Secret Wars (2015) número 3

(este post contém alguns spoilers para números anteriores da série, sobre os quais já aqui escrevi)

A Marvel, tal como a conhecemos hoje, uma casa de super-heróis, começou no ano de 1961 com a revista do Quarteto Fantástico. Para quem não conhece, esta representou uma pequena mudança de paradigma, ao focar-se em quatro pessoas que eram muito mais que companheiros ocasionais de aventuras, como a Liga da Justiça da DC: eles eram uma família. Meros cinco números depois desta estreia aparecia o Dr. Destino (Dr. Doom no original),  o vilão que, com o passar dos anos, não só revelar-se-ia como o maior dos antagonistas destes heróis e um dos maiores da Marvel mas, mais importante, também como uma espécie de quinto membro da equipa, parte integrante da mitologia e da família (para quem acredita em numerologia e misticismos existem aqui sincronicidades). De facto, já na primeira década deste século XXI, Doom seria o padrinho de Valeria, o segundo filho do principal casal do Quarteto Fantástico, Reed Richards e Susan Storm. Esta pequena introdução aos personagens serve para vos situar um pouco melhor neste Secret Wars de 2015, escrita por Jonathan Hickman e desenhada por Esad Ribic. O motor da narrativa é exactamente a trágica figura de Victor Von Doom, agora literalmente Deus da realidade resultante da destruição do universo principal da Marvel no número um da série. Ou seja, quem melhor para fechar o universo anterior do que o seu maior vilão? Que melhor forma de fechar a mitologia anterior do que recorrer às figuras que abriram as suas portas em 1961? (não, aqui não existe misticismo, é mesmo intenção).

O que Hickman está a tecer neste Secret Wars é, até agora e na minha opinião, algo raramente visto na BD de super-heróis. Como mesmo os ocasionais leitores devem saber, são comuns estes eventos pancósmicos que colocam em perigo mais do que vidas, colocam em perigo a própria existência, o tecido da realidade. Mas, paradoxalmente ou, se calhar, até não, a qualidade é muitas vezes deficitária, isto para ser simpático (vejam Convergence da DC, o evento desta editora de 2015). Não é de todo o caso de Secret Wars. Repito: não é de todo o caso de Secret Wars. A qualidade da escrita é verdadeiramente acima do normal. O desenho de Ribic poderá vir a colocá-lo lado a lado com A referência destes eventos: George Pérez. Para mim, é tão bom assim. E (apontamento) estamos aqui a falar de puro entretenimento. 

O terceiro número é mais do mesmo, ou seja, uma história empolgante que desenha palcos titânicos de teatralidade cósmica, sem se esquecer das personalidades que fazem a narrativa, figuras trágicas de moralidade dúbia. Volta-se o enfoque para a figura divina de Doom, do seu companheiro mais próximo, o mais poderoso místico da Marvel, o Dr. Estranho, bem como na relação do primeiro com a sua "família": sim, o Quarteto Fantástico. Uma vez mais reitero que revelar mais será estragar a surpresa mas, pela primeira vez na história da Marvel, é revelada em toda a sua clareza a face de Doom, num dos momentos mais marcantes da narrativa mais profunda de Secret Wars, um estudo da intrigante personalidade do maior vilão da Marvel.

Hickman e Ribic parecem estar a tecer um dos mais relevantes momentos da história desta editora de super-heróis. É esperar que assim continuem.

5 comentários:

Optimus Primal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Optimus Primal disse...

Esses estão na pilha tudo de seguida mais vai ser um evento,pena que nunca vai chegar aqui via Brasil ou Portugues via Panini.Talvez numa coleçao com Jornal via Jornal daqui a uns anos,

SAM disse...

Este Secret Wars está a ser uma delicia, muito sinceramente. E as mini-séries que se passam nos diferentes reinos são, até agora, quase todas fantásticas. Muito recomendável. Espero que o final não desiluda.

Ivo Santos disse...

Sou mais um daqueles que estão muito satisfeitos com este Evento. Arrisco mesmo a dizer que poderá ( se assim mantiverem a qualidade) ser dos melhores eventos da última década.
Para não falar dos Tie-Ins que normalmente acho bastante aborrecidos não passando de "fillers" até nisso a Marvel trabalhou muito bem.

O Battleworld tem sido fantástico.

SAM disse...

Obrigado Ivo pelo comentário.

Sim, está a ser um dos melhores eventos de sempre,quem sabe mesmo o melhor da Marvel alguma vez publicado. As minisséries são fantásticas. Está a ser difícil encontrar uma que não tenha algum ponto de interesse. Sinceramente, nunca pensei que seria assim. Estou agradavelmente surpreendido.

Esperemos que o fim seja de acordo com as expectativas até agora geradas.