(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta coleção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)
Grau de acessibilidade: Fácil
Sai amanhã, Quinta-feira, dia 30 de Outubro, junto com Público e custa 8,9€
O Hulk é um dos mais conhecidos personagens da editora de BD Marvel. Muitos já ouviram falar da monstruosa e selvagem figura de pele verde que não é mais que uma evolução super-heroística da história de Dr. Jeckyl e Mr. Hyde. Um homem bom, cientista de profissão, génio de inclinação, esconde uma natureza selvagem, primal, que é libertada quando se transforma numa gigantesca figura esmeralda, toda ela id, toda ela fúria descontrolada e violência reprimida. O homem é Bruce Banner e o monstro é o Hulk.
O que menos pessoas sabem (ou seja, ninguém fora do universo da BD) é que a cor de pele que Stan Lee (um dos criadores do personagem) originalmente queria para o Hulk não era o famoso verde mas antes o cinzento. Problemas de impressão obrigaram a optar antes pelo tom esmeralda e o resto, como diz o outro, é história. Contudo, nada nos contornos da BD americana é deitado fora. Na década de 80, o escritor e desenhista John Byrne, numa re-imaginação retro do personagem, decide incorporar na mitologia e na história este "erro" de impressão: o Hulk havia sido, nos absolutos primórdios da sua existência, cinzento e não verde. Não só isso mas essa encarnação era menos forte, mais pequena em estatura e mais inteligente, madura e sarcástica em personalidade. De facto, a argúcia de Byrne não é de desmerecer porque usou o seu amor pelas décadas anteriores da Marvel e construiu algo inovador.
O Hulk, tal como muitos outros personagens, depende da interpretação que diferentes autores fazem da sua personalidade. No início da sua carreira, escrito por Stan Lee, o Gigante Esmeralda era mais arguto e malicioso. Na mão de autores subsequentes como Len Wein e Bill Mantlo passou a ser infantil, dócil e inocente, excepto quando provocado - no fundo, uma criança. Byrne tentou explicar estas "mudanças".
Depois de Byrne, Peter David, escritor que tomou conta dos destinos do monstro durante muitos anos, agarra nestas alterações de cor e personalidade e atribui-as à infância traumatizada de Bruce Banner - esta ideia é não só uma evolução do trabalho de Byrne como de Bill Mantlo, que idealizou que o monstro era a manifestação física dos problemas do alter-ego do personagem. Os Hulks de tez diferente eram, assim, diferentes personalidades criadas por esses traumas - o Hulk era re-imaginado como esquizofrénico - muito pós-modernista.
A dupla co-autora deste volume da coleção da Levoir, Jeph Loeb, escritor, e Tim Sale, desenhista, andava ocupada em escrever séries para a Marvel baseadas em cores. Haviam escolhido o Amarelo para o Demolidor e o Azul para o Homem-Aranha (ambas já publicadas pela Devir). Obviamente que para o Hulk teria de ser o cinzento. Assim, em Portugal, fica completa esta Trilogia das Cores, apenas parecida com a do Kieslowski por causa do nome.
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