Momentos FO**-SE! Justice League 50 e DC Universe Rebirth de Geoff Johns e vários



(este post contém SPOILERS)

Já tiveram momentos "foda-se" nas vossas vidas? Sabem do que falo? Daqueles onde são apanhados de tal forma desprevenidos que, apesar do controlo e pudor, é desenhada pelos músculos do vosso rosto a palavra "foda-se"? Pode acontecer a qualquer momento, como é óbvio, mas aqui refiro-me a Arte. Aquela que sublima, que entretém, que eleva. Arte que adoramos mais do que admitimos. E falo de histórias. Das que são contadas nos livros, na película, nas notas de música. Falo de Banda Desenhada, falo de super-heróis, falo da Mulher-Maravilha, do Super-Homem, do Batman, de todos os personagens da DC Comics.

Já há meses que esperava pelo fim da Darkseid War (publicada também pela Levoir), que correu nas páginas da revista Justice League, escrita por Geoff Johns e desenhada por Jason Fabok (com ajuda de Francis Manapul). A maior equipa de super-heróis de qualquer universo enfrentava dois dos maiores adversários da extravagante mitologia dos super-heróis: Darkseid e o Anti-Monitor. Como cereja no topo do bolo, a saga é narrada pela minha personagem favorita: Diana de Themyscira, a Mulher-Maravilha. Com este cenário, o entusiasmo era muito e a expectativa impossível de conter, o que dificulta sempre a vida a qualquer artista, porque superar a imaginação de um leitor é uma tarefa indigna. Neste momento em que escrevo, em que a leitura está quente na memória, falo-vos apenas de como me diverti. Falo-vos da voracidade com que as páginas eram folheadas e em como o fim não chegava suficientemente depressa e, ao mesmo tempo, receava que chegasse. Até que chego a esse temido fim e um "foda-se!" libertou-se dos lábios, os olhos arregalaram-se e escapou-se-me: "a Mulher-Maravilha tem um irmão gémeo?". É ridículo que um homem adulto dê importância a isto, mas quando leio as palavras e vejo os desenhos o mundo apaga-se à minha volta e desapareço na infância.

As últimas páginas de Justice League não servem para descansar: "o quê? Metron e Owlman morrem e deixam para trás uma Cadeira Mobius ensanguentada?"; no rodapé do último quadradinho lê-se "continua em DC Universe Rebirth". E eis que sigo, acto contínuo, para essas outras páginas, também escritas por Geoff Johns e desenhadas por vários artistas. Este era O evento que os fãs da DC Comics tanto esperavam, onde era anunciado o regresso do optimismo, da luminosidade, do sentido de legado ao universo de super-heróis desta editora. A DC tem sido alvo de criticas pelo excesso de negrume, como se a herança (involuntária) do seminal Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons perdurasse para sempre. Esta obra, junto com The Dark Knight Returns, marcou uma viragem na BD dos EUA em 1986, originando cópias que confundiram a forma com o conteúdo. Esse tipo de narrativa foi, inclusive, a inspiração de Zack Snyder para a sua interpretação nos filmes Man of Steel  e Batman v Superman. Geoff Johns achou ser uma boa altura para inverter a tendência (as vendas da DC também não andavam boas no ano de 2016, para ser totalmente sincero). Assim, surge DC Universe Rebirth, uma BD que é uma declaração de intenções e uma montra para futuros enredos (aliás, o facto de nenhuma linha de história ter resolução neste número é a maior fraqueza deste DC Rebirth).

O escritor consegue, uma vez mais, a proeza de contar uma história pop, sim, mas tocante, emocional, entusiasmante, cheia de momentos deliciosos, capazes de partir o coração empedernido dos fãs da DC. Wally West volta e é o móbil da acção? A Sociedade da Justiça e a Legião dos Super-Heróis afinal ainda existem? Foram roubados dez anos à história do Universo DC? Por quem? A revelação do inimigo originou um segundo movimento incontrolável dos lábios com o som "foda-se!". O Dr. Manhattan dos Watchmen é o adversário?

É neste momento que o trabalho de Johns eleva-se ao meta-textual. DC Universe Rebirth não é apenas uma tentativa mercantilista de inverter a decaída das vendas da editora mas também um comentário do escritor à influência (negativa) que Watchmen teve nos super-heróis. Não por culpa da obra ou dos artistas, mas de quem a interpretou (mal!). Geoff Johns consegue uma proeza e deve ser louvado por isso. Não criou aqui uma obra a figurar nos anais da BD, claro, mas sim um belíssimo pedaço de entretenimento feito com o amor e carinho que nutre pelas mitologias que agarram alguns milhares de fãs (eu sou um deles).

Mesmo com todo este entusiasmo, os anos que passei a virar frangos não me deixam descansar. Por mais interessantes que tenham sido estas duas revistas, elas sofrem do maior problema das actuais histórias de super-heróis, quer falemos da Marvel, quer da DC: um evento é apenas o prelúdio de outro evento, uma infinita telenovela da qual não se vislumbra um fim. Neste aspecto, este DC Universe Rebirth é pior porque, no meio do coração que foi a história de Wally West e a revelação do vilão, existe um sem número de teasers para outras histórias, das quais desconhecemos onde acontecerá a continuação. Name of the game? Não necessariamente, porque se depois o que vem a seguir não satisfaz, então nada valeu a pena. Por enquanto, têm a minha atenção. Venha de lá esse renascimento.

Sem comentários: