Colecção DC Levoir/SOL – 8.º Volume: Batman

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta colecção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)


Grau de acessibilidade: Fácil

Sai Sexta-feira, dia 17 de Janeiro, junto com jornal SOL e custa 8,9€

Apesar de não ter sido o primeiro dos super-heróis, o Batman, insistentemente, tenta tirar o original do pódio de herói mais conhecido no mundo inteiro. Mesmo que o não seja para a maior parte dos leitores ocasionais de BD ou apreciadores do personagem por via do cinema ou TV, o mesmo não se pode dizer para os apreciadores e criadores do género. Por razões que se prendem com as mais variadas confabulações, o Batman é daqueles personagens que tocam no âmago de muitos, um chamamento primitivo para a necessidade de justiça (e não de vingança), um herói que permite um nível de identificação muito superior ao do homem de aço, com os seus super-poderes, a sua capacidade de voar, a sua invulnerabilidade, a sua origem alienígena. Batman é o super-herói que todos poderíamos ser, se munidos de muito dinheiro, forma física invejável e uma determinação fanática. Existe algo de primal nisto, uma capacidade de identificação com a agenda de um homem que tenta vingar a morte dos seus pais, uma ânsia elementar de controlar aquilo que escapa ao nosso controlo. Esta é apenas uma de muitas razões, mais psicológica, se quiserem, mas existem outras, mais estéticas, relacionadas com o universo onde o personagem se movimenta: uma cidade negra e gótica, reflexo negro de uma Nova Iorque do início do século XX; uma galeria de vilões soberbos, porventura a melhor dos vários panteões da BD americana; um conjunto de coadjuvantes, que funcionam como contraponto e como intensificador da cruzada cega que impele obstinadamente o personagem.

Por todas estas razões, foram muitos os criadores das mais diversas artes a dedicar um pouco da sua atenção e inspiração ao alter-ego de Bruce Wayne. Num exemplo mais mainstream, que outro personagem da BD se prestaria a interpretações tão díspares quanto as feitas por Tim Burton e Christopher Nolan? Isto sem perder um átomo  da infra-estrutura que faz de Batman o Batman? (não, não vou aqui falar do sofrimento que foi a visão de Shumacher). Na BD não é diferente! Aliás foi da BD que estes dois autores puderam retirar as suas visões tão diferentes, porque se esse salto já não tivesse sido feito por inúmeros criadores como Frank Miller, Denny O'Neil, Alan Grant, Neal Adams, entre tantos outros, o cinema nunca poderia ter tido matéria prima para as suas visões tão sui generis. A mistura de uma matriz moldável e adaptável com criadores verdadeiramente talentosos, proporcionou que se criassem das melhores e mais perenes obras da BD, algumas já publicadas nesta coleção da Levoir.

O enfoque deste novo volume cai essencialmente no trabalho de um dos mais conhecidos desenhistas a trabalhar no Cavaleiro das Trevas, Tim Sale, e a  sua colaboração com os escritores James Robinson e  Alan Grant. Sale é mais conhecido pelas suas colaborações com Jeph Loeb, especificamente nos verdadeiramente essenciais The Long Halloween e Dark Victory, o primeiro dos quais uma das bases de inspiração para a interpretação de Harvey Dent no segundo filme da trilogia de Nolan. Infelizmente, não temos essas duas maravilhosas sagas nesta colecção, mas não vale a pena desesperar porque o futuro é ainda incerto e as amostras incluídas neste maravilhosos volume são um bom atiçador de palato. 

Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

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