O que vou lendo! - Fatale vol. 4, Pray for Rain de Ed Brubaker e Sean Philips

A mais recente colaboração Brubaker / Philips ao estilo da literatura noir continua de boa saúde. Se posso dizer algo é que melhora com cada volume, à medida que nos aproximamos do final. Para quem não leu os posts anteriores sobre esta maravilhosa BD (que vergonha! Procurem-nos aqui), podem ter a certeza que não consigo conter-me nos elogios bem cuidados. O trabalho destes dois senhores mistura o dito romance noir com mitologia lovecraftiana. Um casamento feito (reparem agora na inspiração) … no inferno.

No anterior volume (que falei aqui) fizemos uma breve passagem pelo passado remoto. Neste, fazemos uma viagem temporal mais pequena, mas que ainda não nos situa firmemente no presente. Estamos na altura do advento e morte do movimento musical Grunge, sito na cidade de Seattle, e acompanhamos a história de um grupo que descobre o corpo amnésico da heroína de Fatale, a misteriosa Josephine, para estes uma mera Jane Doe. Liberta inconscientemente das amarras místicas e psicológicas que autoimpõe sobre a sua natureza predadora, começa, paulatinamente, a devorar cada membro do jovem grupo de música. Um repasto inconsciente, movido não pela maldade mas pelo instinto. Contudo, o fim é sempre o mesmo. Aqui reside um dos trunfos deste quarto volume da saga composta por Brubaker e Philips. Finalmente presenteiam-nos com toda a terrível glória da sua criação, a tenebrosa e trágica mulher fatal que é a centenária Josephine. Todos sucumbem à sua inconsciente natureza, uma sinfonia de prazer e sexo que arrasta todos os homens para o abismo de perdição (a linguagem que uso, tendo em consideração o estilo de literatura, é mais que apropriado).

A escolha do cenário para este novo relato parece algo pessoal aos autores, mas também apropriado. No isolamento chuvoso da mansão, perdida nas florestas do estado de Washington, desenrola-se a tragédia pessoal dos membros do grupo Amsterdam, bem como a inevitabilidade dos eventos que se sucedem após a descoberta do corpo nu de Josephine por um deles (homem, claro). A história não só acrescenta à mitologia mais larga como pode ser lida sozinha, sendo um dos melhores volumes da coleção.


A simbiose entre escritor (Brubaker) e desenhista (Philips) é já espontânea e escorreita, não saltando uma nota ou havendo um som desafinado (mas que grande trocadilho). Imagino que um escreve para o outro e o outro desenha para o um. 


2 comentários:

Nuno Amado disse...

Fatale é awesome!
;)

SAM disse...

É sim senhora, Nuno. E este quarto volume é duplamente awesome