Uma BD aqui, outra BD ali, 7

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

The Old Guard números 1 a 5 de Greg Rucka e Leandro Fernández (Image)

As fantasias de muitos nós (eu, inclusive) passam por ser imortal. Superar os poucos anos que vivemos, ser eternamente jovens e experimentar todas as cambiantes da vida. Essa fantasia é de tal forma poderosa que inventamos ficções e religiões que perpetuam-na e embelezam-na. É desse pressuposto que Greg Rucka Leandro Fernández partem.

Somos apresentados a quatro humanos que não morrem. Alguns com milénios de existência, outros com apenas algumas centenas de anos. Uma mulher, a mais velha, dois amantes e um francês, o mais novo. No outro lado do mundo, uma nova imortal está prestes a nascer. E enquanto isso, os poderosos e ricos desejam saber o segredo da sua vida quase infinita. Quase, porque na realidade não são imortais. Morrem. Apenas muito depois de nós. Nesses dias aparentemente infindos, ocupam o tempo a amar, a comer e em missões paramilitares de objectivos diversos. São máquinas de guerra e de morte, com mais conhecimento esquecido do que alguns exércitos inteiros conseguirão aprender numa vida.

Rucka equilibra de forma magistral o entretenimento com o peso da imortalidade. O que poderia parecer um mero exercício de fantasia adolescente transforma-se numa reflexão filosófica do que significa ter muitos ou poucos anos à disposição. Ser imortal, aos olhos de quem vive há sete milénios, não é sentido como uma bênção. Rucka pensou bastante sobre isso. As frases e as personalidades de todos não são apenas esboços. Antes seres humanos bem desenhados. Leandro Fernández é um artista que acompanho desde os tempos do seu trabalho no Hellblazer e em Loveless, ambos com Brian Azzarello, e a sua proximidade estética a Eduardo Risso é sempre bem vinda.

Uma das melhores BDs deste ainda jovem ano de 2018.

Hal Jordan and The Green Lantern Corps número 36 de Robert Venditti e Jack Herbert (DC Comics)

Existem autores que transformam de tal forma as personagens que passam também a ser suas. O Demolidor não foi criado por Frank Miller, mas este alterou-o tanto que o Homem Sem Medo passou a ser mais seu do que dos autores originais. O mesmo aconteceu com os X-Men e Chris Claremont (e John Byrne). E com o Lanterna Verde e Geoff Johns. Este escritor agarrou em todo o passado da personagem e em todos os autores que nele trabalharam e deu vida a um conceito moribundo do universo DC. Teve mesmo o "privilégio" de ser-lhe dada a hipótese de escrever um epílogo onde a sua história era levada até aos dias finais do Lanterna, como se ele fosse seu. Mas estas personagens nunca são propriedade dos que mais contribuem para a sua vitalidade (como Alan Moore bem o sabe - e ele até contribuiu com algumas ideias que Johns aproveitou).

Robert Venditti teve a pouco invejável tarefa de seguir Johns. Confesso que fui dos que abandonou a revista mensal logo após o último número deste. Mas voltei com o DC Rebirth, pela sugestão involuntária de um amigo. Hal Jordan & The Green Lantern Corps de Venditti é francamente entretido, empolgante e cósmico. O escritor controla, e bem, as vozes de todas as personagens, consegue engendrar twists e abordagens diferentes ao universo dos Lanternas. Não se esforça por ter a reinvenção delirante de Johns mas faz uso do legado para construir uma montanha russa de pura diversão de super-heróis cósmicos. Este último número fecha um arco de história e no próximo o escritor traz o General Zod (o inimigo do Super-Homem no filme Homem de Aço) para confrontar Hal Jordan e os Polícias do Universo. Para descontrair a (minha) cabeça não está nada mau.

Damage número 1 de Robert Venditti e Tony Daniel (DC Comics)


A DC tem uma nova iniciativa chamada The New Age of Heroes. Liderada por Dan Didio e Jim Lee, editores-chefe da editora, tem dois objectivos principais: devolver algum "poder narrativo" aos desenhistas; criar novos conceitos (franquias, vamos lá ser sinceros) para a DC. Damage é o primeiro.

A personagem é basicamente uma versão do Hulk e este primeiro número é pouco mais que o protagonista em modo destruição pela paisagem dos EUA. Julgar uma série inteira por estas escassas páginas é injusto mas, também a julgar por elas, a vontade de regressar a este mundo é francamente pouca. Sou da escola que uma boa história eleva um livro de BD, enquanto que desenhos maravilhosos têm muita dificuldade em fazer o mesmo. Por melhor e mais tecnicamente perfeitos que sejam, se o conteúdo, o enredo, as personagens, a mensagem, o subtexto, o entretenimento, não forem bem contados tudo pode cair por terra. Existem excepções mas Damage não é uma delas. 

Livro bonito de folhear mas, pela amostra, estamos em risco de  ter em mãos uma BD ao estilo da Image, quando nasceu na década de 90. Bonita (para quem gosta). Lê-se em dois minutos. No que a mim diz respeito preciso de mais. 

Sem comentários: