Uma BD aqui, outra BD ali, 8

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Doomsday Clock número 3 de Geoff Johns e Gary Frank (DC Comics)

A BD que todos esperam, quer sejam dos que a odeiam ou a adoram, tem um terceiro capítulo. Geoff Johns e Gary Frank continuam a explorar a incursão do mundo dos Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons no universo de super-heróis da DC Comics. Esta história é, ao mesmo tempo, a continuação oficial desta lendária BD da década de 80 e um comentário à sua influência nos trinta anos que se lhe seguiram na 9.ª Arte dos EUA. Os escritores e editores absorveram a mensagem de desespero e pessimismo dos Watchmen e verteram-na de forma sôfrega nas histórias de super-heróis, sem perceber que este livro era um produto da época e, acima de tudo, da personalidade dos autores. Geoff Johns quer comentar esta influência mas também o actual zeitgeist nos EUA, com a eleição de Trump e a confluência de factores que o levaram à presidência. Paralelamente, não deixa de estar profundamente imerso no universo dos homens de collants da DC, procura avançar esta mitologia e corrigir erros de percurso. É uma tarefa difícil que, até este terceiro capítulo, está a conseguir suplantar. 

Desenganem-se se acham que acho que DClock está ao mesmo nível de Watchmen. Apesar de ser a sua continuação, o propósito e autores são outros. As comparações são completamente inevitáveis e não totalmente injustas. Mas, ao mesmo tempo, é contraproducente fazerem-nas. Neste novo capítulo, o enredo avança e, acima de tudo, as personagens são analisadas à lupa, quer na interacção com o enredo, quer umas com as outras. É possível ter a sensação que estamos a ler uma obra com intenções de entretenimento mas também de comentário sério ao mundo. Johns e Frank decidiram adoptar um calendário bimensal a partir do número quatro e não parece mal. Eles estão a jogar num outro campeonato e é na leitura de todas as páginas da obra que a sua prestação será julgada.


Amazing Spider-Man número 794 de Dan Slott e Stuart Immonen (Marvel)

Dan Slott escreve o Homem-Aranha há 10 anos e está, finalmente, a chegar ao fim. Começa aqui a próxima saga catastrófica na vida do trepador de paredes. As consequências serão sentidas nos próximos meses e nos anos que se seguirão - ou então o próximo escritor irá esquecê-las mal pegue nas rédeas. Quer se goste ou não trabalho de Slott a sua influência no passado e futuro da personagem é relevante. Faço parte da equipa que gostou do seu trabalho até determinado ponto e abandonou-o quando achava que tinha excedido as boas-vindas. A mais recente fase do Peter Parker dono de uma multinacional tecnológica desmotivou-me - para mim ele tem que ter sempre problemas de dinheiro. Não o lia há algum tempo e fiquei surpreendido que, entretanto, Peter perdeu a fortuna e voltou aos dias de mendicidade. Acabou-se o uniforme versão Homem-de-Ferro e irá agora ser envolvido num enredo que trará de volta inimigos de longa data. 

A ideia-twist da última página parece interessante e apenas os próximos meses dirão se será muito mais que isso. Por enquanto, estou agarrado para ler os próximos capítulos. O Homem-Aranha foi a personagem que introduziu-me à BD. O apego emocional ao passado da personagem é muito grande - o trabalho de Lee/Ditko, Lee/Romita, Kane, Andru, Conway, Wein, etc, são referências da 9.ª Arte. Apesar de saber que é impossível regressar a esses primeiros tempos, em cada nova saga da vida de Peter Parker, espero sempre, estupidamente, por momentos nostálgicos. Vamos ver se Slott consegue acabar em alta uma sequência de histórias que já ia longa de mais. 

Sem comentários: