Secret Wars (2015) número cinco de Jonathan Hickman e Esad Ribic

(contém spoilers dos quatro primeiros números da minissérie)

Sou doido por uma boa Cosmogonia. Deliro com rebuscados relatos rocambolescos das múltiplas mitologias mundiais. Quanto mais empolados melhor. Quanto mais grandiloquentes melhor. Gosto das guerras entre deuses, gosto das explicações elaboradas para elucidar o mistério de quem criou o Universo (ou o Multiverso) e de como o criou. Adoro o Ainulindalë de Tolkien, adoro o Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro que coleciona, nos primeiros capítulos, diferentes Cosmogonias de diferentes culturas e adoro a intrincada explicação do nascimento do multiverso da editora de BD DC Comics (recentemente aprimorada no Multiversity e na Justice League dos escritores Grant Morrison e Geoff Johns, respectivamente).

Há algum tempo li uma entrevista de Jonathan Hickman, a mente criadora deste Secret Wars da Marvel, onde dizia que o número cinco seria um dos mais importantes momentos da história. Devido ao trabalho feito nos Vingadores, a minha expectativa em relação a uma verdadeira Cosmogonia da Marvel é elevada. Não que a editora não tenha uma, mas não recordo ter sido contada como o foi na DC. Sempre pareceu-me mais espartilhada. Teríamos de coleccionar pedaços aqui e ali. Recordo-me do relato da Eternals Saga publicada na revista do personagem Thor, mas muito centrada nesse personagem (já foi retractivamente eliminada várias vezes). Ou poder-se-ia confundir com a origem de Galactus, publicada também nas saudosas histórias do Thor por Jack Kirby e Stan Lee. Ora, estava com esperança que o número cinco pudesse ser este relato. O problema é meu, claro, mas esta expectativa diminui um pouco o prazer de o ler.

Não deixa de existir uma Cosmogonia neste quinto capítulo mas centrada no novo universo criado pelo Deus Doom (Dr. Destino). São revelados pontos importantes relativamente ao nascimento da nova realidade da Marvel mas o mais interessante é a continuada exploração da personalidade de Destino. Secret Wars de Hickman é, de forma assumida, isso. Na sequência dos trágicos acontecimentos do número quatro, ocorre um delicioso diálogo entre o herói/vilão e a sua filha adoptiva, Valeria Richards, que espelha o gigantesco ego e (no fundo) a insegurança do personagem que, sem dúvida, ditará a sua tragédia e queda. Obviamente, o enredo terá de avançar e existem algumas fraquezas na procura de equilíbrio entre o avançar da história, descortinar das personalidades e deambulações do autor. Contudo, face ao panorama passado de sagas desta envergadura na literatura de super-heróis, Secret Wars continua a ser um dos melhores exemplos. Um bastião de qualidade autoral raramente conseguido, quer do ponto de vista de Hickman, quer de Ribic, uma força da natureza muito apropriada ao épico da história.


Agora, era tão bom que antes do último capítulo tivéssemos uma Cosmogonia à séria.

2 comentários:

Nuno Amado disse...

Tou completamente perdido neste novos eventos Marvel... lol
Sinceramente esta cena de estarem com nomes de sagas antigas afastou-me completamente! Abraço

SAM disse...

Antes de mais nada obrigado pelo comentário, Nuno.

Quanto a estares perdido, não vale a pena te preocupares. LOLOLOL também não é muito importante.

Secret Wars como um todo não está a ser nada mau, pelo contrário. A série principal, como o digo no post, é das melhores se não mesmo a melhor da Marvel de sempre. As minisséries auxiliares têm de tudo mas, regra geral, há qualidade. Claro que também há aproveitamento - são histórias às toneladas - mas dá para perceber o que presta e não.

Quanto a estares perdido, neste evento nao vale a pena ter esse medo porque, tirando obviamente a série principal, o resto é bastante amigável para a leitura. Agora, podes perguntar, é de leitura essencial? Do ponto de vista de cronologia da Marvel do a série principal.o resto é para quem quiser. Só vale pelo prazer de leitura e, vamos lá ver, não é para isso que lemos BD? Eheheheh...