Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! É um prazer que rezo para nunca acabar. De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei. Só isso: gostado. Não são nem melhor nem pior que outras coisas.
Justice League (2018) número 1 de Scott Snyder e Jim Cheung (DC Comics)
Os super-heróis são uma novela interminável. Uma história que nunca acaba verdadeiramente. É algo que faz parte da mitologia e que funciona a seu favor e contra. Os artistas que trabalham neles têm que lidar com esta realidade - que se tem agravado nos últimos tempos. Quer a DC, quer a Marvel, para estimular as vendas, perpetuam essa novela, aliciando a próxima história no final de outra. É um ciclo autofágico que, por vezes, tem bons resultados e, por outras, não. Tudo depende da qualidade da história e do talento dos artistas.
O escritor Scott Snyder tem conseguido perpetuar de forma inteligente o seu próprio canto da novela. Começou com uma sequência histórica no Batman, continuou no evento/saga Dark Nights: Metal e esticou para esta nova série da Liga da Justiça. O sucesso de vendas dos dois anteriores permitiram que prosseguisse a sua versão do universo DC na revista da maior equipa de super-heróis deste mundo fictício. Nela estão reunidas as maiores personagens da editora (ou franquias, como agora gostam de as chamar): Super-Homem; Batman; Mulher-Maravilha; Flash; Lanterna Verde; etc. Com um panteão deste nível, as aventuras tendem a ser macro-cósmicas, de uma escala apenas reservada aos Deuses. E Snyder não poderia ter almejado a uma escala mais gigantesca: a exploração dos segredos do tecido multi-universal.
No fim de Dark Nights: Metal uma infinidade de possibilidades abriram-se. O multiverso da DC não era mais um mapa organizado. Os limites desse mapa desapareceram e agora, para lá deles, existe um mistério insondável. Os primeiros passos dessa exploração aconteceram na mini-série No Justice (leiam aqui o que achamos que achamos), mas esses eram apenas o aperitivo do prato principal que vai ser servido nas páginas desta nova revista da Liga da Justiça.
Snyder recupera alguns conceitos que foram introduzidos em séries de TV do passado dedicadas a esta equipa. Não só a formação da Liga evoca os desenhos animados da autoria de Bruce Timm do princípio deste século, como é apresentado um grupo de vilões que nunca assumiu aquele nome no universo "normal" da DC - e que fazia parte de outros desenhos animados, os Super-Friends, exibidos entre 1973 e 1985. Ainda que estas sejam modificações carregadas de nostalgia e pouco mais que formais, o autor apresenta-as numa escrita doseada com temperos de maravilha, escala, personalidade e aventura. Ao mesmo tempo que navegamos pelo perigo dos adversários e pela eminência de uma ameaça futura, Snyder brinca com as personagens de forma familiar e divertida. Não descurando o que veio de trás, o autor visita velhos conhecidos debaixo de uma nova luz, o que consegue sem esforço. Destaca personagens mais obscuros como o Caçador de Marte, ou outros mais conhecidos como Lex Luthor, que é apresentado como a maior ameaça a esta nova realidade universal. Por outro lado, o desenhador Jim Cheung realiza um excelente trabalho, contribuindo com páginas bem estruturadas e que são um regalo para os olhos. É pena que não consiga entregar mais que dois números a cada seis meses.
A Liga da Justiça deve, preferencialmente, ser vista como uma equipa de super-heróis em que o cósmico é o seu palco de actuação. Nesse aspecto, este primeiro número entrega sem reservas. Veremos o que os próximos nos trazem.
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