Uma BD aqui, outra BD ali, 15

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

Immortal Men número 1 de James Tynion IV, Jim Lee e Ryan Benjamin (DC Comics)

Depois da mini-série Dark Nights: Metal, a DC Comics decidiu apostar num conceito inovador. As duas grandes editoras dos EUA têm sofrido, de algumas décadas a esta parte, de um grave problema: raramente apostam em novas criações. Devido à política de direitos exercidos sobre conceitos que habitam os universos partilhados de super-heróis, muitos autores não têm vantagem em fornecer boas ideias, quando não são eles a lucrar com elas. Depois de exemplos como Siegel e Shuster, os criadores do Super-Homem, ou de Jack Kirby, uma das mentes que originou a BD nos EUA, é normal que os seus herdeiros artísticos refugiem o melhor da imaginação no domínio do privado. 

Esperemos que algo se tenha modificado neste contexto para que tantas novas personagens aparecessem na DC - ainda que exista algo de estranhamente familiar nelas. Já falei aqui do The Terrifics, ou aqui de Damage. Ambos são homenagens mal disfarçadas ao Quarteto FantásticoHulk, respectivamente, e estes Immortal Men, ainda que tangencialmente, fazem lembrar os X-Men (estes também já eram inspirados na Doom Patrol da DC, portanto "ladrão que rouba a ladrão"...). Ainda assim, o conceito por detrás deste grupo aborda ideias já antigas intrínsecas à DC, como o Immortal Man, o Vandal Savage, etc., mas com uma maior abrangência tentacular na História Secreta do Universo. Tynion cria novas ideias e novas personagens e alicerça-as numa luta que dura há milénios no interstício escondido do mundo. O resultado é divertido q.b., ainda que denso, dificultando um pouco o entretenimento. Teremos de esperar pelos números que se seguem mas, do que aqui é mostrado, e tendo em consideração o trabalho do escritor na revista Detective Comics, estou disposto a dar o benefício da dúvida.

Um dos selling points desta nova leva de revistas pós-Dark Nights:Metal era a aposta nos desenhistas. Seriam o centro das atenções. A eles seria seria dada carta de alforria para descarrilar a imaginação. Neste Immortal Men a tarefa cabe ao lendário Jim Lee. Acontece que ele desenha apenas parte do título, partilhando muitas páginas com Ryan Benjamin, que não tem o mesmo talento. Depois de tanto alarido, parece que as promessas da DC caíram em saco roto, o que, infelizmente, não fornece muita confiança no produto e no seu futuro. Provavelmente, será melhor confiar no escritor, já que estes artistas não são, de todo, Jack Kirby.

Captain America número 700 de Mark Waid e Chris Samnee (Marvel)

Infelizmente, está a chegar ao fim a terceira leva de histórias do escritor Mark Waid para o Capitão As duas primeiras têm já quase 20 anos e eram, na opinião deste fã, do melhor que foi produzido para o Sentinela da Liberdade. Waid tem inclinação para escrever super-heróis à moda antiga, não só porque é um uber-geek com talento, mas também porque possui um optimismo vincado e militante (leiam o seu Kingdom Come, por exemplo). Os seus homens de collants são bastiões de bondade e de verdade, constantemente na luta pelo que é Bom e Belo - percebem porque escrevi super-heróis à antiga?

Esta terceira tentativa não é diferente. 

Waid recorre a um dos mais antigos e usados clichés da BD: o distópico futuro alternativo (inaugurado no essencial X-Men: Days of Future Past dos lendários Claremont e Byrne). Sobre este faz uma pequena modificação, usada para analisar a personalidade daquela que é repetida e injustamente considerada como a personagem mais canastrona da Marvel (muito à semelhança do que acham ser o Super-Homem). A história segue à velocidade de um Tintin de Hergé, com rapidez de acção e determinação no enredo, não desviando-se do propósito que é seu desde o início: descrever quem é o Capitão América.

Auxiliado pela linha clássica e clara de Samnee, temos em mãos uma saga que poderá vir a figurar no melhor que já foi feito sobre a personagem e que ficará bem na prateleira numa edição Deluxe. Aliás, declaro minha esta previsão e este pedido: façam um filme desta história, quem sabe até um último hino de Chris Evans, se convencido a ficar ou se sobreviver à Infinity War - que estreia nos cinemas no próximo dia 25 de Abri.

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