Compliance de Craig Zobel (Obediência)


Esta película vem com a advertência de ser baseada em factos reais. E ainda bem, porque a história é desesperantemente implausível. Não estou, com esta afirmação, a produzir qualquer tipo de juízo ao filme. Antes estou fazê-lo aos intervenientes (do mundo real) que deixaram que a situação retratada ocorresse. Enquanto o via não conseguia conter-me e gritar várias vezes: “Como é possível ninguém fazer nada quanto a isto?”; “Vão deixar isto acontecer?”.

Quando Hannah Arendt estipulou a sua “teoria” da “banalidade do mal”, não se cingia ao palco mundial do Holocausto Nazi, mas a toda a natureza humana. O que acontece na situação retratada neste Obediência é algo que, no seu cerne, é idêntico, ainda que a escala e as consequências estejam longe de ser comparáveis. Uma jovem empregada de uma cadeia de comida rápida americana é alvo do telefonema de um homem que finge ser polícia. Este informa a patroa que a jovem terá roubado dinheiro a uma cliente. Todo o filme roda em volta deste interminável telefonema (uma das implausibilidades de que falei), onde o criminoso obriga a que variados e horríveis atos sejam infligidos à rapariga, recorrendo-se de coerção bem orquestrada e utilizando os obedientes e pouco inteligentes funcionários do referido restaurante. Atos de crescente maldade. No final, somos meros espectadores deste festival de horror, estupidez e, sim, obediência cega a uma situação claramente fabricada e de sadismo puro. A pergunta que referi no primeiro parágrafo é por nós repetida vezes sem conta. Como foi possível esta situação nunca ser questionada, nunca ser parada. Foram com certeza vários os fatores que construíram a proverbial “tempestade perfeita” que possibilitou o desfecho deste repugnante evento. O realizador e argumentista referem-se a eles de forma tangencial mas segura, não emitindo, como é já apanágio, qualquer tipo de juízo de valor.

O filme funciona bem e é competentemente realizado. Não existem aqui rasgos de genialidade, mas funciona bem dentro do mercado independente americano, tendo ganho alguns prémios no mercado internacional deste nicho cinematográfico. É um filme que vale a pena ver pela inacreditável história retratada e porque, muito sinceramente, mais vale dar dinheiro a este do que a muitos blockbusters que por aí se passeiam pelas salas.


Sem comentários: