Inside Out de Pete Docter (Divertida-mente)

Confesso ter entrado na sala de cinema com alguns preconceitos. Achei que iria ver mais uma variação delicidoce dos temas habituais de muitos filmes de animação provenientes de terras do Tio Sam. Apesar de ser da Pixar, ainda assim não sou versado o suficiente na filmografia desta companhia para lembrar-me de alguma coisa que tenha feito. Deveria ter estado mais atento. Quem me deu Ratatouille e os Incredibles era bem capaz de conseguir repetir a proeza. Mal sabia eu que estava enganado em relação a tudo. Não só não deveria ter sido preconceituoso como ambos os filmes da Pixar que mais tinha gostado são bem capazes de ter sido superados. Este é, sem duvida, um dos filmes do ano para mim.

Apesar de tudo, custa-me dizer que aconselho este filme a crianças. Também o é mas a complexidade e tristeza de alguns momentos não são de todo recomendáveis para os mais pequenos. Sim, tem os personagens obrigatoriamente fofinhos, idiossincráticos, ternurentos, mas existem também temas bastante complexos: o da formação da personalidade, da memória e do amadurecimento.  Temas que são abordados de forma leve mas não leviana ou simplificada. A premissa é enganadoramente simples. Estamos no interior da cabeça de uma jovem, filha única, e somos testemunhas privilegiadas da forma como as emoções e memórias da jovem são criadas e administradas. Cinco emoções base antropomorfizadas formam uma espécie de Conselho de Gerência: Alegria; Tristeza; Raiva; Medo; Repulsa. Baseado nestas a história da memória e personalidade da jovem rapariga é construída, camada a camada, de forma a criar o complexo edifício que é o ser humano. O argumento, a verdadeira pérola deste filme, é robusto, trabalhado, e claramente inspirado em muito mais que apenas a subjetividade do autor. Existe um profundo trabalho de investigação acerca da forma como a personalidade e memória são construídas, com certeza baseando-se nas mais recentes teorias científicas. Contudo, isto apresentado de forma clara e sem perder o sentido de arte e de puro fascínio pela interrogação, pelo mostrar e não explicar. Não existe aqui "didactismo" forçado, antes uma suave e ternurenta explanação do que nos faz ser o que somos. Claro que não esquece tratar-se de um filme de animação mas temperado com um sabor agri-doce, o que faz de Inside Out algo completamente diferente e arrebatador. 

Num ano que teve dois filmes da famosa casa Ghibli este é o filme de animação que mais gostei. Uma vitória completa a todos os níveis. Aplausos de pé.


Sem comentários: