O que vou lendo! / Ler sem Medo – Man of Steel de John Byrne e Birthright de Mark Waid (escritor) e Leinil Yu (desenhista)

Já aqui falei da estranha e complicada história(s) da origem do Super-Homem e do facto de existirem diferentes versões do mito nos seus 75 anos de vida. A DC Comics, editora que detém os direitos do personagem, já reiniciou o seu universo de super-heróis uma mão-cheia de vezes o que, consequentemente, possibilitou que diferentes autores dessem a sua versão “definitiva” da origem do personagem. Nem todas foram bem-sucedidas, mas estas duas são das mais conhecidas e também melhor conseguidas. São também versões muito diferentes não só nos factos que relatam como também na psicologia do Homem de Aço. Não falo da personalidade (essa é relativamente imutável), mas do pedigree. Enquanto John Byrne, no seu Man of Steel, considera a educação terrestre como a melhor parte do personagem (ou seja, o lado Clark kent), Mark Waid pende para a herança kryptoniana (o lado Kal-El) – pronto, já perdi todos os leitores que não leem muito BD. Calma. Não fujam!
Nunca tinha lido o Birthright de Waid e Yu, mas o recente filme do Homem de Aço (cujo argumento foi influenciado por este livro) e o que andei a escrever sobre o personagem, despoletaram a minha curiosidade sobre uma obra da qual apenas ouvia elogios.
Não eram desmerecidos! Waid ama o Super-Homem, o próprio é o primeiro a admitir, ao ponto de obsessão, ao ponto da devoção. E isso nota-se em cada frase do livro, em cada diálogo, em cada cuidado com a reinterpretação do mito. E, tal como um outro leitor afirmou, Waid tem o dom de contar uma história conhecida, lida e desconstruída um milhão de vezes e fazê-la parecer fresca e inovadora. Para isso não só incide o seu foco no essencial, o Super-Homem, claro, mas também num dos revezes da medalha mais perniciosos da mitologia… Lex Luthor, o arquinimigo. A dicotomia quase complementar entre estas duas figuras maiores que a vida é clara, nas diferenças e nas similaridades, no que cada um consegue fazer com o que vida lhes trouxe de melhor e de pior. São eles a dupla alma de Birthright.
Além disso, Waid ainda tem tempo para introduzir pormenores deliciosos como o facto de o Super-Homem poder ver a aura de cada ser vivo, um caleidoscópio luminoso que distingue e individualiza cada um à face da terra. Forçosamente torna-se vegetariano.
The Man of Steel é a versão do Super-Homem de muitas gerações, inclusive a minha. Byrne foi a superestrela incumbida de reformatar o maior ícone da BD americana. O ano era 1986, logo a seguir à série Crise nas Infinitas Terras (que sai em português pela Levoir-Publico nas próximas duas quintas-feiras), e esta reinterpretação estava longe de ser o personagem familiar de quem o tinha acompanhado nas cinco décadas anteriores. Já não era o deus todo-poderoso e omnisciente capaz de carregar planetas e galáxias inteiras (literalmente) às costas, o seu Clark Kent não era o trapalhão imortalizado por Christopher Reeve em filme. Lex Luthor deixou de ser um mero super-vilão, para crescer no papel de um CEO híper-inteligente, cidadão adorado pela maioria e odiado pelos que conheciam a sua verdadeira face, a de um sociopata egocêntrico e genocida. E, como já referi, este Super-Homem dava mais importância ao Homem e menos ao Super. Esta foi a versão que subsistiu nos últimos 25 anos até ser (parcialmente) substituída pela de Waid.
Qualquer pessoa que queira se iniciar nas leituras do Homem de Aço pode fazê-lo através destas duas magníficas obras, símbolos que atestam à perenidade de uma das mais importantes mitologias do século XX.

4 comentários:

Nuno Amado disse...

São dois bons livros do Superman, sem dúvida. Infelizmente poucos autores conseguem fazer boas histórias do Super, e o que aconteceu muitas vezes quando quiseram inventar, foi uma enorme cagada (lembras-te dos Superman Azul e Vermelho?). Estes dois valem a pena sim!
:)

SAM disse...

O Super-Homem azul e vermelho nem me dei ao trabalho de o ler. ;-)

Acompanhei e adorei a versão Joe Kelly-Jeph Loeb, que ainda durou uns anitos e que, no fundo, acabou com o Superman/Batman: Public Enemies. Sabes do que falo? Tenho os floppies todos e adoro aquilo. Qq dia escrevo sobre.

O Super tem menos obras de qualidade que o Batman, por exemplo, mas a minha Diana LOL tem ainda menos.

Obrigado pelo comentário.

Nuno Amado disse...

A Wonder Woman pode não ter obras de excepção em si mesma, mas tem uma coisa que falta a muitos, tem um continuidade bastante boa. Raramente cai na mediocridade, e mantém sempre um nível muito aceitável de qualidade, ao contrário de Batman, Superman e JLA que têm grandes arcos, de excelência, mas por vezes caiem na mediocridade absoluta. Tenho alguns HC da WW e estão muito bem nas minhas prateleiras ao contrário de alguns livros do Batman, por exemplo, que são uma grande "bosta"... como por exemplo:
Batman: The Return of Bruce Wayne
What a messy thing!
:D

SAM disse...

Folgo em saber que és fã da grande Diana de Themyscira. ;-) Ela é uma boa companhia para se ter na prataleira. Tenho muita coisa dela e sempre um prazr adicionar mais coisas.

Sou fã do Pérez, Rucka e Jimenez e o que o Azzarello anada a fazer também não me desagrada. mas para esse ainda há que esperar pelo final.