Miracleman - Olympus de Alan Moore e John Totleben

Esta semana, um actor com fortes credenciais geek, Simon Pegg, veio criticar a excesso de infantilização do Cinema, com os seus super-heróis e os seus franchises (leiam o artigo que é francamente interessante e, apesar de estar a falar um pouco contra mim, cheio de verdades). De facto, existe um apelo forte às gerações das décadas de 70 e 80 para recuperar a sensação dos brinquedos e dos livros que nos davam prazer na infância, uma busca hedonista de um período para sempre mais feliz (?). Um período com o qual, para muitos, é impossível competir. Não deveria, vou ser claro. Como para outros que partilham comigo o amor à Banda Desenhada e a tantas outras coisas que nos são caras, esse amor não deveria ofuscar a busca por narrativas complementares diferentes, que nos fazem sair do cobertor confortável. Deveremos defender sempre a nossa dama, claro, mas não às expensas de outras buscas.

Ora, esta procura da reprodução de quando éramos putos não é de todo descabida. Bem vistas as coisas, é qualquer coisa como uma droga que activa os centros de prazer certos, uma injecção de dopamina. Mas não tenhamos dúvidas que é muito difícil atingir este Nirvana, este El Dorado, este cobertor maternal. Que conjugação caótica de elementos e circunstâncias têm de ser conseguidos para aqui chegar? Que acaso e azar tem de ser orquestrado? Eu digo-vos o que tem sido para mim: Miracleman de Alan Moore. Que prazer imenso, que hedonismo puro, que abandono emocional e intelectual.  E, ainda por cima, vindo de um livro publicado há mais de 30 anos, cuja lenda já me tinha chegado aos ouvidos mas com a qual ainda não tinha tido o prazer de contactar. 

É possível que eu não consiga recomendar suficientemente bem este livro. É tão bom que dói. Principalmente pela intrínseca qualidade e talento de todos os envolvidos mas também por ser possível ver a BD dos 30 anos que se seguiram. Alan Moore e John Totleben seguiriam para Swamp Thing depois disto e, finalmente, percebo porquê. Percebo a idolatria de tantos em relação à obra que termina com este terceiro volume. Isto é um regresso à infância temperado pela maturidade, se é possível conciliar tanta coisa inconciliável.

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