Gostos são gostos!

Mulher em um vestido amarelo, 1929 - Tamara de Lempicka

(dedicado a todos os meus amigos)

Gostos são gostos. Escrevo-o sem ironias. À medida que o tempo vai passando, sinto-me cada vez mais próximo do lado da liberdade do gosto. Afasto-me mais e mais de um gostar das coisas que chamo de liceal. Passo a explicar. 

Quando andávamos no liceu ou mesmo na preparatória os grupos eram muitas vezes definidos pelos gostos que se tinham em comum. "Tu gostas de pastilhas com sabor a banana? Vamos ser os melhores amigos" era um diálogo infantil que, substituindo banana e pastilha com outra coisa qualquer, regia as amizades que durariam até o final dos nossos dias (digo-o com orgulho porque assim se passa comigo). Depois, mais adolescentes, são muitos os grupos que criam-se em volta de um tipo ou outro de "gosto": os geeks, os freaks, os betos, os punks e outros que a idade já não me deixa adivinhar. Ficávamos confortavelmente separados uns dos outros e crescíamos junto desses nossos amigos. Os amigos de infância muitas vezes cresciam para gostos diferentes sem, contudo, se separarem, mas no liceu a coisa era mais tribal. 

Acontece que estes grupos liceais permanecem. E ninguém está isento de ser liceal, não importa a idade, o estatuto social, cultural ou nobiliárquico. Mesmo com o avançar do relógio muitos de nós continuam a achar que aquele gosto ou é "muito comercial" ou "muito pedante" ou um generalista "isso-é-uma-merda". Gostam da Beyoncé e nela ouvem o trinar de verdades angélicas? Vêem O Espelho do Tarkovsky e reconhecem Deus nas entrelinhas da película? Não sou fã nem de um, nem de outro, são-me iguais, mas defenderei sempre, sempre, sempre o direito a gostar sem limites ou vergonha. Que importam as classificações arbitrárias de qualidade e popularidade quando comparadas com o prazer puro de um gosto, qualquer que ele seja? Ser Livre e Verdadeiro é o principal.

Também importante: nunca se sabe de onde vem o Belo; nunca se sabe de onde brota a inspiração que maravilhará o gosto de uma pessoa. O realizador Quentin Tarantino tão depressa gostava de sessões Grindhouse de Filmes série Z, como demorava-se nas palavras de Truffaut. O humorista Jon Stewart sorvia super-heróis (sim, eu tinha de os meter aqui em algum sítio) e devorava tratados políticos. O Obama gosta de The Wire e de Beyoncé. 

Nada é incompatível. Nada é inferior ou superior. Gostos são Gostos. Aprendamos a respeitar os dos outros. Eu tento fazer o melhor que posso.

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