Secret Wars (2015), a sétima e oitava semanas.



As últimas páginas do primeiro número de Secret Wars oferecem uma derradeira e devastadora cena: a destruição completa dos universos principal e Ultimate da Marvel. No lugar destes aparece um novo mundo, uma manta de retalhos constituída por eras e universos díspares, roubados do defunto multiverso. A esse mundo deu-se o nome de Battleworld. A colecção de reinos que constituem Battleworld serão o foco, ao longo destes próximos meses, de múltiplas minisséries. Cada uma delas conta uma história singular que, contudo, não deixa de fazer parte do mosaico que é a nova realidade do universo da Marvel. 

O macro-vento de 2015 da editora americana de BD Marvel, Secret Wars, continua a somar semana em cima de semana não só da minissérie principal, onde testemunhamos as tragédias do maior vilão deste universo de fantasia, o Dr. Destino,  como em outras séries que focam os referidos diferentes reinos de Battleworld. Cada uma destas, que podemos chamar de auxiliares mas são mais complementares sem serem essenciais, faz parte de um conjunto que podemos classificar usando os nomes de personagens ou grupos de personagens que constituem o mosaico que é o universo fictício da Marvel. Temos o conjunto do Homem-Aranha, dos Vingadores, dos X-Men, do Hulk, dos "carta-fora-do-baralho" e do universo Ultimate. Esta semana, decidi usar esta abordagem para simplificar a tarefa da apreciação do que foram as várias minisséries auxiliares de Secret Wars.

Homem-Aranha

Deste conjunto, em termos de qualidade, destaco o trabalho de Slott e Kubert em Spider-Man: Renew Your Vows. Ambos os artistas conseguem agarrar em dois conceitos vilificados, o casamento de Peter Parker e Mary Jane e o nascimento da sua filha, e torná-los relevantes, emotivos e empolgantes no contexto da narrativa. Continua a ser um dos títulos mais valorosos de Secret Wars e prova de que Slott, mesmo depois de tanto que já escreveu, ainda tem muito o que dizer sobre o Homem-Aranha e a sua mitologia. Os outros dois títulos, Spider-Verse e Spider-Island, não sendo totalmente maus, também não oferecem (ainda) nada de relevante.

Vingadores

É sob esta bandeira que aparecem algumas dos mais interessantes minisséries, nomeadamente, Civil War e Squadron Sinister. A primeira é novidade e re-imagina um mundo depois da conclusão muito diferente da famosa série da Marvel onde o Capitão América e o Homem de Ferro eram antagonistas. Charles Soule continua a provar ser uma das mais interessantes imaginações desta nova leva de escritores da BD dos EUA. Squadron Sinister prossegue o que já havia inaugurado no primeiro número e com o mesmo nível de qualidade, algo que me surpreende no escritor, Guggenheim, ainda que não no desenhista, o espanhol Pacheco. Ambas as minisséries fazem bom uso desta nova realidade do multiverso Marvel para construir não só boas histórias com personagens antigos, como contos com alguma relevância moral. 

A-Force e 1871, por seu lado, pouco ou nada me disseram.

X-Men

Deste grupo, destaco Age of Apocalypse e Inferno , já que Days of Future Past e X-Tinction Agenda ainda não me satisfizeram a curiosidade. Inferno, como já tive oportunidade de escrever, oferece não só uma pequena viagem a momentos divertidos da juventude como uma história que, não sendo profunda, continua a ser bastante divertida. Cheia da típica tragédia Claremontiana (Chris Claremont, para quem não sabe, é a uma das verdadeiras cabeças por detrás do mega-sucesso que são os X-Men), acompanha personagens como Colossus e Magik, enquanto caminham inexoravelmente para um destino sem dúvida cheio de horizontes negros.  Por seu lado, Age of Apocalypse faz-me regressar a uma das sagas pós-Claremont da qual guardo melhores recordações (e um dos moldes do qual nasceu o conceito por detrás deste Secret Wars de 2015). Apesar de não ter particular fé na escrita de Nicieza aqui fez um trabalho competente.

Hulk

Com apenas uma série esta semana, Future Imperfect, continua ser uma das melhores. David e Land fazem um trabalho divertido, cheio da ironia mordaz do primeiro e dos agradáveis visuais do segundo. E é sempre bom ver o Hulk e o Coisa à porrada, mesmo não sendo as versões clássicas.

Carta-fora-do-baralho

Destaco Master of Kung Fu e Red Skull. O primeiro reinventa toda a panóplia de conceitos por detrás da mitologia de artes marciais da Marvel, desde o titular Mestre do Kung Fu até Punho de Ferro, de uma forma tão agradável que esperávamos que não acabasse finda Secret Wars. Red Skull era algo que sobre o qual não tinha qualquer tipo de expectativa, acaba por ser um primeiro número muito interessante ao nos dar uma visão diferente de um dos únicos personagens da Marvel que pode rivalizar em vilania com o Dr. Destino.

Mrs. Deadpool and the Howling Comandos é um presente leve e humorístico sem ser genial. Ghost Riders  é mediano.

Ultimate

Esta é uma daquelas minisséries verdadeiramente essenciais, principalmente para quem quiser saber o destino final deste universo onde existiram desde 2000 versões alternativas do Homem-Aranha, Vingadores, X-Men, etc. O trabalho de Bendis e Bagley está a meio caminho entre o inspirado e o competente, mas tendo em consideração estes dois talentos isto não é propriamente uma crítica. Continua a ser uma narrativa forte, se bem que fortemente alicerçada no conhecimento prévio e profundo do que veio antes. Não é um leitura fácil para o leitor ocasional, ao contrário das outras minisséries. Apenas para doutorados.

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