Não vou estar com rodeios: a Vertigo é a minha editora favorita de BD. As melhores BD’s, as mais complexas, as mais “adultas” do panorama da produção norte-americana provêm - com excepções, claro – desta “imprint”.
A Vertigo pertence à DC Comics, a gigante dona do Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha, mas vive num mundo aparte, pedindo emprestado, aqui e ali, alguns dos personagens da casa-mãe. Mas, regra geral, produz material com personagens inéditos, livros e sagas completas, finitas e, acima de tudo, extremamente pessoais.
A grande responsável deste fenómeno norte-americano tem um nome, Karen Berger, a editora-guru que dirige os caminhos da ”imprint” desde a criação, há qualquer coisa como 20 anos (foi criada, oficialmente, em 1993). Mas, acima de tudo, são os seus autores – escolhidos a dedo – que criaram a voz da Vertigo, antes de sequer sonhar-se separada da DC Comics. Acho que posso dizê-lo sem ofender ninguém, que são três os autores-pai: Alan Moore; Neil Gaiman; Grant Morrison. Curiosamente, todos europeus, ou melhor, os dois primeiros são ingleses e o terceiro escocês.
E tudo começou em 1982 com o pai da nova BD americana, Alan Moore, que entrou a matar com uma extraordinária e memorável saga num título moribundo da DC Comics, “Swamp Thing”, onde, com meia dúzia de estocadas certeiras, um parceiro em perfeita sintonia (o desenhador John Tottlebeen), um estilo inovador e, acima de tudo, adulto, transformou o universo de terror do personagem e, sem o querer, deu a pedra de toque para a criação da Vertigo, 10 anos mais tarde. Nesses 10 anos que se seguiram, e graças a Berger, a BD americana foi “vítima” de uma invasão inglesa, atraindo enormes talentos do outro lado do Atlântico, que viriam a verdadeiramente revolucionar o panorama da BD americana.
São produto desta época obras como os “Watchmen”, também de Alan Moore e do desenhador Dave Gibbons, mas, para o que aqui estamos a tocar, temos de falar do “Animal Man” de Grant Morrison e, principalmente, do “Sandman” de Neil Gaiman. São estas a herdeiras temáticas e espirituais do “Swamp Thing”, aquelas que lhe seguiram as pegadas e que deram origem à Vertigo. A primeira agarrou num personagem relativamente obscuro do panteão da DC, e transformou-o num vocal comentador das idiossincrasias dos universos dos super-heróis e nos cada vez mais mediáticos movimentos ambientalistas.
Sandman, por sua vez, não só tornou-se numa das mais inspiradas e aclamadas obras de BD de sempre, como inaugurou o que viria a ser um dos emblemas da Vertigo: a magna-obra de autor. Neil Gaiman propôs-se a contar uma única história com princípio, meio e fim, o que veio a concretizar-se ao longo de 75 capítulos mensais que - outra das tradições da Vertigo - seriam coleccionados em 10 livros, que lidos de uma assentada, representam tudo o que o autor tinha a dizer acerca destes personagens.
Um pouco aparte da tradição Vertigo, mas importantíssima obra, é a série mensal “Hellblazer”, protagonizada pelo bruxo britânico Constantine (já objecto de adaptação cinematográfica com Keannu Reeves no papel principal), criado por Alan Moore em “Swamp Thing”, e que continua até hoje, tendo já sido palco dos dotes artísticos de alguns dos maiores nomes da BD americana e europeia: Jamie Delano; Garth Ennis; Brian Azzarello; Warren Ellis; Peter Milligan.
Estas obras abriram então espaço para o advento da Vertigo em 1993 que, até hoje, continua a produzir algumas das melhores BD’s do panorama literário. Algumas já aqui falamos no Blog, outras falaremos ne futuro. São elas “100 Bullets” , “Preacher”, “Scalped”, “Fables”, “Lucifer”, “Transmetropolitan”, “Unwritten”, etc, numa variedade temática que em muito já se expandiu para além das fronteiras do fantástico e do terror, imiscuindo-se no romance noir, policial, thriller, entre muitos outros.
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