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Coleção Levoir/Público Marvel 2014 – 17.º Volume: Hulk

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)

Grau de acessibilidade: Fácil

Sai amanhã, Quinta-feira, dia 30 de Outubro, junto com Público e custa 8,9€


O Hulk é um dos mais conhecidos personagens da editora de BD Marvel. Muitos já ouviram falar da monstruosa e selvagem figura de pele verde que não é mais que uma evolução super-heroística da história de Dr. Jeckyl e Mr. Hyde.  Um homem bom, cientista de profissão, génio de inclinação, esconde uma natureza selvagem, primal, que é libertada quando se transforma numa gigantesca figura esmeralda, toda ela id, toda ela fúria descontrolada e violência reprimida. O homem é Bruce Banner e o monstro é o Hulk. 

O que menos pessoas sabem (ou seja, ninguém fora do universo da BD) é que a cor de pele que Stan Lee (um dos criadores do personagem) originalmente queria para o Hulk não era o famoso verde mas antes o cinzento. Problemas de impressão obrigaram a optar antes pelo tom esmeralda e o resto, como diz o outro, é história. Contudo, nada nos contornos da BD americana é deitado fora. Na década de 80, o escritor e desenhista John Byrne, numa re-imaginação retro do personagem, decide incorporar na mitologia e na história este "erro" de impressão: o Hulk havia sido, nos absolutos primórdios da sua existência, cinzento e não verde. Não só isso mas essa encarnação era menos forte, mais pequena em estatura e mais inteligente, madura e sarcástica em personalidade. De facto, a argúcia de Byrne não é de desmerecer porque usou o seu amor pelas décadas anteriores da Marvel e construiu algo inovador.

O Hulk, tal como muitos outros personagens, depende da interpretação que diferentes autores fazem da sua personalidade. No início da sua carreira, escrito por Stan Lee, o Gigante Esmeralda era mais arguto e malicioso.  Na mão de autores subsequentes como Len Wein e Bill Mantlo passou a ser infantil, dócil e inocente, excepto quando provocado - no fundo, uma criança. Byrne tentou explicar estas "mudanças".

Depois de Byrne, Peter David, escritor que tomou conta dos destinos do monstro durante muitos anos, agarra nestas alterações de cor e personalidade e atribui-as à infância traumatizada de Bruce Banner - esta ideia é não só uma evolução do trabalho de Byrne como de Bill Mantlo, que idealizou que o monstro era a manifestação física dos problemas do alter-ego do personagem. Os Hulks de tez diferente eram, assim, diferentes personalidades criadas por esses traumas - o Hulk era re-imaginado como esquizofrénico - muito pós-modernista.

A dupla co-autora deste volume da coleção da Levoir, Jeph Loeb, escritor, e Tim Sale, desenhista, andava ocupada em escrever séries para a Marvel baseadas em cores. Haviam escolhido o Amarelo para o Demolidor e o Azul para o Homem-Aranha (ambas já publicadas pela Devir). Obviamente que para o Hulk teria de ser o cinzento. Assim, em Portugal, fica completa esta Trilogia das Cores, apenas parecida com a do Kieslowski por causa do nome. 

Colecção DC Levoir/SOL – 8.º Volume: Batman

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta colecção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)


Grau de acessibilidade: Fácil

Sai Sexta-feira, dia 17 de Janeiro, junto com jornal SOL e custa 8,9€

Apesar de não ter sido o primeiro dos super-heróis, o Batman, insistentemente, tenta tirar o original do pódio de herói mais conhecido no mundo inteiro. Mesmo que o não seja para a maior parte dos leitores ocasionais de BD ou apreciadores do personagem por via do cinema ou TV, o mesmo não se pode dizer para os apreciadores e criadores do género. Por razões que se prendem com as mais variadas confabulações, o Batman é daqueles personagens que tocam no âmago de muitos, um chamamento primitivo para a necessidade de justiça (e não de vingança), um herói que permite um nível de identificação muito superior ao do homem de aço, com os seus super-poderes, a sua capacidade de voar, a sua invulnerabilidade, a sua origem alienígena. Batman é o super-herói que todos poderíamos ser, se munidos de muito dinheiro, forma física invejável e uma determinação fanática. Existe algo de primal nisto, uma capacidade de identificação com a agenda de um homem que tenta vingar a morte dos seus pais, uma ânsia elementar de controlar aquilo que escapa ao nosso controlo. Esta é apenas uma de muitas razões, mais psicológica, se quiserem, mas existem outras, mais estéticas, relacionadas com o universo onde o personagem se movimenta: uma cidade negra e gótica, reflexo negro de uma Nova Iorque do início do século XX; uma galeria de vilões soberbos, porventura a melhor dos vários panteões da BD americana; um conjunto de coadjuvantes, que funcionam como contraponto e como intensificador da cruzada cega que impele obstinadamente o personagem.

