Isto não é uma deambulação pela qualidade desta
coleção da Levoir, que aqui e em
outros lugares já defendi com veemência militante, mas antes uma declaração da
surpresa (boa) que foi reler esta maravilhosa aventura escrita por Geoff Johns e desenhada por Gary Frank. Mesmo! Que delícia!
Tenho os livros originais que adquiri à
altura, os chamados floppies mensais,
mas porque tenho menos tempo para dedicar ao vício da BD do que desejaria, nunca
os reli. Fi-lo agora com a coleção lançada pela Levoir neste seu 19.º volume dedicada à DC Comics e o conto de Johns
e Frank só ganhou com isso.
A narrativa encontra-se estruturada de forma
moderna, inspirando-se menos na serialização que tem pautado os comics quase desde sempre, mas antes no principio
de finitude, ou seja, mesmo para os menos entendidos na convoluta história do
Super-Homem e da Legião dos Super-Heróis, será relativamente (sublinhado) fácil
entender o que se está a passar. Para isso Johns,
inteligentemente, escolhe alguns temáticas sub-textuais que são facilmente apreendidas.
Um dos mais interessantes aspectos disto que acabo de referir é a alusão ao
significado que o figura histórica que é o Super-Homem
assumiu na sociedade do século XXXI, estando associado a aspectos quase
messiânicos. Por sua vez, este lado divino do mais antigo dos super-heróis é
lido, na narrativa de Johns, de duas
formas: por um lado, o facto de ter estado na origem de uma filosofia,
propagada pela História, de fraternidade e respeito pela diferença, que não é
diferente da mensagem de um MLK ou Gandhi; por outro lado, o facto de terem se passado
1000 anos e de a sua mensagem original poder ser deturpada ou mesmo subvertida.
Este último aspecto é, aliás, um dos motores da narrativa.
Mas Johns
não se fica por aqui. Para quem está atento aos desenvolvimentos recentes da
sociedade norte-americana, encontrará ecos na história deste volume. Falo da
forte polarização de uma nova/velha forma de ver a religião, a interpretação
fanática (no caso da história desta BD, assumidamente deturpada) da filosofia,
ou melhor, da liturgia – isto para usar termos religiosos – que terá sido
passada pela figura messiânica em causa, o Super-Homem. Escolhe-se ver aquilo
que se escolhe ver, usando termos mais coloquiais. Esta situação torna-se ainda
mais “caricata” quando a própria figura messiânica em causa viaja 1000 anos para
o futuro, e é desacreditada como charlatã e como desavisada dos preceitos que,
pelos vistos, ele próprio teria criado.
Obviamente que tratando-se isto de uma
aventura de super-heróis mais mainstream, muitas destas mensagens são abordadas
de forma mais leve, mas Johns tem o
condão de, sub-repticiamente, tornar relevantes aspectos que, à partida, seriam
apenas adjacentes. Sim, porque este escritor excede-se no aspecto mais puro da
BD de super-heróis, aludindo à continuidade de 50 anos da Legião, fazendo regressar velhos personagens que os fãs ansiavam
ver regressar, tudo misturado com uma abordagem e prismas relevantes. Sem
duvida umas das melhores escolhas que a Levoir
poderia ter feito.
Inspirado por esta releitura decidi voltar a
ler a história que vinha de seguida: Legion
of 3 Worlds de Geoff Johns e George Pérez. Aqui a coisa já pia de
forma diferente! Estamos perante aquilo que, coloquialmente e desculpem os mais
sensíveis, apenas posso apelidar de puro “geekasm”.
Não só é desenhado pelo ENORME George
Pérez, que nesta história faz bom uso dos seus incríveis dotes de narrador
e de deslumbrador, como é orgulhosamente imerso na (aqui sim, posso dizer sem
pruridos) convolutíssima continuidade da Legião
dos Super-Heróis e mesmo do Universo da DC Comics. Aparecem três, leram
bem, três versões da Legião, aquelas que foram publicadas ao longo destes 50
anos, são referenciadas as duas grandes crises que abalaram o espaço-tempo
deste universo, a Crise nas Terras
Infinitas e Crise Infinita, aparecem
diferentes versões do Super-Homem e a
da sua versão mais nova, o Superboy,
entre tantas outras maravilhosas delícias para os “verdadeiros” fãs, ou melhor,
os únicos que poderão apreciar tudo isto de forma plena (infelizmente, digo
eu). Não sei se poderei ir tão longe e ter esperança que esta história será
publicada pela Levoir, por todas
estas razões, mas posso pensar que haverão aqueles, mais fãs ou menos fãs, que
não conheciam e agora fiquem curiosos de a ler. Nem que seja pelo puro sentido
de entretenimento.
2 comentários:
Iniciei a leitura ontem deste último livro da Levoir. Para já estou a gostar, ainda só vou no início mesmo, mas já deu para ver que é uma história "à Geoff Johns"!
;)
O resto também tenho, Final Crisis e os 3 spin-offs onde se inclui Legion of Three Worlds. Aliás, para mim foi um caso em que os spin-off foram bem melhores que o arco principal!
:D
Boa, Nuno. Lê e depois diz qq coisa. Gostei bastante de a reler.
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