónio de perfeição.

Na Segunda Grande Guerra estes ideais eram necessários. O mal que se combatia além-fronteiras obrigava a personagens que fortalecessem a moral dos combatentes, seres que resolvessem facilmente aquilo que custava vidas e sangue a conquistar. Na década de 60, na sequência do McCartismo, da era atómica e da guerra fria, os americanos, apesar de ainda munidos de um exuberante optimismo (que só na de 70  seria seriamente abalado), estavam preparados para pés de barro nos seus heróis. Capazes de perceber este zeitgeist e fartos da luz incandescente do Super-Homem e família, Lee, Kirby e Ditko estavam preparados para introduzir no mundo um novo paradigma e novos arquétipos. Surgiriam o Quarteto Fantástico, os primeiros, e seguir-lhe-iam as pegadas o Hulk, Thor, Homem-de-Ferro, Vingadores e aquele que seria o maior deles todos, o Homem-Aranha.

Tudo o que escrevi nos dois parágrafos anteriores cristaliza-se em Peter Parker/Homem-Aranha. Já muitos ouviram falar de que, para este personagem, ser um super-herói não era a vida de rosas que para outros era. Raramente chegava ao fim do dia com uma vitória clara. O termo Vitória de Pirro deveria ser reequacionado. Vitória de Parker (ou Sorte de Parker, como ficou conhecida na BD) é mais apropriado e pós-moderno. Ou eram contas que ficavam por pagar, ou a Tia que o criou que ficava seriamente doente, ou os colegas de escola que o desprezavam. Mesmo que o vilão do dia fosse derrotado, muito dificilmente o seria de forma total - muitas vezes resultava na morte de alguém conhecido, querido ou inocente. Esta transposição da vida real que, muitos anos mais tarde, se consubstanciaria em obras como Watchmen e The Dark Knight Returns, inicia-se com o Homem-Aranha. Este é dos primeiros personagens da BD americana para quem a ficção deixou de ser um refúgio. O realismo começava a entrar pelas fissuras  da estátua perfeita que era o escapismo  da 9.ª Arte - o termo realismo deve ser lido com algum toque de discernimento.

Claro que ainda não estamos a falar de uma obra realista como as que já mencionei. O Homem-Aranha, bem vistas as coisas, não deixa de ser uma BD de super-heróis da década de 60, com todas as obrigações que a isso acarretam. Os capítulos coleccionados neste primeiro volume cronológico da Epic Collection dedicada ao personagem incluem as primeiras aparições, além do próprio Homem-Aranha, de personagens como a Tia May, Dr. Octopus, Duende Verde, Electro, J. Jonah Jameson, e mais uma quantidade memorável de outros. Se querem saber como são as versões que inspiraram tantas e tantas outras que se seguiram no cinema, TV, etc, só têm de ler este volume para perceber a importância e impacto deste mito tão duradouro e perene.

Esta colecção épica que a Marvel decidiu lançar - não me canso de dizê-lo - constitui um dos meus maiores sonhos tornado realidade. Paulatinamente, a editora irá compilar todo o seu catálogo de BD, estando neste momento a publicar principalmente os volumes da Epic Collection dedicados ao Thor, Homem-de-Ferro, Capitão América, Vingadores, Quarteto Fantástico e o Homem-Aranha. Para este último já tinham lançado dois volumes mas de histórias das décadas de 80 e 90. Este Great Power é cronologicamente o primeiro e, para completar o trabalho da dupla Lee e Ditko, faltará apenas mais um. Não consigo ser suficientemente enfático para sublinhar o trabalho destes dois autores e a importância e qualidade do que está incluído neste maravilhoso volume. Querem dar uma prenda com substância? Acho que este pode ser o caminho.