Libertem o Geek! - As Crises Infinitas!


(para o Gonçalo e o Vasco, que percebem o porquê deste post)

Um amigo que, como eu, é fã do universo de super-heróis da DC Comics disse-me uma vez e parafraseio: "parecem estar a repetir sempre as mesmas histórias, mas a gente gosta!".  Achei lindo, naquela forma que apenas os fãs podem achar lindo. Aqueles que adoram certas coisas de forma irrepreensível. Não falo de saber todo e qualquer pormenor do multiverso da DC (se sabem o que é o multiverso da DC parece-me, contudo, que estão no bom caminho). Não falo de coleccionar todas as revistas, de possuir saber enciclopédico sobre os heróis, os vilões e a geografia - ainda que possa ajudar. Falo, como sempre quando refiro estas paixões, de gosto e de amor. De estarem a borrifar-se para quem não aprecia, de ficarem entusiasmados de forma infantil, juvenil, imatura (como quiserem), com um desenvolvimento de uma história, com o aparecimento inesperado de um personagem que amávamos e estava fora de cena há muito tempo. Mas também é ficar irritado quando algo que se adora já não tem o mesmo lustro, está chato e aborrecido. Pode também ser esperar ansiosamente pela estreia do Batman v Superman, mal conseguir aguentar a estreia da Wonder Woman em 2017 e ficar entusiasmado com a sequela do Man of Steel do Zack Snyder.

Recentemente, essa nossa editora favorita decidiu renascer. Chamou-lhe, de forma pouco imaginativa (ou será pós-moderna?), Rebirth e, numa revista escrita pelo grande Geoff Johns e chamada de DC Rebirth, devolveu aos fãs (ou começou a devolver) o universo de que tinham saudades. Já existiam pistas no Multiversity de Grant Morrison e na Justice League: Darkseid War também de Johns, mas é neste Rebirth que a editora assume o "erro". Erro porque esta história de Johns é um pedido de desculpa pelos mais recentes anos da DC mas também algo mais meta-textual: uma reflexão sobre o mundo dos super-heróis dos EUA pós-Watchmen, a seminal obra de Alan Moore e Dave Gibbons.  Mas não é sobre isto que vos queria falar.

Desde 1986 que a editora repete a mesma história de forma cíclica e gere as expectativas dos seus leitores de maneira quase cruel. Nesse ano fundiu o seu multiverso num único mundo na conclusão da Crise nas Terras Infinitas e este evento parece, desde então, reger todos os outros. O que, a nosso ver (sim, o dos fãs), é lindo e pode acontecer quantas vezes a editora quiser. Foi a Crise Infinita, a Infinita Crise, a Crise Final, o Hipertempo, o 52, a Multiversidade, agora o Renascimento. Iterações do mesmo conceito, teases de quem sabe que basta vestir uma lingerie comprada na loja dos trezentos para nos fazer salivar litradas.  Mas no meio de tanto entretenimento pop existe também algo mais profundo - pelo menos para nós. Uma hiper-história que começou em 1938 com a publicação do Super-Homem, que foi evoluindo num misto de atabalhoado, orgânico e ...vejam lá bem... pensado. Que continua a crescer e a acrescentar camadas cada vez mais ricas,  ao ponto de parecer estar criado um universo (um multiverso) que ...nós temos a certeza... vive lá fora algures, separado pela vibração da imaginação. É world-building mas também é uma filosofia. Quem olhar para a estrutura do multiverso da DC criada por Grant Morrison vê uma Mandala e vê um Belo. Não seria fantasticamente terrível que existisse, perdidos nas infinitas e prováveis realidades, um Darkseid, uma Source Wall e uma Speed Force? Mas divago!

A DC repete, para nosso bel-prazer, a História do Multiverso e, em cada nova variação, se estávamos perdidos voltamos a ela e, se nunca a abandonámos, somos justificados. Por isso, quando neste Rebirth vejo plantadas as sementes do regresso de algo que adoramos só posso escrever algo tão inútil quanto este post.  

"Parece estar a repetir sempre as mesmas histórias, mas a gente gosta!" - disse o tal meu amigo. Sim, é lindo e nós adoramos!

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