Filmes favoritos baseados em BDs (parte 2 de 2)

Vejam a primeira parte desta lista aqui.

Esta é uma lista pessoal, como não poderia deixar de ser. Misturam-se inclinações, preferências, uma pitada de coração, algum cérebro e, acima de tudo, a vontade de os querer rever sempre. Seguem em baixo, por ordem alfabética.

Podem consultar aqui uma lista de todos os filmes, passados e futuros, baseados em BD. Escusado será dizer que vi apenas uma pequena parcela deles.

Man of Steel de Zack Snyder (2013)

Tinham passados apenas sete anos desde o mal-fadado Superman Returns de Bryan Singer, quando o também odiado Zack Snyder decide revisitar a mitologia do Homem de Aço.
Na senda do sucesso da sua versão do Batman, o realizador Christopher Nolan funcionaria como supervisor do projecto. Chega o dia da estreia e surge um Super-Homem bastante diferente da versão optimista de Donner/Reeves e da interpretação mais tradicional da personagem na BD. Este era um Super que devia mais aos autores John Byrne e Frank Miller, que trouxeram uma visão mais terra-a-terra e menos solarenga.

Este foi, sem dúvida, o meu Super-Homem. Cheio de dúvidas existenciais, enfrenta um adversário que põe em cheque a sua existência dupla de filho de dois planetas. O General Zod e os seus acólitos não são só oponentes dignos do ponto de visa filosófico, mas também físico. As batalhas são das melhores feitas para o universo cinematográfico de super-heróis (para mim, são as melhores). A escala de destruição é gigante. O perigo para a humanidade é real e presente, não uma versão lavada. Snyder deu-nos uma visão tão realista quanto possível do confronto entre super-seres, mas não descura a exploração da personalidade e missão do Homem de Aço, que não é tanto um ser quase divino, mas um homem cheio de dúvidas. Para isso também contribui o casting de Henry Cavill, o melhor Super-Homem de sempre. Anos depois, este filme continua a ser um dos meus favoritos feitos sobre estas mitologias.

Oldboy de Chan-wook Park (2003)


As semelhanças de Oldboy com outro filme nesta lista, La Vie D'Àdéle, são interessantes. Ambos são baseados em BDs relativamente obscuras e ambos são a obra de dois realizadores que entram de forma decidida na categoria de auteur.  Chan-wook Park encontrou na Mangá homónima de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi material inspirador para incluir este Oldboy na sua Trilogia de Vingança, que realizou no início do século XXI e que também figurava Sympathy For Mr. Vengeance e Sympathy for Mrs. Vengeance. O resultado é uma das melhores obras da 7.ª arte das últimas décadas, um filme complexo, conturbado e fascinante.

Esta é uma história sobre vingança, mas também uma tragédia shakespeariana. Um homem é enclausurado durante 15 anos, sem saber por quem e por que motivo. Ao final da década e meia, a porta do cárcere é aberta e esse homem é lançado ao mundo. Enquanto tenta recuperar a vida e perceber porque razão foi preso, é enredado numa teia de vingança que culminará numa tragédia digna dos clássicos gregos. 

Um filme que agarra até um final surpreendente e único. A ver apenas por adultos (já agora, dêem uma olhada no último deste realizador, A Criada, que achei que achei ser um dos melhores do ano passado).

Scott Pilgrim vs The World de Edgar Wright (2010)


Scott Pilgrim é um produto da época. Um filme baseado numa BD que, por sua vez, inspirava-se em Mangá e videojogos para construir uma história de amor singular. Mas nas mãos de outro realizador que não Edgar Wright nunca seria o frenesim louco de piadas, imagens e acção que foi este maravilhoso exemplo de passagem da 9.ª para a 7.ª Arte.

A obra original de Bryan Lee O'Malley já era um ícone de uma certa BD independente, um produto do seu tempo (início do nosso século XXI). Wright conseguiu adaptar a linguagem singular, adolescente e millenial de O'Malley e transformá-la, com a ajuda dos protagonistas Michael CeraMary Elizabeth Winstead, num OVNI que, até o momento, não se repetiu. Uma vez mais, falamos de uma obra de autor que mostra as manias e tiques do realizador.


Sin City de Frank Miller e Robert Rodriguez (2005)


O início do século XXI foi prolífico em adaptações de personagens e obras de BD. A tecnologia permitia, finalmente, que as habilidades e proezas dos super-heróis pudessem ser bem adaptadas. Blade, X-Men, Homem-Aranha deram o seu contributo para que o mundo notasse este nicho da cultura popular que era reservado a alguns fãs. Mas não só de super-heróis vive a BD (como podem depreender desta lista), e não demorou muito para que obras mais autorais também fossem adaptadas ao grande ecrã. É o caso deste Sin City, escrito e desenhado por Frank Miller. De tal forma era um produto da personalidade do autor que Robert Rodriguez decidiu ser fiel à BD e criar uma cópia em movimento dos livros - chegou a partilhar os créditos da realização com o criador.

Este primeiro filme transpõe para o Cinema um conjunto de livros da mítica série: The Customer Is Always RightThat Yellow BastardThe Hard Goodbye; e The Big Fat Kill. Transpor é a palavra correcta, já que Rodriguez usa as vinhetas como storyboards e os balões da BD como diálogos. O resultado é vodka sem água, uma injecção de heroína pura vinda directamente da inspiração e cabeça de Miller. Nem sempre para todos os gostos, mas verdadeira.

Wonder Woman de Patty Jenkins (2017)


Quem lê regularmente este blog, já o sabe (todos os três, esses malucos). Diana, a Princesa de Themyscira, a Mulher-Maravilha, é a minha personagem favorita de BD e mesmo de todas as ficções. Claro que não era líquido eu gostar da primeira adaptação para Cinema. Contudo, a aparição no Batman v Superman já augurava algo de bom. Mal sabia eu que seria maravilhoso (perdoem o trocadilho foleiro).

Patty Jenkins e Gal Gadot entendem a Diana. Ela é um bastião de bondade e inocência que abandona a sua ilha paradisíaca para entrar no Mundo Patriarcal e salvá-lo. Ela é um força da natureza que é, ao mesmo tempo, um gigantesco paradoxo. Uma guerreira que quer fazer a paz. Um ser divino que vem ensinar aos homens o poder da sua própria Humanidade. Uma embaixadora primeiro e uma super-heroína depois. A transposição da personagem foi perfeita e acabou por ser também um sucesso, provando que mesma uma criação com mais de 70 anos é relevante - talvez porque sempre esteve à frente do seu tempo.

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