Quem afirma que Hollywood é, neste momento, pouco mais que uma colecção de gestores em busca do próximo franchise rentável se calhar não está muito longe da verdade. Contra mim falo quando digo que são os filmes de super-heróis em particular e os de BD em geral uma das grandes fontes de "inspiração" para novos filmes. Contudo, talvez por medo da fadiga do espectador, os ditos gestores procuram incessantemente por soluções alternativas. Na realidade, procuram a mesma coisa mas com uma forma diferente - e, se possível, menos custosa. Não há nada de mau com isso a não ser quando os sucessivos "produtos" (porque é disso que falamos) são de qualidade inferior e pouco mais servem do que satisfazer um específico grupo de idade ou de perfil cultural - se bem que, à medida que escrevo isto, percebo que estou a ser tendencioso, ou seja, quem sou eu para dizer o que as pessoas devem ou não gostar.
Este relambório serve para introduzir o novo filme de Ben Affleck (é assim que a máquina de marketing o vende) que, ao contrário do que digo acima, não é, de todo, um filme mau. Muito pelo contrário. O enredo parece vir da cabeça de um adolescente com sonhos gerados pelo profundo da sua timidez (eu sei que pareço paternalista mas juro que não o estou a ser): um rapaz com Asperger é criado por um pai militar para ser não só apenas funcional numa sociedade que sempre o julgará como "diferente" como uma arma de combate eficaz e mortífera. Devido à mente brilhante cresce para ser um contabilista de excepção mas que, paralelamente, faz muito mais que uma perninha como "Robin dos Bosques pós-moderno". Uma espécie de Batman meets Rainman - até imagino o argumentista a vender a ideia com qualquer coisa como isto.
O que poderia não funcionar e ser pouco mais que um produto generalista de acção acaba por não o ser. Muitos serão os factores com certeza. Os actores, passando por Affleck e Anna Kendrick, que carregam com enorme carisma personagens que, noutras mãos, seriam pouco mais que caricaturas. O realizador e o argumentista que trabalham de forma entretida por sobre o inverosímil da situação que eles próprios geram. Em suma, um filme que funciona, diverte, carrega-nos durante duas horas e faz-nos esquecer o que se passa "lá fora". No final, cria-se espaço para continuar. Talvez os deuses do franchise tenham sido simpáticos para com The Accountant (ironicamente, serão os contabilistas de Hollywood que decidirão o seu futuro).
PS - Um dos momentos mais interessantes do filme é a colecção de arte do personagem de Ben Affleck. Para quem, como eu, não aprecia elitismo cultural, intelectual, social, que não gosta de quem se centra apenas num tipo de "gosto", acaba por ser um momento especial.
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