Não sou fã de fingir que percebo de algo com o qual não estou familiarizado. Portanto, tenho de admitir que, apesar de ter ouvido falar de Adrian Tomine, de ter na lista de compras Summer Blonde (sem nunca o ter comprado), nunca havia lido este autor. Como muita coisa na vida, são muitas vezes os amigos e conhecidos de quem apreciamos a opinião que nos aconselham caminhos para os quais ou nunca viraríamos ou estávamos confortáveis demais para seguir. Assim, surge na minha pilha este Killing and Dying de Adrian Tomine. E ainda bem porque é, sem dúvida, uma das leituras do ano.
A editora de Montreal Drawn & Quarterly é conhecida por publicar autores que na falta de uma melhor terminologia (e odeio esta) apelidam-se de "independentes". No fundo, no fundinho, são autores que encontraram uma linguagem narrativa específica, sua, única, desviada da do "mainstream" - o que para uma Arte que nos EUA vende, na maioria das revistas/álbuns, muito abaixo dos 100 mil exemplares é a própria definição de ironia... mas adiante. Apesar de toda esta contextualização o que vale, no final da leitura, é o prazer que o livro dá a quem o folheia. E Killing and Dying é um soberbo e agridoce presente da 9.ª Arte. Uma colecção de histórias corriqueiras que abrangem espectros diferentes do colorido humano: temos a história de uma homem que tenta na junção de jardinagem e artes plásticas criar uma nova forma de arte; temos a mulher que é a cara chapada de uma actriz porno; temos uma rapariga gaga que esforça-se por ser uma Comediante de Stand-Up; entre outras.
A ironia seca com que Tomine trata a narrativa confere um distanciamento que nos permite ao mesmo tempo sorrir e mergulhar em reflectiva melancolia. Existe sempre um tudo-nada de insatisfação, de não plenitude. Os personagens não são redondos na sua complexidade, ou melhor, não são completos ou melhores que nós. Os dramas mesmo que desconhecidos não são estranhos. Há uma partilha da experiência humana no ridículo do jardineiro/artista que se acha mais iluminado que todos, na mulher que tem de viver com os comentários por parecer uma conhecida actriz de pornografia, na jovem que tenta vencer a gaguez e um pai frustrado. No final, não existe uma resolução, apenas um "o que não tem remédio, remediado está". Os finais não são felizes mas antes um "a continuar".
A ironia seca com que Tomine trata a narrativa confere um distanciamento que nos permite ao mesmo tempo sorrir e mergulhar em reflectiva melancolia. Existe sempre um tudo-nada de insatisfação, de não plenitude. Os personagens não são redondos na sua complexidade, ou melhor, não são completos ou melhores que nós. Os dramas mesmo que desconhecidos não são estranhos. Há uma partilha da experiência humana no ridículo do jardineiro/artista que se acha mais iluminado que todos, na mulher que tem de viver com os comentários por parecer uma conhecida actriz de pornografia, na jovem que tenta vencer a gaguez e um pai frustrado. No final, não existe uma resolução, apenas um "o que não tem remédio, remediado está". Os finais não são felizes mas antes um "a continuar".
Graças aos meus amigos, aos meus conhecidos e a este livro, na lista de compras futuras já estão mais volumes deste senhor. Vale cada euro.
2 comentários:
Boa Zé Pedro, mais vale tarde do que nunca ;-) . Valerá a pena acrescentar que o Tomine esteve em Portugal em 1995, com uma exposição no SIBDP, na minha opinião o melhor Festival de BD em Portugal. A sua Banda Desenhada é triste e pessimista, eventualmente refletindo o seu background (pais professores universitários, ela de origem japonesa, ele americano, ambos estiveram internados em campos de concentração para japoneses durante a 2ª Guerra). O seu comic Optic Nerve é o único sobrevivente da linha de comics da Drawn and Quarterly, uma das melhores editoras de BD do mundo, IMHO. Vale a pena tentar deitar a mão a este e aos outros TPB, incluindo o 32 stories, que recolhe os seus mini-comics, e que eu tenho algures nas estantes, com um belo desenho dele, então um jovem de 20 anos.
Obrigado, RC, pelo comentário. ;-)
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