Há filmes que valem
não só pela peça de arte que são mas também por serem um potente comentador dos
acontecimentos e zeitgeist mundiais.
O conflito israelo-árabe tem criado várias reflexões cinematográficas,
curiosamente duas delas estreadas este ano: este Omar e O Atentado de Ziad
Doueiri (leiam o que achei aqui). Ambos têm, contudo, mais do que apenas esse
ponto em comum. Ambos parecem inclinar-se para o lado árabe da conflagração e
menos para o israelita. Reconheço, desde já, a minha quase completa ignorância
acerca deste conflito e, portanto, não professo aqui fazer qualquer tipo de
consideração a respeito e tampouco (deus me livre) juízos de valor com inclinação
ideológica. Apenas posso apreciar o filme… perdoem-me.
Nesse respeito,
adorei. Além de laivos ao estilo de Romeu
e Julieta, pelo facto de estarmos a falar de um casal amoroso dos dois
lados da fronteira, a complexidade é colocada defronte da história por, uma vez
mais à semelhança de O Atentado, alguém
do lado israelita ser praticante de atos a favor da libertação árabe, neste
caso o titular Omar. Este é um homem que, aparentemente, simpatiza com a causa
pelo facto de estar enamorado da irmã de um procurado terrorista. Contudo, ao
longo do filme e até o seu fim, percebemos que não só isto não é verdade como ele
chega a distâncias maiores que aqueles que, professamente, teriam mais razões
para defender a rebelião árabe. É neste terreno pantanoso, tão apropriado a
filmes que analisam conflitos reais, que se movimenta Omar, quer o filme, quer o personagem.
A realização não é
intrusiva, antes afirma-se de forma discreta, utilizando dos recursos
cinematográficos de forma a contar a história, como aliás deverá sempre ser – isto
na minha opinião, ainda que adore realizadores onde se nota que é aquele e mais
nenhum que dirige a película. Não há excessos de formalismos, apenas a
proximidade necessária (ou a distância exigida) para que o drama e o enredo se
desenrolem apesar da presença da câmara. A ver!
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