Jirô Taniguchi vê o mundo como todos nós e, ao mesmo tempo, de forma tão singular. Ler um livro deste autor japonês de Banda Desenhada é mergulhar no mundano, no de tal forma corriqueiro que perguntamo-nos: só isto? Onde está a poesia? A grandiloquência? A arte? Está lá tudo, não duvidem, disfarçado pela patina do normal, do banal dos dias que passam sem notícia digna de jornal. Pode ser apenas um homem que encontra um cão, decide levá-lo para junto da sua esposa, cuidam dele e, anos mais tarde, o animal morre. Pode ser um homem que ama caminhar ao ponto de perder um dia de trabalho por causa disso.
O delicioso passar das horas nos dias calmos pode parecer pouco interessante para qualquer obra de arte ou de entretenimento. Uns lêem Taniguchi e nele não vêem nada de especial. Para mim, é exactamente nesta calmaria que ele se enche de mestria e de arte. Os quadradinhos e as páginas sucedem-se de forma fluída e enchem este leitor de paz e de alegria por poder ver e rever algo maior no simples abanar das folhas das árvores ou de um encontro fortuito. O maior não tem necessariamente de ser divino ou de ser uma epifania. Se acreditam no banal e no real podem encontrar em Taniguchi alguém que partilha da vossa poesia. Mas se acreditam numa força mais pura e animal, a da mãe natureza, também podem ler Taniguchi e sentirem-se preenchidos. Nessa mistura que é, no fundo, o de encontrar o belo na rotina e nos pequenos prazeres, reside muito do que faz este autor uma das enormes referências da 9.ª Arte.
Adorado em França, onde foi descoberto para a Europa, a sua sensibilidade é um pouco a deste nosso continente, mas sou dos que acreditam que ela deve-se muito mais ao país de origem, à leveza com que interpretam e vivem o dia-a-dia, à aproximação que fazem entre o natural, o religioso e o tecnológico. Taniguchi destila esse saber-estar de forma cândida. Um mestre em todos os sentidos que atribuo à palavra e estes dois livros são prova disso: Terra dos Sonhos, publicado em Portugal pela Levoir, e L'Homme que Marche, editado em Portugal em 2005 numa parceria da Devir com o Correio da Manhã.
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