O final de Fables - volumes 21 e 22 por Bill Willingham e Mark Buckingham.


Por defeito de vício, por defeito de experiência, sou um fã do romance em série (chamemos-lhe assim). Em várias das suas formas. Prefiro Séries de TV que não são episódicas – gosto das que têm um arco abrangente discernível, com um princípio, um meio e um fim como The Wire, The Sopranos ou Breaking Bad. Gosto de Banda Desenhada que estende-se por longos períodos no tempo – mas, ainda assim, de preferência com um final à vista (é, por isso, que, apesar de amar visceralmente os super-heróis, tantas são as vezes que sinto-me frustrado ao lê-los). No que respeita a Literatura, este gosto não é tão claro. Gosto do trabalho de George R. R. Martin na Crónicas do Gelo e Fogo (mais conhecida por Guerra dos Tronos), mas não a leio pelas habilidades estilísticas do autor, antes pelo novelo narrativo. Em “livros de prosa” inclino-me cada vez mais para outro tipo de estilo e história (é ler posts anteriores para saberem do que falo). Este gosto tem um risco: a perda (efectiva) de tempo. Aconteceu-me já algumas vezes (à memória vem a série Lost) mas, na maior parte delas, não tem acontecido. Fables de Bill Willingham é um dos casos em que 13 anos de fidelidade compensaram, não só pelo final, mas pelo crescente e paulatino acumular de excelentes histórias ao longo de mais de uma década.

O adeus de Fables tem ainda outro significado. Esta série é também a última resistente da “velha” editora Vertigo, a de Karen Berger, a que começou com Alan Moore, com Neil Gaiman, com Garth Ennis, com Grant Morrison, que durou mais de duas décadas e que produziu algumas das melhores obras da Banda Desenhada mundial e … assumo-o … algumas das minhas Obras de Arte favoritas: Sandman; 100 Bullets; Preacher; Swamp Thing; Animal Man (estas duas últimas, obras Vertigo avant la lettre); Y The Last Man; e Fables. A nova linha editorial da DC Comics (detentora da Vertigo) escolheu o afastamento de Karen Berger e o título de melhor editora de BD nos EUA mudou-se para a Image (a meu ver, claro). Existe agora um novo futuro para a Vertigo mas, enquanto este não chega, o fim de Fables é, também e assumidamente, o fim de uma (outra) Era de Ouro da BD nos EUA. Não tenho dúvidas que o facto de finalmente produzir-se em massa outras obras que não apenas as de super-heróis abriu os olhos não só aos fãs da 9.ª Arte como a outros actores. Os super-heróis são a porta de entrada e uma divisão ampla da casa mas a Vertigo é o canto aconchegante, aquele onde apetece ficar mais tempo.

E que dizer de Fables que eu já não tenha referido em posts anteriores? O final tinha de chegar, infelizmente. As aventuras dos personagens de contos de fada reinterpretados por Bill Willingham e Mark Buckingham teriam de acabar. A parelha produziu algumas das mais divertidas histórias do panorama da última década da BD, não só conseguido através do puro entretenimento mas também de alma e inteligência, diálogos eloquentes e sumarentos, personagens ricos. Estes dois volumes acabam a história da forma que tinha de acabar: diferente, sem explosões mas com silêncios aconchegantes. Será que com final feliz? Já isso, cada qual vai ter de o descobrir por si, que eu não gosto de estragar a surpresa a ninguém. De uma forma ou de outra, existe um final para todos os personagens que enriqueceram a tapeçaria desta mitologia nestes 13 anos.

Trata-se de um final apropriado (ou o possível) para uma época de ouro na BD americana, algo que, acredito, passou despercebido para a maior parte das pessoas. Mas com tanta e tanta oferta de quase todas as editoras, apenas já só se pode olhar para o futuro com esperança. Venha a Image. Venha a nova Vertigo. Continuem a Dark Horse, a IDW, a Fantagraphics, a Drawn & Quarterly. Karen Berger, Bill Willingham e Mark Buckingham agradecem. 

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