Bill Maher e Jon Stewart, dois fantásticos comediantes americanos, reflectiam, numa entrevista do segundo ao primeiro, que os EUA eram o único país desenvolvido onde a religião tinha um peso verdadeiramente relevante em todos os aspectos da vida pública, nomeadamente na política. Mais depressa chegaria uma mulher ou um homossexual à presidência do que um ateu. Para quem vai sabendo um ou outro pormenor da sociedade norte-americana sabe que isto é verdade. Este "estado de alma" tem que, obrigatoriamente, entrar com força e determinação naqueles que reflectem e pensam sobre o mundo que os rodeia. Um desses grupos são os artistas, que insistentemente procuram as verdades onde as mentiras se erguem. E os artistas podem ser vários e de diferentes formas, quer sejam cineastas, poetas ou escritores e desenhistas de BD.
Num post anterior já tinha dado um pequeno vislumbre deste East of West (leiam aqui). Talvez por experiência ou, pura e simplesmente, por falta de tempo, tinha decidido não me alongar nos (já certos) elogios a esta mais recente obra de Hickman. Depois de ler este segundo volume essa contenção é já impossível, na medida em que estive defronte de uma das melhores leituras dos últimos tempos. Nas mãos de alguém menos versado na arte da escrita, a salada russa que é este East of West sairia pretensiosa e confusa, mas nas destras capacidades de Hickman sai um prato que não só nos permite saborear individualmente cada tempero como ter um sorriso na boca o tempo todo. Isto é entretenimento para a cabeça e é cabeça para o entretenimento. Cowboy que assume a identidade da Morte dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, mistura-se com arautos do fim do mundo prometidos à nascença. Totems demoníacos nativo-americanos coabitam com crianças criadas com ligações diretas à internet versão delírios de Steve Jobs. Tudo marinado num caldo de religiosidade, redenção e esperança.
Que final alucinado pode esperar-se desta obra louca de Hickman? Não sei, mas a viagem é maravilhosa demais para preocupar em perder-me neste surrealismo calculado. Esta obra é prova de que a Image é a Vertigo deste século XXI. Viva a Image!
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