À semelhança do que fez no ano passado com os Guardiões da Galáxia, a Marvel aposta num personagem menos conhecido do seu repertório para um filme de Verão. Este ano já serviu aos fãs e aos accionistas uma dose cavalar de droga super-heroística com os Vingadores e, portanto, pode dar-se ao luxo de tentar "propriedades menos arriscadas". As aspas são para fornecer alguma ironia à frase porque, na realidade, este é um risco muito bem calculado pela Marvel/Disney. Primeiro, porque este filme está muito bem alicerçado no universo cinematográfico que estão a construir desde o primeiro Iron Man. Segundo, porque o realizador não é propriamente um autor que se gabe de o ser, antes prefere algum tipo de deferência a uma linguagem instituída pelos estúdios. À boca pequena há quem diga que Edgar Wright, o realizador originalmente escolhido para este Ant-Man, saiu devido a diferenças criativas e nós sabemos que essas inevitavelmente gravitam para a forte interferência dos produtores na linguagem autoral - uma velha rixa que, inclusive, tomou como vítima Joss Whedon, o realizador dos dois primeiros Vingadores, que se queixou de muita interferência neste último. De facto, nota-se a tal "linguagem" de estúdio, uma sobriedade quase-baunilha (não aquece, nem arrefece), pontilhada por humor em doses certas, calculadas.
Ora, pela conversa acima, poder-se-ia dizer que não gostei do filme. Não, pelo contrário, gostei bastante. A isso devem-se várias coisas. Primeiro, uma história que possui algum do código genético do primeiro realizador, Edgar Wright, com um sentido de humor mais adulto e cáustico. Segundo, um excelente casting em quase todos os actores, principalmente Paul Rudd, Evangeline Lily (como gosto dela) e Michael Douglas. Terceiro, um personagem para o qual são dirigidas expectativas baixas e que acaba por surpreender. A história envolve quase todos os grandes nomes da mitologia da BD associada ao Homem-Formiga: Hank Pym, o Homem-Formiga original, interpretado por Douglas; Scott Lang, o segundo e protagonista deste filme, vestido por Rudd; o Jaqueta Amarela; e até a Vespa (reparem que não revelei grande coisa em relação aos dois últimos nomes - bem visto, fazem parte das surpresas do filme). Essa ligação às histórias originais é interessante e, apesar dos fortes desvios, acaba por não ofender e antes divertir. O vilão é, uma vez mais, o elo fraco da história, não passando do básico e essencial misturado com alguma psicologia de pacote (mas há coisas piores). Este é um filme do protagonista e ainda bem. Paul Rudd é uma escolha perfeita para o underdog, um tipo de personagem que os estado-unidenses tanto apreciam, e que neste actor assenta na perfeição, com charme e empatia.
Um filme interessante, divertido, que poderia ter sido outra coisa nas mãos de um realizador menos meio-termo. A Marvel tem que começar a melhorar a sua performance. As minhas esperanças estão muito atiçadas pelo meu filme mais esperado, Batman vs Superman, e pelo trabalho de Snyder nesse mesmo filme. Parabéns, Marvel, mas é chegada a altura de começar a agitar as águas. Escolher um personagem menos conhecido é bom, mas há espaço para mais.
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