Secret Wars (2015), número quatro.

(contém spoilers dos três primeiros números da minissérie)

Agora que os três primeiros números do evento de 2015 da Marvel preocuparam-se em destruir o anterior multiverso Marvel, em colocar Victor Von Doom como Deus e em descrever este admirável novo mundo, Battleworld, podemos então passar à acção. Ou, como diz a outra, a coisas sérias. Eu sou fã de combates tanto quanto qualquer outro "verdadeiro" fã de Banda Desenhada de super-heróis, principalmente quando explorados para lá do "violence-porn" que tantas e tantas vezes dissemina-se pelas artes que advêm do outro lado Atlântico. Depois dos dois números que antecederam este quarto fiquei mal habituado por Jonathan Hickman. Gostava que tivesse um pouco menos de acção e mais de exploração da personalidade, conflitos e tragédias dos principais actores no drama que se tem vindo a desenhar. Ainda assim, este é um capítulo absolutamente necessário para o avançar da trama, servido com alguns momentos choque inesperados e relevantes para o enredo. Que posso dizer? O Dr. Destino nunca deixará de ser o Dr. Destino. E, nesse sentido, não deixa de ser mais uma linha de raciocínio sobre a fascinante personalidade do maior vilão do universo Marvel.

Esta minissérie principal do evento Secret Wars é, até agora, não só um conto de repercussões cósmicas e transversais à História do universo fictício da Marvel, mas também uma calma reflexão sobre a personalidade e motivação do seu personagem principal, o Dr. Destino. Ele não é apenas o móbil mas também o enfoque. Isto revela a força da criação de Stan Lee e Jack Kirby bem como dos artistas que se lhes seguiram. Um vilão ter esta relevância deve ser a norma e não apenas a excepção, como tantos exemplos da melhor literatura mundial atestam. O adversário é muito mais que o reflexo distorcido da missão do herói, ele próprio é o espelho da Humanidade e, mais importante, um personagem único em toda a sua glória. Não é tanto apenas um arquétipo mas um indivíduo. Os artistas que têm trabalhado com o Dr. Destino têm feito, regra geral, um bom trabalho. Hickman é apenas o mais recente e, quem sabe, um dos grandes.

Neste número, o trabalho de Esad Ribic continua claramente acima da média, ainda que se note já um pouco a pressão dos prazos de entrega. Felizmente, a velocidade da minissérie irá abrandar do quinzenal para mensal, deixando mais tempo ao artista para destilar todo o seu talento para a página. Aguardo com antecipação o número que segue, já que Hickman revelou tratar-se de um dos mais importantes capítulos da macro-saga que pretende concluir com Secret Wars e que iniciou na run  dos Vingadores. Curioso que a planeada intenção de destruir o universo Marvel tenha começado como um conto dos maiores heróis deste mundo e acabado com um foco no Quarteto Fantástico e no seu maior inimigo. Hickman é o consumado planeador de muito longo prazo - não nos esqueçamos que durante muitos anos escreveu  a primeira família da Marvel.

Sem comentários: