Experimenter de Michael Almereyda

Não restam muitas dúvidas que a 2.ª Grande Guerra foi um dos eventos mais importantes do século XX, se não mesmo o mais importante. As suas consequências estenderam-se muito para além das fronteiras do conflito bélico. A personalidade da Humanidade foi posta à prova neste palco que abarcou todo o planeta. Nas décadas que se seguiram, pensadores, cientistas, artistas e o cidadão anónimo pensaram, reflectiram e temeram a imagem retorcida que se reflectia no espelho em frente ao Homem. Um dos maiores temores que se desenharam foi o da extensão e facilidade com que o Mal propagou-se por pessoas que, julgávamos nós, nunca seriam capazes de barbaridades à escala das que ocorreram. Hannah Arendt chamou-lhe a A Banalidade do Mal. George Orwell escreveu 1984 e falou de um Big Brother e de uma sociedade totalitária. O psicólogo social americano Stanley Milgram realizou várias experiências sobre a obediência e a pressão social (peer pressure). O filme Experimenter é sobre estas experiências.

Acompanhamos na narrativa deste filme a vida deste psicólogo desde que iniciou estas experiências nos princípios da década de 60, cujos resultados, quando publicados, foram (e continuam a ser) alvo de controvérsia. Morreu em 1984 (data que, no próprio filme, é assinalada como irónica), mas até hoje, os dados que retirou das suas experiências  continuam a ser debatidos com o fervor de quem não quer acreditar no que é capaz de fazer quando confrontado com uma situação de necessidade de obediência. Não vale a pena adiantar-vos pormenores do estudo levado a cabo por Milgram (era de ascendência judia, já agora). Esse "prazer" deixo a quem se dedique a ver este filme.

Ainda que não seja uma obra-prima cinematográfica, não só a temática é brilhantemente interessante, como o actor Peter Sarsgaard consegue, com voz monocórdica mas, curiosamente, acutilante e cheia de relevância,  agarrar o interesse. Tem também a curiosidade do regresso de Winona Ryder ao grande ecrã, actriz que com este filme e a série de TV Stranger Things parece determinada num poderoso comeback. A realização, por seu lado, tem apontamentos curiosos mas nunca descola vôo, ainda que tente fazê-lo. 

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