Colecção DC Levoir/SOL – 6.º Volume: Liga da Justiça e Sociedade da Justiça

(Prometo informar os menos conhecedores acerca da acessibilidade desta colecção de BD, ou seja, se é fácil ou não ler sem saber mais coisas)
Grau de acessibilidade: Difícil mas…
Sai Sexta-feira, dia 3 de Janeiro, junto com jornal SOL e custa 8,9€

Existem aqueles que olham para os super-heróis e têm a impressão de se tratar tudo do mesmo. Nada poderia estar mais longe da verdade. Podemos começar pelas substanciais diferenças entre a Marvel e a DC Comics, engano que, aliás, foi alvo de uma microscópica polêmica aquando da estreia do último filme do Batman, com um crítico de cinema de um famoso jornal a afirmar que não existe distinção significativa entre os personagens destas duas editoras. Este volume da coleção da Levoir exemplifica na perfeição uma das diferenças fundamentais entre as duas e entre a multidão de personagens que pululam os respetivos universos.

Na DC Comics os variados heróis formam uma enorme família, com relações afetivas profundas e complexas, com todos os predicados e defeitos que estas ligações acarretam. Na Marvel, essa noção de família é bastante diferente, havendo conflitos de variadas origens entre os vários personagens, diferenças filosóficas profundas que muitas vezes criam cisões e fronteiras veementemente definidas. Obviamente que, com mais de sete décadas de histórias, as fronteiras foram se esbatendo e reconstruindo diversas vezes, mas as diferenças fundamentais ressurgiam ciclicamente, muito por culpa dos diferentes autores que neles iam trabalhando. Cada nova geração de criadores trazia algo de novo e algo de velho, e as recordações de juventude impregnavam-se no enredo ou história que contavam. Geoff Johns, o escritor por detrás das histórias aqui inseridas, é apenas mais um deles, ainda que um dos mais famosos e bem-sucedidos da última década. Johns notabilizou-se por ir ao baú de antigas histórias, dos antigos personagens e das antigas sensibilidades e mesclá-los com o seu muito próprio modernismo, tendo sido responsável não só pela evolução, deste princípio de século, de variadíssimos personagens da DC (Lanterna Verde, o exemplo mais conhecido e querido de muitos fãs de BD, e já publicado nesta coleção), como de todo o universo da editora.

O trabalho que o conduziu, pela primeira vez, para a perceção dos fãs, está parcialmente incluído neste novo volume da coleção da Levoir, especificamente a relativo à Sociedade da Justiça da América. Este grupo de super-heróis é, basicamente, o mais antigo do género na BD americana, e cujas origens remontam à década de 40, quando a editora DC da altura decidiu reunir numa mesma história os seus variadíssimos personagens, obviamente com a clara perceção de que os leitores estariam particularmente interessados nestas aventuras, o que veio a revelar-se um providencial sucesso imediato. Nos fins da década de 50, após um período de seca no universo dos super-heróis que incluiu o cancelamento das histórias da Sociedade, o conceito de um grupo destes personagens seria retomado com o surgimento da Liga da Justiça, herdeira filosófica da anterior, onde se reuniam os maiores nomes da editora: Super-Homem; Batman; Mulher-Maravilha; Flash; Lanterna Verde; Aquaman; Caçador de Marte. Mas a Sociedade da Justiça regressaria (os autores que haviam apreciado as aventuras na sua juventude são sempre os culpados) em reuniões anuais com a congénere mais moderna, encontros que se repetiriam ao longo dos anos e onde a noção de família e amizade tinha tanta importância quanto a crise que eles tinham de enfrentar. Estes encontros, no unierso pós-Crise nas Terras Infinitas, seriam objeto de um hiato, mas acabariam por regressar e exatamente com a primeira história publicada neste volume da Levoir, a que lhe dá nome, Virtude e Vício. Johns, como já referi, começou a ser conhecido com a sua run na nova iteração da Sociedade da Justiça, e este é apenas mais um capítulo na sua longa experiência com estes personagens.
Acompanhar estes encontros é sempre uma delícia para os fãs de BD de super-heróis, que gostam das suas páginas recheadas de múltiplos personagens garridamente coloridos a enfrentar vilões maiores que a vida, personificações do Mal mais puro e “sublime”. Este não será o volume mais fácil de acompanhar na medida em que alude a variadíssimos eventos e personagens de histórias anteriores, mas vale a pena acompanhar pelo valor de entretenimento puro e operático. E, claro, existe sempre esta nota que coloco no final de todos estes posts.

Nota – Não partilho da opinião que tem de se saber tudo para acompanhar bem uma história. Parte da “magia” da BD americana reside na descoberta posterior, na paciente reconstrução do puzzle. Mas para aqueles que não têm tempo e paciência aqui fica este meu pequeno esforço.

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