Viver é teimosia. Correr sempre
com um objetivo claro na linha do horizonte. Nunca parar. Perseverar na viagem
com um destino a vontade. Chegar ao fim, sempre, mas não ficar desiludido se o prémio
esperado não for exatamente o prometido. Abafar o ruído – e ele é muito – e seguir,
nem que seja pelo próprio pé, contra o bater do relógio, o som dos sinos das
horas. Prosseguir, nem que seja a arrastar-se pelo chão. Não deixar que o peso
de uma cabeça carregada de anos se imiscua na vontade. Descobrir novas
vontades, mesmo que as velhas já estejam alojadas como carraças no couro das
costas. Mesmo que o sangue que deveria estar no nosso corpo esteja antes a
alimentar as vontades que ali construíram casa. Chega dessas vontades. As que
interessam são as novas. As novas ilusões. Aquelas que nasceram do fastídio dos
infinitos segundos das originais, tempos que poderiam ter sido muito melhores. Mas
não foram. Mas no fim, o que interessa mesmo são quem carregamos na busca das
novas vontades. Os amigos. Os inimigos. Os filhos. As amantes. Os amantes.
Nebraska de Alexander Payne é o filme sobre um idoso que,
teimosamente, insiste em recuperar um milhão de dólares, que todos (suspeita-se
até ele) têm a certeza ser uma charlatanice. É a viagem que faz por vários
estados dos EUA, “carregado” pelo filho, na busca desse Graal. Hum… não, Graal
parece um exagero. Pensem numa busca mais simples. De um pacote de leite, por exemplo.
Mas esse pacote de leite é precioso, porque o pequeno-almoço do qual ele é a base
é o mais importante pequeno-almoço de todos. Permite que se aguente mais um ou
dois dias. Tanto faz. Apenas mais um ou dois dias. O que são dois dias? São mais
dos dias e, para muitos, é uma eternidade.
Um filme belo e, curiosamente,
doce, no meio de tanta rezinga e rugas. Importante, para todos os dias se seguem.
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