O meu Indie 2016! - The Witch e Boi Néon



Ir a um festival como o Indie é ficar com pena. Pena em como muitos dos filmes que temos a sorte de ver não poderão ser apreciados por mais espectadores. Porque não terão estreia comercial e, mesmo que a tenham, hoje em dia é impossível ver tudo o que aparece nas salas de cinema, por melhores que sejam as recomendações dos amigos. É o caso destes dois que tive a sorte de ver: The Witch: A New England Folktale de Robert Eggers e Boi Néon de Gabriel Mascaro.

Tinha ouvido falar de The Witch: A New England Folktale. Tratava-se de um filme de terror que, segundo as criticas e reportagens, não deixava ninguém indiferente, tal a experiência emocional e sensorial que oferecia. Para quem não sabe, sou completamente viciado em filmes de terror. O meu festival de cinema favorito em Lisboa é o maravilhoso MOTELx. Procurar reproduzir sensações como as que tive quando vi The Descent ou It Follows, apenas para falar de recentes, é uma busca constante. Quando soube da estreia deste no Indie, corri a comprar bilhete. 

Este é um filme de terror, sim, mas também de época. Passado na Nova Inglaterra de 1630, com uma piosa família de colonos ingleses nas terras ainda relativamente virgens do futuro EUA. A grande força deste filme, como em muitos dos bons de terror, reside na sensação de medo e na exiguidade de explicações. A omnipotente floresta é desenhada como uma barreira insondável do desconhecido e do primordial, ao mesmo tempo que guarda outros terrores, em partes iguais mundanos e demoníacos. A devota família é, membro a membro, "comida" pela escuridão. Contudo, nunca nos são dados a conhecer os detalhes do que se passa.  Todos os espaços ocultos do mistério terão de ser preenchidos pelo espírito inquiridor de cada um de nós. Não é um filme que tenha me entusiasmado da mesma forma que os dois que referi acima, mas tenho a impressão que, com o tempo e uma nova ida ao cinema, isso pode modificar-se.

Boi Néon é outro bicho. Filme recomendado por mais do que um site e jornal como sendo um dos grandes momentos do Indie. Novamente, a curiosidade era muita. A sensação de poder ver algo verdadeiramente novo é imprescindível no que a mim diz respeito. O título era maravilhoso tal como o enredo: um homem vagueia pela pobreza do nordeste brasileiro, acompanhando uma trupe que leva bois de rodeo em rodeo. Ao mesmo tempo que cuida dos animais e do espectáculo, procura na poeira e na lama forma de concretizar o seu sonho: ser estilista. A metáfora é óbvia: o belo encontra-se em todo o lado, não tem apenas roupagens engomadas e paisagens minimalistas.  Ele insiste em aparecer sempre e por todo o lado. Mas existe também algo mais do que apenas isso. Este é um filme brasileiro e não quer esconder isso. Um filme que se passa no nordeste brasileiro e não quer esconder disso. Assume-o nos corpos nus, quer pelas roupas rasgadas do uso, quer no sexo que, desprendidamete, acontece em cada canto, sem cama, quarto ou privacidade. Assume-o nas paisagens de poeira e nos anúncios desenhados nas rochas. Assume-o nas palavras dos protagonistas e nos actos desprendidos.  Assume-o na esperança. Este é um filme único e com uma assinatura bem desenhada. E, já agora, com uma das melhores cenas de sexo alguma vez filmadas no cinema. 

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