Wolf of Wall Street de Martin Scorcese (Lobo de Wall Street)

A relação simbiótica entre Leonardo DiCaprio e Martin Scorcese tem-se revelado progressivamente benéfica para os dois. Começou de forma fraquita com Gangs of New York e evoluiu para O Aviador e The Departed, este último aquele que finalmente deu o merecido óscar de melhor realizador a Scorcese - digo-o mais pela sua contribuição para o Cinema e não tanto pelo filme em si, que não apreciei por aí além – vejam antes trilogia original realizada em Hong Kong (leiam sobre ela aqui). A colaboração subiu uns valentes degraus com o maravilhoso Shutter Island e atinge a apoteose com este Wolf of Wall Street, uma prenda rara na época dos óscares, entregue com pompa, circunstância e recompensa. Desta vez, o que era prometido foi dado e Scorcese e DiCaprio confecionaram um prato absurdamente delicioso.

Há muito que não me ria tanto. Com a depravação, com os diálogos que um amigo disse-me serem quase-Tarantinescos – ele até tem razão (a conversa sobre anões) e, inclusive, existem situações dignas de um Pulp Fiction (DiCaprio a arrastar-se sob o efeito pesado de drogas é a mais óbvia). Ri-me com os excessos, com a imaturidade, com a incrível descompensação emocional destes putos cheios de poder e talento para fazer o que é profundamente errado em todos os níveis. Não só os emocionais, não só no relacionamento com os seus mais próximos e mais queridos. Falo do papel na sociedade que deveriam ter mas que, orgulhosamente, não têm. O personagem de DiCaprio afirma, e parafraseio, “o que fazemos não é do todo normal, mas quem é que quer pertencer ao mundo normal?”. Pouco do que estes seres humanos fizeram cai no reino do habitual e aceitável, portando-se antes como romanos numa nova Roma de deboche e excessos polvilhados de libertinagem.

Na batuta desta orgia está um maravilhoso Scorcese, capaz de superar, no excesso de velocidade da montagem, muitos dos jovens pretensamente elétricos dos dias que correm. Obviamente que a mestria de Scorcese  (que até nem é dos meus realizadores favoritos) não se revela apenas no ritmo epiléptico, mas também na cuidada manutenção de um ritmo moderno e vertiginoso, as três horas dos filme passando sem fastio, cada frase e cada cena a conjugação de melodias de uma sinfonia belíssima, divertida, inteligente e com alta capacidade de nos entreter. Parece que existe um diálogo perpétuo entre os atores, o realizador, o escritor, a montagem, e claro que há, como em tantos outros filmes, mas neste parece melhor, mais perfeita, mais cuidada, mais experiente. Estamos a falar de um realizador que anda nestas andanças há mais de quatro décadas e um ator que, paulatinamente, tem construído uma carreira sólida.


Ainda bem que estes dois meninos se encontraram (porque é de garotos que, felizmente, continuamos a falar). Os cinco filmes que já fizeram juntos podem ter começado  de forma menos famosa (pelo menos para mim), mas se a evolução continuar nesta progressão De Niro que se cuide (calma, esta frase foi feita apenas para efeitos dramáticos, porque Taxi Driver continua a ser a maior de todas as obras de Scorcese).

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