Vou tentar ser objectivo mas não sei por onde começar. Sou fã de BD desde tenra idade e comecei exactamente pelo Homem-Aranha. A paixão que ainda alimento iniciou-se com a revista Amazing Spider-Man número 156 feita pelo talento de Len Wein e Ross Andru. Ultimamente estou separado desta personagem. As actuais histórias em BD não me atraem e prefiro, quando posso, regressar aos clássicos. Gosto do trabalho dos criadores Stan Lee/Steve Ditko e tenho a certeza que tudo o que interessa saber sobre o alter-ego de Peter Parker está descrito nessa sequência de histórias. Outros autores seguiram-nos com mais ou menos sucesso e tantos deles li com gosto. Hoje não o faço.
Esta versão de Jon Watts é a terceira tentativa em trazer para o grande ecrã o Trepador de Paredes. Desta vez, o actor é Tom Holland e a Sony e a Marvel fizeram uma parceria para incluir o Homem-Aranha no Universo Cinematográfico da segunda, universo esse que é um sucesso de espectadores e receita. A personagem já havia sido introduzida no Captain America: Civil War e agora é a vez de ser protagonista de mais um filme com o seu nome.
Cinematograficamente, o filme segue o molde que a Marvel tem cultivado desde o primeiro Homem de Ferro. Ser Jon Watts ou um outro realizador é completamente irrelevante. O dedo de artista é controlado pela mão da máquina Marvel/Disney. Existe uma mensagem e uma imagem que quer transmitir-se e ela é limpidamente transmitida. Volto a dizê-lo: tirando honrosas excepções (Guardiões da Galáxia) os filmes da Marvel parecem uma longa sequência sem interrupção. As mesmas cores. A mesma luminosidade. O mesmo estilo de argumento. O mesmo humor. Também neste a fórmula é seguida à risca. O que faz com que seja mais do mesmo.
Tom Holland é um bom Homem-Aranha, divertido, solarengo, ao estilo de um determinado molde da personagem. A versão que aparece faz lembrar uma mais recente da BD, a do escritor Brian Michael Bendis, mas sem perder referências basilares. Existe o lado do excluído, o do sacrifício, o do super-herói do homem comum, com problemas e dificuldades. Contudo, não totalmente. Este Peter Parker não é o Peter Parker de Lee e Ditko. Existe um lado de integração no limite de acontecer. Talvez sublinhado pela ligação ao Homem de Ferro. Talvez por não serem visíveis enormes dificuldades na vida deste Homem-Aranha. A bem ver, ele tem um fato fornecido por Tony Stark munido de uma parafernália de tecnologia que faz um iPhone parecer uma ferramenta do neolítico. O Homem-Aranha não deveria ter a vida facilitada por tecnologia futurista. O Homem-Aranha não deveria ser uma versão adolescente do Homem de Ferro.
E cheguei ao meu ponto. O filme é divertido, cheio de acção, mas este não é o meu Homem-Aranha. Existe algo da sua alma, como já o disse, mas, a meu ver, falta muito do que faz esta personagem uma das mais interessantes da mitologia dos super-heróis. Tom Holland é um Homem-Aranha mais interessante que Toby Maguire mas este filme não é melhor que os dois primeiros de Sam Raimi. E digo-o incluindo um dos mais interessantes vilões do Universo Cinematográfico da Marvel (apenas superado por Loki). O Abutre de Michael Keaton é um passo na direcção correcta para a produtora resolver o seu problema de adversários dos super-heróis. Este não é um boneco sem espessura dramática, apesar desta versão do vilão não ter rigorosamente nada a ver com a original da BD. O arco narrativo que o envolve é dos mais relevantes neste filme e um dos mais adultos da Marvel. Mas o cerne é o Homem-Aranha e este não é o meu.
A parceria Marvel/Sony quis levar o Homem-Aranha noutra direcção. Não quis repetir a fórmula das duas tentativas anteriores. Vai resultar em termos de bilheteira. Contudo, no que a mim diz respeito, não funciona.
PS - Será que numa quarta iteração do Homem-Aranha a Tia May será uma adolescente?
PS 2 - Tentei ser objectivo e falhei redondamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário