Acredito que a Arte de Contar
Histórias é uma das mais esquecidas. Porque transversal a tantas outras artes é considerada como inata e obrigatória, algo em que não pensamos quando
apreciamos uma peça – quer seja um livro, um quadro, um filme, uma BD. Contudo,
também acredito ser das mais difíceis, das que requerem maior talento e
artifício para que seja equilibrada. E falo não apenas de narrativas lineares
mas também das ditas surreais, aquelas que, aparentemente, não parecem seguir
outra linha de lógica que a da labiríntica personalidade do autor.
Uma história mal contada nota-se
instintivamente. Será por isso que quase nem lhe ligamos? Pensamos: “este filme
é chato”; “este quadro está mal pintado”. Muitas vezes deve-se à incapacidade
do autor em não saber contar uma história, tal como o faziam os nossos avós ou
pais junto a uma lareira antes de dormirmos (calma, não sou assim tão velho.
São apenas imagens). Gosto de pensar que esta arte está gravada no nosso código
genético. Não esqueçam que foi das primeiras formas de entretenimento. Antes mesmo
da palavra escrita.
Não faço ideia de qual a melhor
forma de contar uma história (acredito que existam várias metodologias) mas,
qualquer que ela seja, Gonçalo M. Tavares é um criador que a tem domada.
Aprender a Rezar na Era da Técnica é o meu segundo livro do escritor português e tanto neste como em
Jerusalém fiquei surpreso não só pela complexidade temática e conceptual das obras mas também pelos artifícios narrativos de que se socorre. Os capítulos curtos. A escrita que incide nas observações do narrador omnisciente enquanto discursa sobre situações e personagens e menos na descrição redundante do ambiente. Aliás, estas descrições são esparsas e sintéticas, numa espécie de antagonismo ao conhecido gosto de Eça pela excessivo relato do ambiente. O olhar sintético do autor pelo banal e pelo gigante roça a genialidade reservada a poucos escritores. Existe um universo particular a Tavares, um universo onde reside sozinho mas, ao mesmo tempo, munido de portugalidade. Um "ser português" que nós compreendemos tão bem. Mas desenganem-se que isso o isola do resto do mundo. Não. A universalidade da portugalidade de Tavares é total, desculpem a mistura de conceitos (a bem ver, não sou uma grande especialista nestas coisas da Literatura). Ele não fala de Portugal mas escreve como o português que é. Ou então sou eu que o imagino.
Faltam-me ler os dois restantes livros da tetralogia do Reino:
Um Homem: Klaus Klump e
A Máquina de Joseph Walser. Mal posso esperar.
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