Rapidinhas de BD - Descender vol. 1 de Jeff Lemire, Dustin Nguyen e Lex Luthor de Brian Azzarello, Lee Bermejo



A Image, editora de BD dos EUA, permanece como um dos actuais antros da melhor 9.ª Arte a nível mundial. No fundo, no fundo, segue a pegadas da DC Comics tal como esta era antes. Ou seja, uma editora que não só continua o seu trabalho de publicação de personagens mais conhecidos e "mainstream" (Invincible, The Walking Dead, Spawn, Savage Dragon), como arrisca forte em trabalhos de "autor". A DC já foi o mesmo: uma casa-mãe que publicava os melhores super-heróis do mundo e as várias imprints, das quais se destacava a Vertigo, onde escreveram-se e desenharam-se algumas das mais importantes obras da História da BD. A gigante DC está a passar por um momento de mudança de paradigma  que os fãs como eu esperam que os leve a bom porto. A Image já mudou há algum tempo e a vitória tem acontecido em (quase) todas as frentes.

Um dos novos exemplos desta vitória da Image é Descender de Lemire e Nguyen, autores habituados e trabalhar para as grandes. É a história de uma galáxia distante, de um robô-miúdo e de estranhos seres gigantescos (uma espécie de A.I. de Spielberg/Kubrick meets Eternals de Jack Kirby). Ao contrário de trabalhos anteriores de Lemire, mais esotéricos e kubrickianos (Trillium, Sweet Tooth), este Descender pende para um lado mais de entretimento com profundidade temática e dramática, mais Spielberguiano. O valor comercial desta obra não parece escapar aos autores e aos produtores de Hollywood que poderão estar a chegar a um acordo para uma adaptação à 7.ª Arte. Com certeza que perderá muito da paleta de cores e do traço do soberbo trabalho de Nguyen, que assume um lado diferente da sua arte, mais ligada à aguarela, fornecendo uma camada de ironia ao estilo dos livros de ilustração infantil. Não sendo ainda uma BD fabulosa, não deixa de estar já num patamar de qualidade confortável e merecido.

Lex Luthor de Azzarello e Bermejo é o 9.º volume da colecção da Levoir/Público e o único que ainda não tinha tido o prazer de ler no original. Faz já parte da recta final da fase da DC que eu adorava e é um de dois volumes concebidos pelos autores e dedicados aos dois maiores vilões do universo de super-heróis da editora (o outro é o Joker, também publicado pela Levoir). Azzarello tem um estilo de escrita que funciona de forma perfeita na língua original, na medida em que usa trocadilhos e subentendidos que jogam com expressões idiomáticas e duplos sentidos. Não li o original mas não tenho a sensação de perda nesta tradução. Verdade seja dita que o script do escritor, combinado com o "partir-de-página" do desenhador, demonstra trabalho profundo de colaboração, que carregam a história e a ironia de forma soberba. Ambos abordam um dos mais paradigmáticos e complexos personagens da editora não só do ponto de vista de fãs mas também mais transversal - a sequência inicial é particularmente deliciosa, pura Azzarello e pura Luthor. Sem dúvida uma grande BD numa grande colecção.

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