Uma BD aqui, outra BD ali, 24 - Batman

Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! É um prazer que rezo para nunca acabar. De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.

Batman (2016) números 51 a 53 de Tom King e Lee Weeks (DC Comics)


O Batman é das personagens da BD americana com um dos mais gloriosos historiais da 9.ª Arte e, quem sabe, de qualquer Literatura. Nela trabalharam alguns dos maiores desenhadores e escritores da Arte. Não deixa, portanto, de ser impressionante, que Tom King esteja a construir uma das melhores sequências da já longa carreira do Homem-Morcego. Começada em 2016 na alvorada do DC Rebirth (uma tentativa da editora de energizar a sua linha de publicações), King não tem parado de explorar o universo gótico da personagem, com uma aproximação que não se cola tanto aos eventos surpreendentes ou catastróficos (uma muleta tantas vezes utilizada por outros escritores), mas mais pela exploração do lado psicológico.

Tom King, de forma lenta e segura, vai descascando cada camada da personalidade da personagem titular. Coloca questões que procura resolver através de uma profunda análise da mente e motivações da dicotomia Bruce Wayne/Batman. Estes três últimos números, que se seguem ao polarizador capítulo 50 (leiam aqui o que achamos), onde se descobriu o que acontece ao seu planeado casamento com a Mulher-Gato, são apenas um dos mais marcantes momentos deste percurso de Tom King, e que se equipara, no nosso entender, ao que fez no excelente I Am Suicide. O que poderia ser um simples confronto com o vilão du jour, neste caso o sempre interessante Mr. Freeze, transforma-se, no rescaldo das núpcias, num processo de auto-análise da personagem em ambiente jurídico - Bruce Wayne é jurado no julgamento do vilão capturado pelo Batman. Essa auto-análise inflecte para o que King acha ser o Batman, no contexto do universo fantástico da DC, do mundo da BD em geral e, inclusive, entra em confronto (assumido ou sugerido, fica ao nosso critério) com a visão de outro escritor da personagem, Grant Morrison. Qualquer uma das interpretações não são mais que histórias, mas não deixa de ser um conflito curioso.

Outro dos momentos mais badalados pela internet afora, refere-se às inclinações religiosas de Bruce Wayne e que King, aparentemente, esclarece. Este é, provavelmente, um dos momentos mais sublinhados do que King quer fazer. O escritor parece separar, do ponto de vista filosófico, esta sua interpretação do resto do universo DC. Que mais poderemos interpretar, já que o Batman vive no meio de deuses e entidades cósmicas de poder multiuniversal? O futuro o dirá.

Tom King, desta vez com ajuda de Lee Weeks, desenhista altamente competente, continua a construir uma sequência que tem tudo para ser histórica. Faltam outros 50 números para o sabermos de forma definitiva.

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