Não sei se será igual para todos, mas
quando releio algo que, na juventude ou infância, teve um especial significado
para mim, tenho uma de duas sensações: desapontamento ou encantamento. Com este
9.º volume da coleção da Marvel, Epic
Collection, dedicada aos Vingadores,
estive totalmente subjugado à segunda.
Os leitores mais velhos de BD
lembrar-se-ão da publicação, deste período da vida dos Vingadores, nas saudosas revistas Heróis da TV e Grandes Heróis
Marvel da Editora Abril. Na
altura, terão sido dos primeiros contactos com alguns grandes desenhistas da BD
americana: George Pérez e John Byrne (já tínhamos tido contacto com este último
no Iron Fist, pelo menos). Contudo, o
valor deste período não reside exclusivamente na qualidade dos desenhistas, mas
nas histórias, que acabaram por marcar gerações e calcificar-se como A
época da vida dos Vingadores. Estas
são afirmações perigosamente radicais, mas reler os números individuais aqui
compilados (do 150 ao 166 e mais umas coisitas), permitiu-me concluir algo
muito importante: as histórias envelheceram bastante bem.
Já há muitos anos que andava a
namorar a possibilidade de ter os originais das BD que me haviam causado tão boa
impressão nos idos da década de 80. Aquelas maravilhosas histórias que
envolviam os Vingadores clássicos como
o Capitão América, o Thor, o Homem de Ferro, o Visão, a Feiticeira Escarlate,
etc. Histórias onde defrontaram inimigos como o Conde Nefária, Ultron, Thanos, em
suma, alguns dos mais tenebrosos nomes da galeria de vilões da Marvel. Tudo engendrado pelas mentes de Gerry
Conway e Jim Shooter e pelas mãos artísticas de Byrne e Pérez, como já referi,
mas também do grande John Buscema, o seu irmão Sal Buscema e o maravilhoso Jim
Starlin. Estas mentes conseguiram agarrar na impressionante fundação lançada
por Stan Lee, Jack Kirby, Roy Thomas e, novamente, John Buscema, e construir uma das mais memoráveis runs destes heróis do Universo Marvel. Perguntam vocês, os que nunca as
leram: mas por que é que estas histórias são assim tão boas? O conselho mais
óbvio que vos posso dar é... leiam-nas e concluam por vocês mesmos. Contudo,
também vos posso dizer que se tratam de momentos que ficaram para sempre
gravados na minha memória, essa coisa que parece transparente quando nos
lembramos de momentos da juventude: a saga da noiva de Ultron, um dos primeiros esforços de Jim Shooter com os Vingadores e um dos mais ricos e
adultos, misturando a tragédia de Édipo Rei com uma outra, a de Hank Pym / Janet Van Dyne / Ultron (e
quem é que não quer saber como é que é o vilão do próximo filme dos Vingadores?); o tempestuoso regresso de Wonder Man, que tantos dissabores trouxe
para os recém-casados Visão e Feiticeira Escarlate (Wonder Man era Magnum
em português... não o gelado, claro); o épico confronto com o
proto-Super-Homem, Conde Nefária, numa batalha tão gigante que foi necessária a
intervenção do Deus do Trovão, Thor,
para pôr cobro aos avanços terroristas do vilão.
Este volume tem, ainda, uma outra
curiosidade, principalmente para nós, leitores da Abril. A editora escolhia não
publicar todas as histórias que saíam nos EUA, e esta época dos Vingadores foi particularmente
vilipendiada. Quem de vocês não quer saber como se passou o confronto
tripartido do supergrupo contra Attuma, Dr. Destino e Namor? Ou como foi o
primeiro encontro com o enormemente poderoso Graviton, também criado por Jim
Shooter que, junto com o já mencionado Conde Nefária, parecia determinado em crirar
inimigos à altura do poderio desta coleção impressionante de super-heróis?
O volume acaba da melhor forma
possível, com o primeiro grande confronto entre os Vingadores e aquele que certamente será o vilão do terceiro filme
estrelando estes personagens: Thanos, o Titã Louco, enamorado pela
personificação da Morte (quem viu a cena no meio dos créditos do primeiro filme
já sabe de quem eu falo). É ele a Ameaça Final do título deste volume. É ele
que representa o zénite das ameaças que os Vingadores
nasceram para prevenir. Os dois
capítulos aqui incluídos, escritos e desenhados pelo grande Jim Starllin,
criador de Thanos, são o culminar de uma outra saga, a de Warlock, e representa
outro dos pontos altos das minhas leituras da década de 80.
Que gozo extraordinário foi reler
estas histórias! É disto que o prazer é feito! Não preciso de muito mais! Que
venham os próximos volumes da coleção Epic,
uma das melhores ideias da Marvel dos
últimos anos.
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