Por todas estas razões, foram muitos os criadores das mais diversas artes a dedicar um pouco da sua atenção e inspiração ao alter-ego de Bruce Wayne. Num exemplo mais mainstream, que outro personagem da BD se prestaria a interpretações tão díspares quanto as feitas por Tim Burton e Christopher Nolan? Isto sem perder um átomo  da infra-estrutura que faz de Batman o Batman? (não, não vou aqui falar do sofrimento que foi a visão de Shumacher). Na BD não é diferente! Aliás foi da BD que estes dois autores puderam retirar as suas visões tão diferentes, porque se esse salto já não tivesse sido feito por inúmeros criadores como Frank Miller, Denny O'Neil, Alan Grant, Neal Adams, entre tantos outros, o cinema nunca poderia ter tido matéria prima para as suas visões tão sui generis. A mistura de uma matriz moldável e adaptável com criadores verdadeiramente talentosos, proporcionou que se criassem das melhores e mais perenes obras da BD, algumas já publicadas nesta coleção da Levoir.

O enfoque deste novo volume cai essencialmente no trabalho de um dos mais conhecidos desenhistas a trabalhar no Cavaleiro das Trevas, Tim Sale, e a  sua colaboração com os escritores James Robinson e  Alan Grant. Sale é mais conhecido pelas suas colaborações com Jeph Loeb, especificamente nos verdadeiramente essenciais The Long Halloween e Dark Victory, o primeiro dos quais uma das bases de inspiração para a interpretação de Harvey Dent no segundo filme da trilogia de Nolan. Infelizmente, não temos essas duas maravilhosas sagas nesta colecção, mas não vale a pena desesperar porque o futuro é ainda incerto e as amostras incluídas neste maravilhosos volume são um bom atiçador de palato. 

Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

Demolidor... Ler sem medo! – parte 2.ª


O volume que se segue na história da vida de Matt Murdock é, curiosamente, também publicado muitos anos depois das suas aventuras originais. O primeiro número do Demolidor aparece em Abril de 1964, com argumento de Stan Lee, um dos mais importantes criadores da Marvel, e no lado dos desenhos Bill Everett e Steve Ditko - este último, junto com Lee e Jack “King“ Kirby, formava o triunvirato de ouro que criou a editora.

Nos primeiros seis números da sua revista, o Demolidor não vestia o uniforme vermelho por que viria a ser conhecido. Antes envergava uma vestimenta amarela e vermelha e o argumentista Jeph Loeb e desenhista Tim Sale escolheram o livro Daredevil: Yellow (2002) para recontar os eventos destes primeiros tempos de Matt Murdock, imediatamente antes de se assumir como um verdadeiro demônio urbano (em Portugal esta BD foi publicada pela Devir com o nome Demolidor: Amarelo). Mas o coração desta história não são os vilões que defronta (ainda que apareçam e são vários), mas antes o segundo grande amor da vida de Matt Murdock, Karen Page, a jovem secretária do escritório de advogados que tem com o melhor amigo, que viria a ser uma das mais importantes pessoas na vida do protagonista, nem sempre pelas melhores razões. O livro é estruturado como uma longa carta de amor dedicada à jovem, enquanto Matt explana as motivações que o impelem a vestir cores garridas e a sair na noite em busca da mais elementar forma de justiça, aquela feita pelas próprias mãos. É explicada a morte de seu pai, que funcionou como justificação aos solitários périplos noturnos pelas ruas de Nova Iorque. É explicado o lento desabrochar do amor jovem que parece ir durar uma eternidade mas nunca dura. Escrito como um doloroso pedido de desculpas.

Estes primeiros meses do Demolidor acabam por nos dar um personagem ainda distante dos tempos negros que viriam mais à frente, enquanto a equipa criativa se diverte a recontar uma era mais descontraída, relectida no uniforme que dá nome ao livro, vestes menos negras, mais radiosas, como a juventude tem sempre de ser.