Rai’s parta ao diabo, ou melhor, ao Demolidor, que ultimamente é difícil de ser mau. Quer seja a lê-lo ou a vê-lo. Há 15 anos consecutivos que a Marvel não consegue publicar más histórias deste personagem (OK, o esforço do escritor Andy Diggle não foi dos melhores mas, ainda assim, superior à média). Começou com a dupla Kevin Smith/Joe Quesada, continuou com o último e David Mack (que até vai ser publicado em Portugal pela Levoir na sua nova coleção), a fabulosa e muito essencial saga de Bendis/Maleev, seguidos, em catadupa, de Brubaker/Lark e Diggle (com vários desenhadores). Esta “fase” foi longa, deprimente, negra e assustadoramente boa, porque bebia da pesada e nobre herança do segundo e talvez “verdadeiro” criador do Demolidor, Frank Miller (já falo mais dele). Depois de tanta tragédia, a Marvel decide ir por um caminho diferente, entregando o personagem ao escritor Mark Waid, que tem feito um trabalho extraordinário, declamando palavras que, bem misturadas, formam alguns dos melhores contos feitos para o Homem Sem Medo. Perdeu muito do ambiente noir que caracteriza o personagem desde que Frank Miller o fez seu e bebe mais da herança super-heroística. Contudo, e aí reside a arte de Waid, sem se afastar da aura fatalista que agarra Matt Murdock desde há muito.
Waid está na recta final da saga
e, tradicionalmente para este personagem e ainda bem, a Marvel tem deixado em paz os
autores que lidam com o Demolidor
(excepto por um leve crossover com um evento num destes dois livros). Podemos, assim, saborear e sem molhos
o prato desenhado pelo escritor. O personagem é, de facto e salvo as
devidas distâncias, o Batman da
Marvel, em que a visão do autor consegue moldar-se em volta do personagem sem perder
identidade, quase como se todos quisessem deixar a sua impressão digital, não
tanto na personalidade do Homem sem Medo
mas antes no seu historial. Há personagens com essa sorte, em que a
continuidade não os afecta e para os quais há espaço para a individualidade.
Continuem a deixar o Demolidor em paz
que nós agradecemos.
Os fãs como eu deliciaram-se com
as interpretações de D’Onofrio como Fisk,
Charlie Cox como Demolidor, Deboral
Ann Woll como Karen Page, Elden Henson
como Foggy Nelson, Rosario Dawson como
Claire Temple, a Night Nurse, e, a minha favorita, Ayelet Zurer no papel de Vanessa, a amada de Kingpin. De facto, tenho dificuldades em encontrar falhas nesta excelente
série, que quase me levou às lágrimas. Desde estes maravilhosos actores ao
burilado e inspirado argumento, que bebe sem reverência escusada à BD, principalmente
aquela que “interessa”, a de Frank Miller, tudo é bom, cuidado. Venha a
2.ª Temporada que mal posso esperar.
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