August: Osage County de John Wells


Vou já despachar e dizê-lo. Este é um filme de atores. O realizador é apenas competente. Aponta a câmara, grita “ação” e deixa que as atrizes (sim, no feminino) façam o seu trabalho. Escrever no título deste post que o filme é “…de John Wells” cheira quase a teimosia – ainda que, na realidade, não o seja.

Este é um trabalho de representação baseado num argumento recheado de diálogos e personagens gordos de carácter. E é o trabalho (impressionante) de Meryl Streep e, em menor medida mas não menos relevante, de Julia Roberts. Num mundo justo, haveria óscares para estas duas senhoras, a par dos que foram entregues às também merecedoras Cate Blanchett e Lupita Nyong’o.

Estamos a falar de uma peça de teatro adaptada pela própria dramaturga, Tracy Letts, e, à semelhança dos filmes A Vénus de Vison e O Deus da Carnificina, nota-se que assim o é. Os espaços físicos são contidos (a maior parte das cenas passam-se na casa da família) e o enfoque é no esforço dos atores em construir personagens a partir dos diálogos. O virtuosismo da realização é deixado para trás para dar espaço à dramatização por força das qualidades de “fingimento”. Claro que John Wells poderia ter escolhido o caminho de Polanski ou de Baz Luhrmann no Romeu + Julieta mas, claramente, não foi essa a sua intenção (ou encomenda?). Para mim, é isso que faz com este não seja um grande filme, mas sim uma excelente oportunidade de ver o virtuosismo de Streep, Roberts, entre outras. São elas que fazem toda a narrativa, numa bravura e força que não escapa mesmo aos mais cínicos, aqueles que poderão dizer: “vê-se mesmo que é para óscar!”. Pode até ser… mas não é importante.

A história em si pouco ou nada acrescenta a milhentas outras iterações de famílias disfuncionais que se encontram após a morte de um patriarca e/ou membro avulso. Existem vários conflitos que são abordados e resolvidos… ou não. Os membros mais tradicionais entram em confronto com os mais modernos. Os mais velhos contra os mais novos. As eternas lutas geracionais. Num momento ou noutro, seremos obrigados a reconhecer uma ou mais similaridades com a nossa família. Inevitável como a sua sede.

Não é defeito. É feitio.


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