Esta película vem com
a advertência de ser baseada em factos reais. E ainda bem, porque a história é
desesperantemente implausível. Não estou, com esta afirmação, a produzir qualquer
tipo de juízo ao filme. Antes estou fazê-lo aos intervenientes (do mundo real)
que deixaram que a situação retratada ocorresse. Enquanto o via não conseguia
conter-me e gritar várias vezes: “Como é possível ninguém fazer nada quanto a
isto?”; “Vão deixar isto acontecer?”.
Quando Hannah
Arendt estipulou a sua “teoria” da “banalidade do mal”, não se cingia ao palco
mundial do Holocausto Nazi, mas a toda a natureza humana. O que acontece na
situação retratada neste Obediência é
algo que, no seu cerne, é idêntico, ainda que a escala e as consequências
estejam longe de ser comparáveis. Uma jovem empregada de uma cadeia de comida
rápida americana é alvo do telefonema de um homem que finge ser polícia. Este informa
a patroa que a jovem terá roubado dinheiro a uma cliente. Todo o filme roda em
volta deste interminável telefonema (uma das implausibilidades de que falei),
onde o criminoso obriga a que variados e horríveis atos sejam infligidos à rapariga,
recorrendo-se de coerção bem orquestrada e utilizando os obedientes e pouco
inteligentes funcionários do referido restaurante. Atos de crescente maldade. No
final, somos meros espectadores deste festival de horror, estupidez e, sim,
obediência cega a uma situação claramente fabricada e de sadismo puro. A
pergunta que referi no primeiro parágrafo é por nós repetida vezes sem conta.
Como foi possível esta situação nunca ser questionada, nunca ser parada. Foram
com certeza vários os fatores que construíram a proverbial “tempestade
perfeita” que possibilitou o desfecho deste repugnante evento. O realizador e
argumentista referem-se a eles de forma tangencial mas segura, não emitindo,
como é já apanágio, qualquer tipo de juízo de valor.
O filme funciona bem e é competentemente realizado.
Não existem aqui rasgos de genialidade, mas funciona bem dentro do mercado independente
americano, tendo ganho alguns prémios no mercado internacional deste nicho
cinematográfico. É um filme que vale a pena ver pela inacreditável história
retratada e porque, muito sinceramente, mais vale dar dinheiro a este do que a
muitos blockbusters que por aí se
passeiam pelas salas.
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