The Shallows de Jaume Collet-Serra (Águas Perigosas)

O filme de terror é um dos grande veículos para que um realizador de Cinema possa melhor exercitar os músculos da manipulação. Até monstros como Murnau, Hitchcock, Kubrick e Spielberg o sabiam - e fizeram. Não acreditam? Vejam Nosferatu, Psycho, Birds, The Shining e War of the Worlds. No que a este vosso espectador diz respeito, o filme de terror é uma das grandes experiências que a ida ao cinema lhe pode proporcionar. Mesmo sabendo que entre os meus olhos, o meu coração e a tela nada mais existe que ilusão e fantasia, não consigo deixar de agarrar-me à cadeira, contorcer-me e saltar de susto. O filme de terror é uma das artes maiores, no que a mim respeito. Quando leio ou oiço falar de um que todos dizem ser obrigatório ver, não descanso enquanto não o faço. Este ano houve já o The Witch e (finalmente) o The Conjuring. Ambos certificados com o selo "borra-cueca". 

The Shallows vinha com os alertas todos. Filme de terror surpresa. Minimalista, passa-se numa praia deserta e sem nome onde uma surfista, interpretada por Blake Lively, decide expurgar demónios e apanhar ondas épicas. Aterrorizador, quando um gigantesco tubarão decide persegui-la até a exaustão. Esta fórmula simples é, muitas vezes, forma certa de chegar a um filme de terror eficaz ou mesmo soberbo. The Descent, um dos melhores, pega em quatro mulheres, coloca-as a fazer espeleologia e cruza-as com monstros subterrâneos. The Shallows é ainda mais parcimonioso. E a fórmula resulta mais uma vez. O realizador gere o suspense de forma eficaz, ainda que possa ser acusado de algum academismo, ou seja, não acrescenta nada de novo. Contudo, esse profissionalismo quase matemático na gestão dos diálogos, eventos e terror não descola nunca do essencial, conseguindo prender o espectador. Se há alguma falha que se possa assinalar é, essencialmente, na percepção, a em certo momento do filme, de que não existirá grande surpresa quanto ao seu final. Algo que não estraga a experiência porque o caminho até lá é entusiasmante o suficiente. Por seu lado, Blake Lively está óptima, emprestando todas as emoções necessárias para que vivamos com ela a perseguição encetada pelo predador. Ela não é uma revelação mas consegue aquilo que lhe é pedido. 

Um filme de terror bom sem ser excepcional. Muitas vezes isso é mais que suficiente. E neste caso, é.

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