Secret Wars (2015), a terceira, quarta e quinta semanas.


As últimas páginas do primeiro número de Secret Wars oferecem uma derradeira e devastadora cena: a destruição completa dos universos principal e Ultimate da Marvel. No lugar destes aparece um novo mundo, uma manta de retalhos constituída por eras e universos díspares, roubados do defunto multiverso. A esse mundo deu-se o nome de Battleworld. A colecção de reinos que constituem Battleworld serão o foco, ao longo destes próximos meses, de múltiplas minisséries. Cada uma delas conta uma história singular que, contudo, não deixa de fazer parte do mosaico que é a nova realidade do universo da Marvel. Já aqui falei das duas primeiras semanas destas minisséries. Falo agora das três que se lhes seguiram.

Já há muitos anos que sigo as mitologias dos universos da Marvel e da DC. Já vi universos morrerem e ressuscitarem. Já vi inúmeros eventos deste gabarito, multiuniversais e moldadores da realidade. A maior parte ficava aquém das expectativas geradas. Não é, volto a repetir, o caso de Secret Wars até agora. Não só na série principal como também no foco deste post, as minisséries auxiliares, que são legião (como podem ver pelas imagens). 

Nestes três semanas que deixei acumular, começaram novas séries e outras continuaram. Destas últimas, continuo a destacar Old Man Logan de Bendis e Sorrentino que não só oferece os maravilhosos desenhos e composições de página da segunda, como constrói uma história que poderá ser diferente das restantes. Nesta realidade alterada pela mão agora divina do Dr. Destino, o Wolverine de Old Man Logan parece ser ainda mais deslocado. O que isso significa saberemos nos próximos meses. Também no gabarito de minisséries que poderão oferecer algo mais do que apenas diversão em Battleworld está, claro, Ultimate End, que desenha a derradeira aventura do universo Ultimate. Já sabemos que no universo renascido pós-Secret Wars teremos uma realidade agregada e esta minissérie, também de Bendis mas com os desenhos de Mark Bagley, é a coda dessa linha de publicação da Marvel que acompanhou os leitores nos últimos 15 anos. As duas mentes criativas que abriram as portas são também aquelas que as fecham. Segue-se uma aposta pessoal para a série que poderá esconder um segredo muito importante: Future Imperfect de Peter David e Greg Land. David regressa a um dos personagens com que mais é associado, o Hulk, mas na sua versão futura e psicopata. É uma história bem construída, alicerçada em reviravoltas de enredo e na prosa irónica e cáustica de David.  A última página é um momento particularmente importante, se tivermos em conta o que continua a ocorrer na série principal. Para acabar as séries que transmitem a sensação de relevância para o teatro global de Secret Wars, temos a minha escolha pessoal para a melhor desta safra: Thors de Jason Aaron e Chris Sprouse. O trabalho do primeiro em Thor depressa está a desenhar-se como sendo um dos pontos altos da já longa carreira do personagem, quem sabe vindo a ombrear com a parelha Lee/Kirby, os criadores, e com Walt Simonson, o revolucionário. Efectivamente, não canso-me de elogiar o trabalho de Aaron (leiam mais aqui e aqui) que continua a ser brilhante (os leitores atentos saberão que esta nova realidade, a de Battleworld, já tinha sido prevista pelo Thor do futuro - um pequeno apontamento geek).

Das séries que continuam de semanas anteriores, sublinho os trabalho de Soule e Timms em Inhumans - Attilan Rising, bem como de Hopeless e Gárron em Inferno. O segundo oferece uma história descomprometida mas divertida de uma realidade alterada dos X-Men. O primeiro entretece-se, de forma entusiasmante, na macro-tapeçaria de Secret Wars, misturando mistério e rebelião num desfecho que se espera interessante.

Quanto às muitas séries novas, irei destacar apenas algumas, obviamente aquelas de que mais gostei. Começo pela surpreendentemente boa Squadron Sinister de Guggenheim e Pacheco. Não esperava grandes vôos deste trabalho (Guggenhiem nunca me suscitou entusiasmo) mas depressa fui corrigido. Os personagens são vilões, o enredo chega a ser tão subversivo quanto lhe é permitido ser, aludindo, de forma muito leve, ao trabalho de Gruenwald nestes mesmos personagens na década de 80 e também ao seminal Watchmen. Tendo como protagonistas personagens femininas destaco os excelentes 1602 de Bennet, Gillen e Hans e Captain Marvel and the Carol Corps de DeConnick, Thompson e Lopez. O segundo é uma leve a divertida aventura de um dos mais interessantes personagens da Marvel, a Capitã Marvel. O primeiro vale também pelos extraordinários desenhos, aliás uma das grandes apostas da Marvel neste evento. Outro exemplo desta coragem para desenhos idiossincráticos (no contexto da BD de super-heróis) é Weirdworld de Aaron e Mike DelMundo. Este segundo artista, o desenhista, já havia se destacado em Elektra e continua aqui a surpreender os que gostam de um traço em estilo aguarela. Para terminar este já longo post (da próxima não acumulo tantas semanas), quero destacar Amazing Spider-Man, Renew Your Vows, de Dan Slott e e Adam Kubert. O experiente escritor  do Cabeça de Teia constrói uma realidade onde o casamento de Peter Parker e Mary Jane Watson não foi eliminado num pacto de ambos com o Diabo. Neste mundo, Peter continua a ser o Homem-Aranha mas com esposa e uma filha. A história acaba por ser uma delicodoce análise da mitologia desta fabuloso personagem, honrando a sua filosofia e avançando a história por caminhos se não surpreendentes pelo menos menos emotivos. Também este parece vir a ser outra vitória da Marvel no evento que poderá ser, para mim, o melhor desde a Crise nas Terras Infinitas. É esperar e esperançar!


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