A Marvel, famosa editora de BD dos EUA, tem se imiscuído pelos caminhos da BD franco-belga ao publicar histórias originais fora do formato comics, ou seja, do da pequena revista mensal de 22 páginas. Apesar de este ser O formato por excelência nos EUA, a tradição, é também tradicional experimentar, inovar, não estagnar. Assim, a editora tem lançado regularmente histórias com mais páginas, finitas e contidas, protagonizadas por um personagem ou grupo de personagens do seu enorme catálogo. Os primeiros foram os Vingadores (que já foquei aqui) e agora seguiram-se outros dois dos mais conhecidos: Homem-Aranha e X-Men.
Spider-Man - Family Business de Mark Waid, James Robinson e Gabrielle Del'Otto
O grande chamariz para esta história era a descoberta de uma irmã perdida de Peter Parker, o alter-ego do Homem-Aranha. Esta descoberta leva o famoso personagem a envolver-se num enredo típico de James Bond, com a participação do Rei do Crime, famoso arqui-inimigo do Demolidor mas originalmente do trepador-de-paredes, e ainda dos seus falecidos pais (e que continuam falecidos nesta história). Infelizmente, este livro é muito pouco mais que isso mesmo. Um chamariz interessante mas cujo sumo é sem-saborão, valendo por pouco mais que os desenhos do italiano Del'Otto. Provavelmente terá a ver por este ser um ambiente pouco apropriado para o Homem-Aranha, mas faço mais parte da escola que não são os personagens que são fracos, antes são os artistas que produzem a história. Tratando-se de Waid e Robinson, dois excelentes escritores de BD com muitas provas dadas, esperar-se-ia muito mais que lugares comuns e um desenvolvimento de enredo que oferece pouca surpresa. Mesmo a irmã de Peter é pouco mais desenvolvida do que a descrição que temos nas sinopses desta história, tendo pouco mais espessura que aquela do papel onde nos é apresentada. Prometem um terremoto no universo do personagem. O que nos entregam é um chocalhar.
X-Men - No More Humans de Mike Carey e Salvador Larroca
Aqui a coisa já pia de forma diferente. O conceito apesar de ser grandiloqüente como o anterior é mais apropriado aos mutantes mais famosos da Marvel: de um dia para o outro todos os homo sapiens desaparecem da Terra. Sobram apenas os mutantes. O responsável é um dos mais recentes e interessantes vilões da galeria de excelentes inimigos dos X-Men, mas este evento coloca a comunidade num dilema moral óbvio: estamos melhor? Deveremos fazer algo para evitar? Em suma, deveremos defender o sonho de coexistência pacífica entre homo sapiens e homo superior idealizado pelo Gandhi mutante, o falecido Charles Xavier, ou deveremos aproveitar a oportunidade e viver o resto das nossas vidas sem a constante perseguição e racismo? Estas perguntas tem várias respostas, dependendo do personagem que estamos a falar. Este problema filosófico é, contudo, servido com muita ação típica de super-heróis, conceitos e situações maiores que a vida, ou seja, toda a receita apropriada. Quer Carey, o escritor, quer Larroca, o desenhista, não são novatos a lidar com os X-Men e aproveitam-se bem do atual status quo dos personagem, a cisão entre Ciclope e Wolverine, para construir uma história muito divertida e envolvente, que se lê com rapidez e ansiedade. Muito recomendável para fãs e não só.
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