Dizem que chega ao fim. Dizem que Hugh Jackman encerra a sua prestação como Wolverine e que Patrick Stewart diz adeus aos poderes psíquicos do Professor X. Para os que não conhecem, falamos de dois personagens do grupo de super-heróis da editora Marvel, os X-Men, mutantes por nascença e perseguidos (não) por opção. O que são os mutantes? Segundo a mitologia criada por Stan Lee e Jack Kirby e desenvolvida por Chris Claremont, John Byrne, Len Wein e Dave Cockrum, mutantes são a evolução da Humanidade, o que o Homo Sapiens Sapiens foi para o Homo Sapiens Neanderthalensis. Os mutantes são o Homo Superior, o novo estado na evolução, uma espécie melhor adaptada.
Graças aos autores que enumerei, os X-Men têm sido, de forma continuada, um dos maiores sucessos da editora de BD dos EUA, dando origem a spinoffs, desenhos animados, merchandise, jogos de computador e, claro, a muitos e muitos filmes. Começou em 2000, com o primeiro a ser realizado por Brian Singer, arauto da maior mania do Cinema do século XXI: os super-heróis. À altura, a Marvel ainda não era o poderio cinematográfico que de hoje e vendeu os direitos de adaptação à Fox, que continua, inexoravelmente, a lançar filme após filme (muito para descontentamento da editora, que já mais que uma vez tentou recuperar os direitos). Tal como na BD, Wolverine acabou por transformar-se num sucesso por si mesmo, não só graças ao personagem mas também ao carisma de Hugh Jackman. Para ser totalmente sincero, o actor era o um dos poucos elementos que salvava os dois filmes anteriores. O primeiro era uma obra-prima do sofrível e do incoerente. O segundo tem bastante mais lustro (não era difícil) mas, ainda assim, longe da BD e da obra que procurava adaptar (I, Wolverine de Chris Claremont e Frank Miller, publicada recentemente pela Salvat na coleção Graphic Novels da Marvel).
Eis que surge Logan de James Mangold, apresentado com o pedigree de também adaptar uma obra da BD: Old Man Logan de Mark Millar e Steve McNiven (publicada pela Levoir junto com o jornal O Público), onde estes dois autores avançavam no tempo para nos retratar um Wolverine idoso e derrotado. A banda desenhada era um exercício típico de Millar: uma "grande ideia" com execução cinematográfica - grandes paisagens, momentos surpreendentes e tragédia operática. O enredo de Logan apenas partilha com esta BD da idade do personagem principal. Tudo o resto diverge fortemente. Os anos passaram e Wolverine é um homem completamente diferente, cansado, com o corpo a funcionar lentamente, uma miragem do vigor da juventude. Com ele habitam um Professor X também debilitado e Caliban. Paralelamente, entra em cena uma nova mutante, jovem com características familiares a Wolverine, perseguida por uma organização de propósitos poucos benévolos.
Logan foi classificado "para adultos" e todos os envolvidos fazem bom uso dessa etiqueta, aumentando os palavrões (a primeira palavra do filme logo o sublinha), a complexidade das emoções e a violência. Num filme que tem como protagonista um guerreiro ultra-violento com garras, a violência é primeira natureza e Mangold explora-a à exaustão. Existem inúmeras sequências de brutalidade sanguinária como quase nunca se viu em nenhum filme de super-heróis (e mesmo em muitos filmes de guerra). Mas isto pouco mais seria do que apontamentos de estética se o enredo, realizador e actores não entregassem uma história com peso. O que é o caso. A passagem do tempo e o obsoletismo são o tema deste Logan, sublinhado em vários momentos de relevância e peso variáveis. A diferença entre a maturidade (por vezes niilista) e a capacidade para esperança da juventude são um dos mais interessantes aspectos deste Logan, com Wolverine como centro desta reflexão. Esta é uma história sobre deixarmo-nos ir, mesmo quando temos um factor de cura que nos torna quase imortais. É sobre envelhecer e partir, deixando a esperança de um mundo diferente e melhor para os que se seguem. É um filme de acção para adultos, violento e o adeus de um actor a um personagem cuja pele vestiu durante 17 anos. Que venha o próximo Wolverine (eu, por mim, voto em Tom Hardy - agora é altura de termos um Logan baixinho e louco).
Logan foi classificado "para adultos" e todos os envolvidos fazem bom uso dessa etiqueta, aumentando os palavrões (a primeira palavra do filme logo o sublinha), a complexidade das emoções e a violência. Num filme que tem como protagonista um guerreiro ultra-violento com garras, a violência é primeira natureza e Mangold explora-a à exaustão. Existem inúmeras sequências de brutalidade sanguinária como quase nunca se viu em nenhum filme de super-heróis (e mesmo em muitos filmes de guerra). Mas isto pouco mais seria do que apontamentos de estética se o enredo, realizador e actores não entregassem uma história com peso. O que é o caso. A passagem do tempo e o obsoletismo são o tema deste Logan, sublinhado em vários momentos de relevância e peso variáveis. A diferença entre a maturidade (por vezes niilista) e a capacidade para esperança da juventude são um dos mais interessantes aspectos deste Logan, com Wolverine como centro desta reflexão. Esta é uma história sobre deixarmo-nos ir, mesmo quando temos um factor de cura que nos torna quase imortais. É sobre envelhecer e partir, deixando a esperança de um mundo diferente e melhor para os que se seguem. É um filme de acção para adultos, violento e o adeus de um actor a um personagem cuja pele vestiu durante 17 anos. Que venha o próximo Wolverine (eu, por mim, voto em Tom Hardy - agora é altura de termos um Logan baixinho e louco).
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