Uma BD aqui, outra BD ali, 23 - Homem-Aranha



Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! É um prazer que rezo para nunca acabar. De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Amazing Spider-Man (2018) número 1 de Nick Spencer, Ryan Ottley e Humberto Ramos (Marvel)


Dez anos é muito tempo. E é um sinal da idade quando parecem ter passado apenas metade deles. O escritor Dan Slott guiou os destinos da trupe do Trepador de Paredes durante uma década, marcando a personagem e, mais importante, uma geração de leitores, que se habituou à sua versão e apenas à sua versão. Alguns de nós que andam nestas andanças das leituras de BD há mais tempo têm outras visões - não somos nem melhores nem piores, somos apenas mais velhos. 

Slott foi bastante relevante, conseguindo aguentar as vendas em níveis tão difíceis nos dias de hoje, mesmo com uma personagem tão antiga e reconhecida como o Homem-Aranha. Contudo, outros marcaram-nos ainda mais. Pessoalmente, Len Wein, junto com Ross Andru no desenho, será sempre aquele de quem guardo as recordações mais doces. Depois seguiram-se Marv Wolfman, Roger Stern, Tom DeFalco, J.M.DeMatteis, Peter David

Alguns anos depois, li a maravilha que é o trabalho da dupla Stan Lee/Steve Ditko, os originais, e Stan Lee/John Romita, e o Aracnídeo mais famoso da Literatura nunca mais foi o mesmo. É baseado nesse molde que comparo todas as versões que se seguem. Foram eles que criaram uma das mais complexas e mais originais personagens de super-heróis de sempre, o primeiro da minha vida de leitor de BD.

Esta longa e indulgente dissertação serve apenas para vos introduzir aos senhores que se seguem: Nick Spencer e Ryan Ottley. Consta, e espero que seja verdade porque é bom demais, que o primeiro, para se preparar para esta sua empreitada, leu e releu todas as histórias publicadas do Homem-Aranha (há trabalhos piores na vida). Deverá ter tirado extensas anotações e entrado de forma profunda na minúcia da vida de Peter Parker. Pela amostra deste excelente primeiro número, isso nota-se. Spencer encontra pormenores mais rebuscados do passado, e outros do presente mais frescos na memória, para construir uma narrativa coesa, divertida, surpreendente e, mais importante que tudo, fiel ao que a personagem é: um homem comum com poderes extraordinários e que, graças a um irrepreensível código moral, sempre privilegiará o próximo em detrimento de si mesmo. Em suma, um altruísta com poderes sobrenaturais. A par disso, o escritor presenteia-nos com vilões clássicos, com situações novas baseadas no passado (próximo e não tão próximo) e com um evento que muitos esperavam ansiosamente que acontecesse - não direi o que é, mas posso referir que sou dos que não sabem bem o que pensar disso.

Ryan Ottley, depois também de desenhar, durante mais de uma década, a revista Invincible na Image, poderá tornar-se num dos clássicos artistas do aracnídeo e figurar ombro a ombro com lendas. Basta que, para isso, continue com esta sua visão cinematográfica do breakdown de página, desenho simples, claro, fluído e legível e, muito importante, que debite, mês sim, mês sim, anos de desenhos, tal como fez no seu trabalho anterior.

Depois de um sólido primeiro número é esperar que continuem assim. Venham as próximas lendas.

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