BD de super-heróis podem ser frustrantes. A fama de serem complicadas de seguir é merecida.
Esta semana e na anterior, na Colecção Coração das Trevas DC, a sair junto com o Público pela chancela da Levoir, foi lançada uma dessas histórias.
Quando a li na altura em que saiu, o prazer que retirei não devia-se apenas à qualidade dos autores. O conhecimento da mitologia DC também ajudou. É como uma telenovela.
Vou tentar descrever o que lembro-me e o que acho ser relevante para tirar o máximo de entretenimento possível desta obra - ainda que também ache que parte do prazer de ler super-heróis é descobrir, à posteriori, as histórias dos personagens que lemos.
- Os Lanternas Verdes são um corpo policial que tem como missão proteger o universo. Têm um anel de energia que "cria desejos", o que, na imaginação limitada de muitos deles, queria dizer criar bolhas para aprisionar criminosos e luvas gigantes para os derrubar. Claramente não eram um Tolstoy ou um Frank Lloyd Wright;
- Os patrões dos Lanternas são os Guardiões do Universo, originários do planeta Oa, situado no centro geométrico do universo. São seres quase omniscientes e omnipotentes. Eram muito mandões e mal dispostos. Deviam ter um complexo de inferioridade por serem pequerruchos e terem cabeças grandes;
- Os Guardiões dividiram o universo em 3600 sectores (tipo esquadras), cada qual com o seu Lanterna Verde (posteriormente passaram a dois);
- O sector da Terra é o 2814 - não me ocorre dizer nada de engraçado à conta disto;
- Por várias razões, à altura da Guerra do Corpo Sinestro, existem quatro Lanternas no sector da Terra, todos homens: Hal Jordan, o protagonista da série; Guy Gardner; John Stewart; Kyle Rayner - sendo os escritores homens e originários do planeta Terra as razões parecem óbvias;
- Kyle Rayner foi o Lanterna Verde que substituiu Hal Jordan. Este último enlouqueceu, destruiu o Corpo dos Lanternas Verdes, transformou-se no vilão Parallax, redimiu-se e morreu sacrificando-se pela salvação da Terra (entretanto ficou melhor, como sempre acontece com os super-heróis);
- Sinestro, o vilão desta história (nome kitsh mas fica clarinho qual o lado da balança para onde pende), foi, originalmente, um Lanterna Verde e mentor de Hal Jordan. Devido às inclinações despóticas e ao facto de ter infligido um regime totalitário no seu planeta natal, Korugar, foi expulso deste Corpo - no shit;
- No planeta Qward, também no centro geométrico mas de um universo de Anti-Matéria, oposto ao "nosso", Sinestro encontrou um anel amarelo, com as mesmas propriedades do anel dos Lanternas Verdes;
- A cor amarela foi, durante décadas, a única fraqueza do anel verde dos Lanternas. Não podiam directamente infligir qualquer acção num objecto ou pessoa com esta cor - esta é a fraqueza mais ridícula de todos os tempos. O Poupas dava conta dum Lanterna Verde;
- A Crise nas Terras Infinitas foi uma saga pan-cósmica que envolveu todos os heróis e vilões da DC na década 80 (leiam aqui para saber mais sobre a mesma). O vilão desta saga chamava-se Anti-Monitor e, sim, veio de Qward (ou de uma sua lua), sito no universo de anti-matéria. (SPOILER) Ele morre no final desta Crise;
(eu sei que isto está a ficar complicado. Sorry!)
- Algures na história dos arrufos com Hal Jordan, Sinestro é aprisionado no interior da grande bateria de Oa, a fonte de energia dos Lanternas Verdes - será que há casa-de-banho dentro de uma bateria gigante?;
- Num racional digno de uma BD de super-heróis, Sinestro continua consciente e descobre uma verdade escondida: o facto de os Lanternas não conseguirem influenciar a cor amarela deve-se a um ser que vive dentro da bateria, tipo carrapato. Esse ser chama-se Parallax;
- Parallax é a manifestação física do Medo que, na mitologia das cores DC, é representada pelo amarelo (esta caiu do céu... eu sei! Já explico);
- Sinestro liberta Parallax que apodera-se do corpo de Hal Jordan - daí ele ter ficado louco, como disse algures acima (engenhoso, não?!);
- Anos mais tarde, já depois de mortinho e enterrado, Hal Jordan ressuscita, sem Parallax, e o Corpo dos Lanternas Verdes é recriado. A criatura, entretanto anda por aí à solta;
- Descobre-se, nesta ressurreição, que existe uma coisa chamada Espectro de Emoções, com sete emoções no total, cada qual com a sua cor. O verde é a Esperança. O amarelo o Medo, como já disse. As outras não conto porque quero que leiam o que vem a seguir à Guerra do Corpo Sinestro. É engraçada esta mania dos escritores de super-heróis de materializar sentimentos. Isto para andar, literalmente, à porrada aos nossos medos, ambições e amores. Nada Freudiano.
E é mais ou menos isto.
Existem ainda coisas relacionadas com dois dos vilões aliados de Sinestro:
- Superboy-Prime - originário de uma Terra, que no multiverso DC, é a nossa. É o primeiro herói dessa Terra e acabou por transformar-se num temível e poderoso super-vilão. Tem os mesmos poderes do Super-Homem e, metaforicamente, representa os fãs de BD que ligam a cada pormenor de história e são pouco permeáveis à mudança (eu não sou um deles... juro);
- Cyborg-Superman (muitas cópias do Super-Homem faz a DC, meu deus) - é o que o nome diz. Um humano num corpo de ciborgue com um uniforme do Super-Homem (não estou para contar o resto da história que são mais uns quantos bullets points).
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