A Ciambra de Jonas Carpignano

O amor da cultura europeia pela tragédia remonta aos tempos de obras como Medeia ou Édipo Rei. Por mais que alguém tente escapar ao seu destino, os deuses conspiram para que caminhemos para ele, quer queiramos, quer não. Estava subjacente que a própria personalidade das personagens as conduzia para esse fim já decidido. Elas eram a sua própria tragédia. Elas não conseguiam escapar ao ambiente, à geografia, à genética, à condição sócio-económica, e eram arrastadas, por elas próprias, pelo percurso que parecia delineado desde a nascença. O fim era óbvio para quem estava atento ao início de cada história.

A Ciambra não é diferente deste quadro.

Jonas Carpignano decidiu focar-se, nesta sua segunda longa, numa comunidade cigana da Calabria, Itália, e especificamente na personagem de Pio, um adolescente que sonha em ser igual ao seu irmão, este um pequeno criminoso a soldo de mafiosos locais - aliás, como boa parte da comunidade cigana neste filme. Pio foge para espiar encontros criminosos, participa, sem autorização, em assaltos a casas, numa busca pró-activa que espelha o leque limitado de opções que fazem parte da sua vida. Mesmo  quando pai e irmão são presos por diferentes crimes, é ele quem assume as rédeas da família, agora apenas composta por mulheres, e multiplica-se em expedientes criminosos para trazer dinheiro para casa - e é motivo de orgulha de toda a sua comunidade. É ele, durante aquele período, a única salvação da desgraçada família. E a maior tragédia é que, mesmo quando a avó reconhece que aquela vida está a arrastar mais um neto para este caminho, um caminho que provavelmente não desejaria, ainda assim percorrê-lo é impossível evitar.

O realizador faz uso de uma verdadeira comunidade cigana para contar a triste história de Pio, e também faz uso de um registo semi-documentarista, que privilegia a proximidade da câmara aos rostos de todas as personagens. É na intensidade de cada interpretação, em resposta aos eventos, que reside a força deste A Ciambra. À semelhança do seu filme anterior, Mediterrânea (que não vimos), volta a socorrer-se de Pio Amato e de Koudous Seihon nos papéis principais. Este último interpreta o único amigo do jovem Pio, o único que tenta retirá-lo da vida que se avizinha.

Um filme fabuloso que procura esclarecer a  difícil vida de uma comunidade ostracizada. A não perder!

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