Todos os anos a minha reentrada no ano é feita por esta altura e começa sempre com o meu festival favorito de cinema em Lisboa: o MOTELx. Todos os anos, a antecipação é grande porque vou poder passar umas gordas horas dentro de uma sala de cinema a ver filmes que, dificilmente, poderei ver durante o ano que se seguirá. Existem filmes de terror e de fantástico que estreiam (fora dos de super-heróis e de outros franchises, bem visto) mas a quantidade do que é produzido por esse mundo fora é de tal forma arrebatadora que apenas um festival dedicado a estes temas poderia dar vazão a uma pequena parcela. Mesmo filmes que eu classificaria de obrigatórios passar nas salas de cinema (It Follows, The Witch) ou têm estreias muito discretas ou ainda nem apareceram ou aparecerão. Assim temos o maravilhoso MOTELx, onde os fãs podem passar horas seguidas a delirar com aquilo que lhes dá prazer, com as emoções que apenas o filme de terror pode dar.
A sessão de abertura do MOTELx 2016 foi ontem e preenchida pela apresentação do que vai ser o festival deste ano e pelo filme Don't Breathe de Fede Alvarez, que estreou há duas semanas nas salas dos EUA. Da apresentação tenho de destacar a informação dita com orgulho por todos (mais que merecido) de que este é o festival com mais espectadores por dia de todos os festivais de Lisboa e de que, todos os anos desde há dez, cresce de forma ininterrupta. Acresce ao parabéns um desejo de que continuem assim para que nós possamos continuar a desfrutar do prazer da fantasia e do "borra-cueca".
O filme de abertura foi uma surpresa, como são muitos os filmes de terror que vou vendo (bem vistas as coisas já não deveria, então, ser uma surpresa). Já aqui o disse em relação a The Shallows: muito do bom cinema deste estilo parte de princípios simples e fáceis de assimilar e são parcimoniosos nos elementos do enredo. Don't Breathe centra-se em três jovens assaltantes de casas, num roubo a uma casa isolada e no veterano de guerra invisual que vive na mesma. Depressa o gato transforma-se em rato e os papéis de vilões e heróis da história são invertidos, se não de forma surpreendente pelo menos emocionante. A gestão de espaços físicos limitados sempre foi uma das mais interessantes ferramentas do cinema. Filmes como The Shining, Die Hard, Carnage, conseguiram, em estilos muito diferentes, transformar de forma cativante a exiguidade de espaço para movimento. Don't Breathe consegue o mesmo e (muito importante) de maneira credível. Os "ratos" ficam fechados na casa do "gato" (e do cão) e não parece forçado. A força da realização reside neste movimento pela casa, na mestria com que a câmara se posiciona de forma a melhor passar as emoções obrigatórias nestes filmes. Onde o filme falha, e por isso não chega às alturas que poderia, é nas motivações superficiais e já muitas vezes vistas dos vários personagens, desde os "heróis" ao "vilão". Isso não estraga, de forma alguma, o prazer, mas fica a sensação de que poderia ter ido mais longe. É que eu, como fã destes filmes, quero sempre que me apareça um The Descent, um The Shining, um It Follows. Acho que é legítimo!
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